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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Meneghetti: no Dops, salva pelo U do nome?

Zilda Meneguetti, nome de solteira, é minha mãe. Na década de 60 e perto dos 20 anos a então empregada doméstica com sotaque do norte do Paraná, Sertanópolis, vivia suas histórias. Cresci cercado por elas, sempre marcadas por uma narração precisa, com detalhes e ambiente. Um desses causos da minha infância é sobre Gino Meneghetti (1878-1976), o ladrão italiano que marcou época em São Paulo por seu estilo particular de assaltar, ganhando fama por seus roubos e fugas espetaculares.
Apelidado de “o bom ladrão” e tendo o mesmo sobrenome de minha mãe, nunca tivemos certeza se era ou não nosso parente. Dona Zilda soube de sua existência no lugar mais inóspito possível, o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Ao chegar com uma amiga para tirar a identidade o enquadro: “A senhorita conhece ou é parente do Gino Meneguetti?”, perguntou o Feijoada, nome do fulano responsável pela emissão do documento. “Quem?”, respondeu.
Detida por 6 horas para averiguação, o tal do Feijoada, um “negro miúdo”, achou que ela podia estar acobertando o bandido histórico, que havia fugido mais uma vez da cadeia. Após interrogatório no qual só não perguntaram para qual time de futebol torcia a liberaram com o argumento. “É, você não tem cara de malandra e sua certidão é MenegUetti e não MenegHetti. Essa H salvou você”.
De fato, o U e o H são letras distintas no sobrenome de ambos. A argumentação do Feijoada é que me intrigou. Bem sabemos que erros são comuns em registros de nomes. A dúvida do parentesco permanece. Sorte da minha mãe que se livrou do infeliz e nada sofreu, uma raridade naqueles tempos. Afinal, ser ainda uma menina numa época de repressão braba pode tê-la ajudado. “Lembro que o Feijoada queria colocar, depois de tudo, azul como cor dos meus olhos. São verdes. Quer dizer, fico detida e ele ainda quer mudar a cor dos meu olhos no documento?”, lembrou minha mãe. A identidade ela tem guardada até hoje. Precisou, depois de mais de 40 anos, tirar uma nova para poder receber sua aposentadoria.

“Meneghetti, honestamente ladrão”
Essa história trago para refrescar as memórias da infância e indicar que Mouzar Benedito lança, nesta quinta-feira, 28 de janeiro, na livraria da Vila, a partir das 19h, o livro de sua autoria com pesquisa de Antonio Biondi e Marcel Gomes, intitulado “Meneghetti, honestamente ladrão”. Lançado pela Boitempo Editorial, o livro traz ainda uma história em quadrinhos de Luiz Gê - que inspirou o curta-metragem de Beto Brant - publicada no jornal Versus em 1976. O livro (136 páginas) faz parte da coleção Pauliceia, coordenada por Emir Sader. A Livraria da Vila fica na rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena, São Paulo, SP. O telefone é: (11) 3814-5811.

Documentário: Dov´è Meneghetti?
Beto Brant (1989/12 minutos)
"Minha primeira visão do mundo foi a cidade de Pisa, com sua torre inclinada. Tal como a torre, também o meu destino estaria sempre inclinado, cai-não-cai

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