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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Cooperifa

Vai no clichê mesmo. O coração de São Paulo pulsando, com uma alegria pra mim inesperada. Foi isso que vi no sarau da Cooperifa.

Os poetas, todos intitulados “grande guerreiro”, vão se sucedendo ao microfone plantado no bar do Zé Batidão, com o salão apinhado desses personagens que parecem replicados aos milhões na megalópole. Ninguém mencionou o detalhe da “ocupação principal”, mas o jeitão é de trabalhadores de zero a três salários mínimos.

O tema é o de sempre da poesia: a dor de viver, ali temperada com os sacrifícios da pobreza e da dureza da periferia. A denúncia verborrágica dos rappers, os versos puritanos do marido apaixonado, a musa negra atacando de “canto das três raças”, a mãe adolescente rasgando sua vida invadida e alertando as amigas a usar preservativo, o agitador cultural popular lembrando paixões malditas, jovens gritando sua impotência diante da engrenagem urbana que os tritura, uma lista enorme.

Duas horas e meia de literatura declamada sem pose e sem afetação. Mas com uma alegria, um brilho nos olhos, uma altivez que são como proteína na veia.

Acabou às onze em ponto, hora de trabalhador ir dormir, pra começar tudo de novo na manhã seguinte, bem cedo. De novo, mas com esse frescor de ter se visto e se gostado nos versos escritos em folhas de caderno.

Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna quinzenal De um tudo no NR.

15 comentários:

coresentrenos disse...

Me senti no batidão, no meio do agito e em contato, bem familiar, com os personagens.
Muito legal.
Gostei!
bjo
Soraya

Bel Clavelin disse...

Bacana, Puglia. VcÉ a vida como ela é. Agora, você tem que escrever toda a semana! Não vale deixar tuas leitoras sem texto.

nair benedicto disse...

A cooperifa é tudo de bom!Merecia mais e mais divulgação.Começaram com poesia, mas agora ja tem cinema na laje e teatro. É alentador!Junia,minha mais querida chefa, tão bom ler voce nos transportando à noitada na Cooperifa!!! Quero mais!!!saudades!

Anônimo disse...

Um presente, Junia!
Obrigada!
Carol

Dirce Puglia disse...

Parabéns, Junia. Você me fez ver a cena,tal a clareza da descrição. Volte toda semana.
Bjs Mummy Dircim

Tâ disse...

Ju, tb me senti lá, irmanada c/ aquela gente simples e honesta. Obrigada pelo passeio!

Fernando Evangelista disse...

Que texto lindo!

Anônimo disse...

Bonito mesmo! Mais.

harmonicabrasil disse...

Também quero mais. Que tal toda semana, todo dia... Fôlego e talento não faltam. Aliás, aproveito para saudar também Bratislava. Nunca é tarde para se celebrar bons textos, tão raros no cotidiano.
Obrigado, amiga.
José Humberto Fagundes

Júnia disse...

Zé Humberto, Nair, pessoas queridas todas que estão me acompanhando, pessoas que não conheço: obrigada, obrigada.

Anônimo disse...

quero uma carona nessa barca, júnia! obrigada! inês castilho, com um abraço para nair benedicto

Anônimo disse...

Júnia: você é gênio... seus textos prescidem de comentários.
Por gentileza da minha sobrinha Any Raquel fiquei sabendo do seu Blog. Obrigada
Qualquer coisa é só perguntar para AR.

Lecy

Houston,tx.

Anônimo disse...

Errata.

júnia: na palavra prescindem (sem querer) faltou a letra "n".
Sorry!
LECY

Anônimo disse...

Excelente! No entra enseguida para quien no habla la lengua ni conoce Cooperifa, hay que degustarlo de a poco, como saboreando un bocado que se va poniendo delicioso...
Norma

Elezer Jr. disse...

Valeu, Junia: gostei muito de saber da existência desse tipo de manifestação cultural em Sampa. Que pena que, quando eu morava lá, ainda não existia uma Cooperifa. Eu tinha que me contentar com uns repentistas que a gente encontrava no Jardim da Luz, nas praças da Sé ou da República. Continue contando de um tudo!

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