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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Colecionando pérolas

Se tem alguma coisa de que posso me gabar na vida é ter conhecido muita gente interessante nessas já mais de três décadas de existência. O fato de ter me mudado muito, de ter viajado bastante e também a profissão que escolhi acho que ajudam, mas creio mesmo que tenho um imã pra atrair gente bacana. E nesses encontros, nessas andanças, eu vou, como posso, colecionando pérolas alheias. Pensamentos de uma profundidade e clareza que espantaria os filósofos gregos e que são ditos em uma mesa de bar, numa conversa durante uma comida, num café no intervalo de uma aula ou trabalho; ditas, dizia eu, como quem pede uma cerveja mais (trincando, por favor!).

Como já disse em texto anterior, sou totalmente favorável à apropriação de ideias alheias, quanto mais quando elas podem acrescentar algo à vida dos demais. Posto isso, trago à colação algumas dessas pérolas que fui recolhendo pelo caminho.


Da ditadura da felicidade

Tese que escutei de uma amiga, mas que na realidade era de um terceiro, motivo pelo qual me sinto livre pra teorizar sobre sem muito medo de não estar sendo fiel ao original. Pois a ditadura da felicidade é resultado desse mundo em que vivemos, o mundo das aparências. O povo taca botox na cara pra ficar parecendo mais jovial, mais belo e, por consequência, mais feliz. E fica mais estragado, feio e com cara de nádega (sim, porque bunda pode ser, e muitas vezes é, bonita). Neguinho só coloca foto supimpa no facebook, onde todo mundo exala alegria e beleza, e sempre faz programas interessantes e divertidos com seus centenas de amigos gente fina. Enfim, a teoria é de que hoje em dia somos obrigados – assim como o capitalismo nos impõe o consumo desenfreado – a ser felizes. Pois não nos dobremos, há espaço no mundo para a melancolia, a tristeza e a contemplação. Contra-ataquemos!

Da simpatia suspeita

De certo modo relacionada com a teoria anterior, diz respeito àquelas pessoas que estão todos os dias e o dia todo “felizes”. Sempre sorridentes, sempre solicitas, olham nos teus olhos quando perguntam se está tudo bem. Pois bem, suspeite! Ninguém é feliz 24 horas por dia. Essas pessoas são as que estão em um jantar, dizem que vão ao banheiro, e se trancam para chorar e se entupir de medicamentos, para logo voltar à mesa com o sorriso mais artificial do planeta. Há que desconfiar desses simpáticos!

Sobre o imbecil com atitude

Os imbecis com atitude são um perigo. Estão em todas partes e são facilmente identificáveis. Exemplo foi o garçom que tentou passar meu cartão de crédito diversas vezes sem conseguir que fosse lido. Até que em um momento passou com tamanha forca que simplesmente partiu-o ao meio. “Não há nada pior do que um imbecil com atitude”, sentenciou meu amigo Santiago, um verdadeiro pensador pós-moderno. Moral da história: nunca dê nenhum tipo de poder a um estúpido pró-ativo. Caso ele já o tenha, manter distância.

Das misérias humanas

Caetano disse que de perto ninguém é normal. Um amigo mexicano fala que todos somos miseráveis e que essas misérias você vai descobrindo quando conhece melhor as pessoas. Pois as misérias humanas são essas fraquezas que escondemos. O professor renomado que não consegue se controlar diante de uma saia. A mulher linda e sedutora incapaz de se desvestir diante de um homem. O “amigo” que torce contra você por que todos merecemos uma vida de merda, como a que ele criou para si. Essas mazelas, meus/minhas car@s, há que combatê-las; se não for por caridade, que seja porque um dia os miseráveis tocarão nossas portas, saquearão nossas dispensas e, famintos, comerão da nossa bondade.

segue… (ou não)

Ricardo Viel, jornalista, colunista do Purgatório e do NR, escreve às segundas, direto de Salamanca, Espanha.

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