Terminada a guerra, a história também é velha, os generais ganham nomes de ruas, praças, pontes, elevados. Entram nos compêndios escolares. Já a soldadesca cai no profundo anonimato. Ao menos, social. Porque, evidente, os soldados seguem nos corações dos seus.
Em tempos de paz, os civis também fazem coisas parecidas. Mesmo a esquerda, tradicionalmente comprometida com a justiça e a igualdade, comete seus pecadilhos. Por exemplo, quando ela dá força ao culto de seus líderes, ignorando seus soldados.
Nesse caso "soldado" corresponde a centenas, às vezes milhares, de militantes do cotidiano dos movimentos sociais. O pessoal que dedica a vida à construção de um mundo melhor. Que pavimenta a estrada onde os líderes passarão com notoriedade.
Todos sabemos muito do Che Guevara. Como ele era, do que gostava, do que não gostava. Seu rosto é tão conhecido quanto o da Mona Lisa. Você já parou para pensar quantas camisetas existem no mundo com a estampa do Che? Deve ser da ordem de milhões.
Mas pouco ou nada sabemos dos rostos e nomes dos camponeses que lutaram ao seu lado. Nas cidades, os fatos são semelhantes. Líderes que construíram suas histórias apoiados pela base, de repente se entopem de doril quando desembarcam no Poder.
Penso que talvez a plataforma internet seja, no longo prazo, capaz de reparar essa injustiça com os soldados anônimos – mulheres e homens – de todas as lutas. Pois pela primeira vez, na longa evolução da informação e da comunicação, é possível conhecer não a história de um, mas a história de muitos.
Mais ousado ainda: é possível que cada um registre a sua versão dos fatos. Defenda seu ponto de vista. Só assim, uma história repetitiva e personalista terá chance se tornar criativa e coletiva. Oxalá!
fernanda pompeu, webcronista do Yahoo e colunista do Nota de Rodapé, escreve às quintas. Fernando Carvall, ilustração especial para o texto
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