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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Escrevo-te estas maltraçadas linhas, meu amor

Erasmo e Roberto (ao centro)
Toda hora ouço por aí o pessoal da minha idade contando como os Beatles e os Rolling Stones foram e são importantes na sua vida, como suas canções e modelitos influenciaram seu pensamento e comportamento etcétera e tal.

Eu só percebi a existência deles quando já era adulta, e até hoje conheço apenas as músicas mais tocadas dos Beatles e quase nada dos Stones. Sem falar na Bossa Nova, que só fui perceber e entender muito mais tarde.

É que eu nasci e vivi até os dezessete anos no interior de São Paulo. A vida de criança ia indo, até que, quando eu tinha uns sete anos, a meninada enlouqueceu com uma onda irresistível de alegria e energia chamada Jovem Guarda. Da noite pro dia, Roberto Carlos ocupou todos os espaços, com sua imbatível “Quero que vá tudo pro inferno”. Em seguida, muitas outras canções, franjinhas, calças de napa, guitarras e um romantismo rasgado, cheio de ritmo.

Fomos instantaneamente seduzidos pela novidade. As fofocas, cumplicidades, parcerias e rivalidades passaram a fazer parte da nossa vida. O rádio ligado na cozinha era a senha pra que minha irmã e eu nos juntássemos à querida empregada Jacira numa cantoria que era pura felicidade.

As famosas tardes de domingo eram mágicas. Era o tempo da “televizinho”, e, mal terminava o almoço, lá íamos nós, correndo pela rua, para a casa do quarteirão que tinha o equipamento essencial. Juntava um monte de gente, como se fosse um auditório mesmo, e curtíamos cada minuto de Roberto, Erasmo, Wanderléia, Martinha, Os Incríveis, Paulo Sérgio (o rival), Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Silvinha e tantos outros. Todos eram estrelas da revista InTerValo, outra grande companheira.

Enquanto a galera cosmopolita cultuava John Lennon e sua turma, pra nós fazia muito mais sentido o provincianismo pseudo-rebelde gerado em Cachoeiro do Itapemirim, claro. E era muito bom. O banquinho e o violão também pertenciam a outro planeta. Quando, lá pelos quinze anos, vi no programa de Flávio Cavalcanti uma gincana que exigia que os grupos cantassem “Desafinado” sem errar a letra, eu não tinha a menor ideia de que música era aquela. Lembro que achei o título engraçado e que falava de uma “roleiflex”, que eu não sabia se era de comer ou de beber.

Acabo de me dar conta de que a Jovem Guarda é a lembrança mais alegre, vibrante e cálida que tenho daqueles tempos. Quando adolesci, a MPB falou mais alto e a “música-cabeça” ocupou o lugar das namoradinhas, calhambeques e pare agora. Em plena ditadura, passou a fazer muito mais sentido que a doce e ingênua alienação de antes.

Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo no NR.

8 comentários:

Shirley disse...

cadê a mummy Dircim?? tá dormindo mummy?? bora comentar! :)

coresentrenos disse...

Peguei um banquinho e sentei na beira de um caminho e revi as estradas de Santos. Por favor, pare agora, e me deixe curti as lembranças com muito carinho.
Na próxima segunda faço aniversário, mebsenti presenteada com suas palavras. Percebi que a felicidade não foi embora, só se transformou em pedaços de mim.
Bjos com gratidão.
Soraya

Pastora Leila Müzel dos Santos disse...

A coluna como sempre deliciosa nos remetendo a tempos memoráveis com graça e leveza no estilo da escrita, e o comentário acima deu o toque nostálgico aos sentimentos que afloram das doces lembranças... e cadê a mummy Dircimmmm ??? bjks

disse...

Mummy Dircim está viajando! Ju, q delícia essa volta q vc me proporcionou a minha juventude! Tb curti muuuuuuito aquelas tardes de domingo com Roberto Carlos e companhia! E depois vieram Elis Regina e Jair Rodrigues...

Anônimo disse...

Ju, vc tb é uma brasa, mora, garota papo firme! Adorei essa viagem de volta a minha juventude! Beatles e Rolling Stones p/ nós, numa cidadezinha mineira, eram coisa q nem conseguíamos pronunciar, muito menos cantar! Suas crônicas sempre me tocam muito! Brigadão! Aguardo a próxima...
TERÊ

Monica Galvão disse...

Doces lembranças! Jovens tardes de domingo, velhos tempos, belos dias...
Emoção pura, Júnia!
Obrigada.
Monica

Anônimo disse...

Alô,comentaristas atentos. Já voltei de minha mini viagem de recordação dos velhos tempos. Não consegui parar para ouvir Roberto Carlos nem nada dos tempos idos.Só agora leio a crônica da Junia e a emoção me devolve aos tempos do interior, com minhas meninas adolescentes pulando na cosinha junto com a Jacira . Felicidade pura ! Júnia, é admiravel que você consiga colocar no papel as emoções de um coração juvenil pleno de alegria. Prossiga feliz assim por todos os seus dias. Beijos da Mummy Dircim;

Shirley disse...

Aeeeee, mummy Dircim arrasando de novo. Que bom ter seus comentários atentos e sensíveis por aqui. Continuaremos cobrando (percebi que não sou sua única fã) sua presença. Um beijo na mãe e na filha.

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