É preciso pensar além do dualismo saúde e doença |
Dito isso, espero que você leitor do Nota de Rodapé possa me ajudar a refletir, participando dos assuntos que vou passar a propor aqui, principalmente os relacionados a saúde, corpo, mente e cultura.
No primeiro semestre deste ano, por exemplo, a partir de uma palestra da Monja Coen, representante de uma tradição milenar, o Budismo japonês, discutimos os rumos que as nossas atitudes e o conceito de saúde estão tomando na atualidade. É que o senso comum tende a pensar a saúde a partir de algumas premissas:
1 – Saúde é um conceito que se contrapõe ao estado de doença, ou seja, ter saúde é não estar doente;De uma forma bastante clara e simples, as palavras da Monja durante a palestra colocaram pontos de interrogação nessas ideias. Te pergunto, caro leitor, será que realmente precisamos pensar a saúde em oposição à doença?
2 – O corpo físico é uma máquina que necessita funcionar de forma perfeita, ou dentro de certos padrões de “normalidade” (assunto que abordarei em outro texto);
3 – Usualmente pensamos a saúde a partir de uma perspectiva individualista, é sempre o sujeito o responsável e nunca uma questão coletiva.
A resposta não é automática. Segundo os princípios do Budismo, esclareceu a Monja, além da transitoriedade de tudo o que existe, temos a existência do sofrimento como condição inerente à vida. Ou seja, a vida de todos nós inclui a experiência da doença.
Vivenciar uma enfermidade não significa não ter saúde, essa é uma perspectiva menor e perigosa. Assumir essa ideia, veja só, significa abrir caminho para a medicalização excessiva, o abuso nas práticas esportivas e até mesmo o excesso em investigações e exames.
Nosso corpo é habitado pela impressão de tudo que nos “toca” e estar aberto a outras formas de pensar, como proponho, significa assumir um conceito de saúde capaz de contemplar a qualidade dos encontros que realizamos, seja com a natureza, objetos, ideias, pensamentos, imagens, fantasias, emoções, sentimentos e outros seres.
Qual o impacto desses encontros na sua subjetividade? Que tal pensarmos a saúde no território da intersubjetividade? Segundo a própria Monja disse, “nós intersomos”.
Portanto, treinar corpo e mente significa também perceber as nossas expressões emocionais e a forma como estamos nos comunicando com o outro. Saúde não é só uma questão de forma corporal, de padrões de normalidade, de índices disso ou daquilo, saúde não é algo que se tem, saúde é algo que se conquista a partir da nossa capacidade de compor forças com o outro, rumo a um mundo melhor para todos.
A medida ética dos cuidados com o corpo e a saúde não está na quantidade de exercícios que destinamos para esse fim, mas no sentido e no significado que essa prática assume.
Alexandre Luzzi, Professor de Educação Física, coordena o espaço Tai Ken, especial para o Nota de Rodapé
2 comentários:
Belo texto Ale. Estou tentando ficar mais ligado a qualidade de comunicação que temos hoje. É muito fácil passar horas conversando sem dizer nada, não escutar, ler e ouvir algo sem compreender.
Estou começando devagar, como uma criança que aprende primeiro a engatinhar para depois andar, começei escutando a mim mesmo e agora quero começar a ouvir mais a minha família e amigos. Um bom filme para lembrarmos da necessidade da boa comunicação é o filme "Reign Over Me"(REINE SOBRE MIM), é um filme americano de 2007, um drama protagonizado por Adam Sandler e Don Cheadle, escrito por Mike Binder e dirigido também por Binder, que faz parte também do elenco. Espero que gostem!
Muito inspirador! Em uma sociedade q rejeita qq forma de tristeza (seja qual for sua origem..física, mental, emocional...)....as mágicas pílulas para qq mal tem mto espaço.
Vera
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