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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 14 de março de 2013

Ton


por Ana Mendes*

Entra no bar, pede um cigarro avulso. A criança atônita, deixa a coca-cola de lado. Estava vendo um faraó egípcio de perto. Num impulso, pergunta: tu é homem ou mulher? Os pais rangem as cadeiras. É mais uma daquelas típicas situações em que as crianças colocam os velhos num beco sem saída. Constrangidos sorriem com as gengivas e deixam o olhar escapar em direção a porta da rua, não queriam estar ali.

– Sou os dois, diz.

– Pará piá, deixa o moço em paz!

– Mas por que eu pareço uma mulher? Insiste, a fim de conversa.

– Porque tu usa colar e short, isso é coisa de mulher.

– E homem?

– Tu tem barba. Meu pai tem barba.

– Sou homem e mulher no mesmo corpo. Faz tempo... Gostou da minha maquiagem?

– É bem legal.

– Qual é o teu nome?

– Ariel.

– E o teu?

– Akhenaton.

Este é Ton. Uma grande amiga que mudou a maneira como uso artigos e substantivos.


*Ana Mendes, gaúcha de nascimento, é fotógrafa e cineasta documental formada em Ciências Sociais. Mantém a coluna mensal Faço Foto e é curadora da coluna Coisa Íntima, autorretratos por fotógrafos profissionais e amadores publicada aos domingos neste espaço.  

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