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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Para que lado vai?


por Thiago Domenici*

O ápice das mobilizações pelo país ocorreram entre os dias 17 e 21 de junho. Uma multidão de gente e reivindicações, frustrações e aspirações, por vezes difusas, ganharam forma em gritos de guerra e cartazes. Tivemos, sem dúvida, muito mais a névoa dos gases policiais e da violência do que céus de tranquilidade.

Passada a grande turbulência, os holofotes se voltam para o Planalto. A minha expectativa é de que o executivo tenha alguma carta na manga não marqueteira que dê vazão ao sentido de “urgência” das reivindicações. A ideia do plebiscito encalhou. Agora surge uma comissão da reforma política que terá 90 dias para propor algo. Depois, ao que consta, um referendo será realizado. A chamada “agenda positiva” foi criada justamente para dar respostas rápidas, ou seja, desencalhar projetos que estavam encalhados por morosidade, acordos políticos, lobbies e prioridades de guetos.

É curiosa essa esquizofrenia de hiperatividade do executivo e legislativo depois das agitações populares. Escancaram, sobretudo, a contradição de um sistema político desgastado. Não tenho dúvidas de que um bom começo seria fazer a reforma política. A ver o que virá nos próximos três meses. Gostaria de ver menos imagem e mais verdade nas ações gerais daqui pra frente.

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Em terras paulistanas, Haddad disse em entrevista ao jornal Brasil Econômico que os manifestantes do Movimento Passe Livre “são ingênuos, mas espertos". Quis dizer que são ingênuos porque não se preocupam com a fonte de financiamento da tarifa zero, e espertos porque se negam a discutir os aspectos técnicos da isenção – que, no caso de São Paulo, pode somar R$ 6 bilhões.

Dizer que “se negam a discutir” e que “não se preocupam” soa injusto e errado. Sem muito esforço, caro prefeito, você encontra o site tarifazero.org, o qual deveria olhar, já que desde 2009 o espaço, que não é do movimento, mas é tocado por alguns militantes do MPL, trata questões pertinentes ao transporte público, entre elas, a viabilidade econômica do Tarifa Zero.

E mais: se negar a discutir pressupõe que a prefeitura tenha feito um convite ao diálogo nessa pauta específica. Alguém me diga, por favor, se isso ocorreu oficialmente e se o MPL negou tal convite. A questão fundamental na cidade é inverter as prioridades do transporte público.

Mas, sem grandes expectativas, como citou o economista Luiz Gongaza Beluzzo em coluna na Carta Capital, “hoje, mais do que nunca, a critica da sociedade existente não pode ser feita sem a critica da economia política”. É aí que se precisa romper o nó górdio. E nesse campo econômico/político, infelizmente, pouco tenho visto de "agenda positiva".

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O vídeo abaixo é produção coletiva realizada pelo Projeto Cala-boca já morreu e pelo Coletivo EntreLinhas, como colaboração para a Campanha Tarifa Zero.



Thiago Domenici, jornalista, editor e coordenador do Nota de Rodapé

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