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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Inversão de sentidos

por Cidinha da Silva*

Ela considerava aquele o dia dela. Eu movia rios e montanhas para estar com ela, porque era algo muito importante para sua localização no mundo.

Um dia ela se foi e, deliberadamente, esqueci que o dia das mães existia. Permiti a mim mesma a liberdade de não felicitar ninguém pelo marco ocidental do comércio de afetos, nem mesmo as mulheres caras a mim, para as quais a maternidade era algo fundamental. Livre, libertada, liberta da opressão sentimentalista do dia das mães, me tornei.

Veio um dia novo e voltei a me lembrar que havia um domingo em maio dedicado a elas. Conheci uma mulher que perdera o filho ao nascer, cuja mãe telefonava no dia das mães para lembrá-la de que tinha sido mãe um dia e aquele era o dia dela também.

Veio o mais novo dos dias, aquele em que conheci a mulher que me ensinaria a ser mãe, a que mais admirei, venerei pelo amor e pela tenacidade, pela certeza da escolha, pelos filhos íntegros e belos que educou. O princípio e o fim dentro de casa, na própria prole, Exu e Oxalá, como ela dizia.

Mas ela desistiu de tudo e só restou no ar, no lugar dos “parabéns pelo dia das mães”, do meu tempo, o “feliz dia das mães”, de hoje.

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escritora, Cidinha da Silva mantém a coluna semanal Dublê de Ogum.

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