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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

domingo, 12 de julho de 2009

Humor em pílulas # 1

De graça, até toque retal

Na minha (ainda) curta vivência em Medicina, dentro da realidade brasileira, por diversas vezes me perguntei: o povo é doente ou é ignorante? Falta mais saúde ou educação? Não sei.
Há alguns anos, durante meu 4° ano da faculdade, o chefe da disciplina de Urologia convidou alguns alunos a participar de uma tal de “Campanha da Próstata”.
A campanha seria direcionada exclusivamente para pacientes encaminhados da rede de unidades básicas de saúde da cidade, os quais já teriam passado por uma triagem prévia se houvesse suspeita clínica de doença prostática. E o que faríamos na campanha, basicamente, seria o temido “toque retal” em todos os pacientes.
Manhã ensolarada de sábado e a recepção do hospital lotada de senhores entre 50 e 80 anos, com seus resultados de exames e senhas em mãos. Dividimo-nos em 4 ou 5 consultórios, cada um acompanhado de um médico supervisor, para iniciarmos as consultas. Conversa rápida, exame minucioso e boas notícias para a maioria dos pacientes. Eram dezenas e só tínhamos uma manhã.
Nesse entra e sai frenético de pacientes (e dedos), entra no consultório um senhor com seus 55 anos, andar caipira, óculos fundo de garrafa, roupas simples e uma fisionomia de anos sob o sol da lavoura. A consulta prosseguiu normalmente:

- Bom dia... porque o senhor veio à campanha?
- O médico do postinho que me mandou aqui dotô. Veio um exame de sangue com pobrema, me falou prá passar com vocês.
- E o senhor sente alguma coisa?
- Ahhh dotô... as vista tão fraca, tenho uma éli de disco e fiz até uma sorolância magnética no ano passado e...
- Não, senhor. A campanha aqui é da próstata... esses outros problemas de saúde o senhor acompanhará com seu médico do postinho, ok?!
- Tudo bem, dotô.
- O senhor quer fazer o exame?
- Sim, vambora!
- Então se deite na maca de barriga pra cima e abaixe as calças e a cueca até os joelhos.

Procedimento padrão: luva, vaselina no dedo indicador e introdução do mesmo no ânus do paciente, em busca de se caracterizar alterações nos contornos, consistência e volume da próstata.

- Vamos lá, vou fazer o exame, relaxe que não dói e dura 30 segundos.

Ao introduzir o dedo, o susto:

- Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!! Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!

Uma combinação de gritos de desespero com uma chave de pernas em meu antebraço que daria inveja em qualquer lutador de vale-tudo; sem contar a sensação de meu dedo sendo esmagado por aquele anel muscular poderosíssimo.

- Calma senhor!!! Calma!!! Largue meu braço!!! Calma!!! Deixe eu tirar o dedo!!!

- Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh... aaahhh... ah dotô... ah...

- Mas o que aconteceu??? Doeu? Mal comecei o exame!!! O senhor acabou de me dizer que queria fazer o exame!

E com lágrimas nos olhos e ar de derrota, pausadamente, o paciente disse:

- Ahhh dotô... mas eu não sabia... Eu não sabia que era “assim”...

Dr. Rino é médico (usa aqui pseudônimo)

2 comentários:

Fabiana Cardoso | Canción Comunicação disse...

ô meu deus, tadinho dele...
adorei a história!

Bia disse...

Impossível me comunicar com vc via msn. As mensagens voltam. hahaha

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