Rio-2016: a realidade não é tão bela quanto o filme de Fernando Meirelles
Passei os últimos dias digerindo a escolha do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada de 2016.
Não sou daqueles que torcem contra ou adeptos da política do “quanto pior, melhor” e, como brasileiro, comemorei o fato. Não há dúvidas que organizar o maior evento esportivo do mundo é uma grande oportunidade de desenvolvimento.
Além de investir em infraestrutura e transporte, o povo brasileiro terá a chance de crescer culturalmente. Mas tampouco sou inocente a ponto de não enxergar e me preocupar com alguns pontos negativos da campanha olímpica.
O possível superfaturamento de obras deixa os contribuintes de cabelo em pé, já que quase 100% das reformas serão custeadas com dinheiro público, principalmente após o Pan-Americano, também no Rio, quando o orçamento inicial foi extrapolado em quase dez vezes. A fiscalização desta vez deverá ser mais rigorosa e a punição em caso de irregularidade, mais eficiente.
Outro ponto que me deixa inquieto é a falta de políticas no país voltadas à formação de atletas e ao incentivo de práticas esportivas. A herança negativa vem de décadas: poucos clubes ou escolas têm a estrutura suficiente para treinamentos, o que prejudica o desenvolvimento do aspirante a qualquer modalidade esportiva. Salvo algumas exceções, os heróis olímpicos brasileiros de 2016 sofrerão, como as outras gerações, com a falta de patrocínio. Os investimentos públicos e privados deveriam ser intensificados a partir de já, mas, provavelmente, só quem tiver uma vaga garantida no desfile de abertura dos Jogos vai conseguir alguma ajuda. Quem não tiver que se preocupar em dividir os treinos com o trabalho pode comemorar. Mas todos os integrantes da delegação brasileira vão sofrer a pressão por um bom resultado diante da própria torcida. E como a torcida brasileira cobra... A nossa cultura não valoriza sequer o segundo colocado, quem dirá o atleta de badminton, que se não fosse o fato de o Brasil sediar a Olimpíada, talvez nem se classificasse para a competição.
A única obrigação dos nossos atletas será honrar nossas cores durante as provas. Medalhas?! É bom termos a consciência de que poucos serão premiados com os discos de bronze, prata e ouro.
Para terminar, as notícias que foram divulgadas pelo mundo nos últimos dias sobre a violência na Cidade Maravilhosa é o ponto mais crítico da nossa Olimpíada. Os investimentos em segurança em competições internacionais foram intensificados após os atentados de 11 de setembro de 2001. O treinamento de equipes de resgate e o combate a riscos de bombas foram exaustivos nos Jogos de Pequim, por exemplo. O grande problema do Rio, em comparação com outros lugares, é que no nosso caso, a luta é contra um terrorista que já está em nosso território. Os traficantes donos dos morros cariocas não são uma ameaça às nossas fronteiras, mas uma realidade presente no cotidiano da cidade. Combater um inimigo externo, como um terrorista taleban, parece mais fácil do que expulsar o mal que ameaça vidas inocentes no Rio. Lamentável ainda é o despreparo da polícia carioca e nem o BOPE intimida os traficantes. As políticas de segurança pública não passam de ações pontuais, como o envio de Forças Armadas para os morros, que não resolvem o problema e deixam a população desamparada.
Com certeza a operação vai ser repetida em 2016, pelo menos, no período olímpico, mas assim que a pira for apagada, as balas perdidas e a guerrilha dos traficantes voltarão à rotina dos cariocas. Gostaria muito de estar errado.
Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos" e editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes. Estreia hoje sua coluna no Blog Rodapé.
O vídeo de Fernando Meirelles
3 comentários:
Queria que vc estivesse errado também...
Também queria que vc estivesse errado...
Assunto extremamente oportuno,bom trabalho
madrugador 2
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