Lembro de meu pai e mãe gargalharem na sala de minha antiga casa e eu ali sem entender muito bem aquela figura meio pançuda sempre com roupas extravagantes e chapéus variados. Chacrinha faleceu em 1988 quando eu tinha sete anos de idade. Agora mais velho, vendo o filme neste sábado (31), pude compreender melhor o fenômeno do palhaço, apresentador, comunicador, transgressor, anarquista que ficou imortalizado também na música de Gilberto Gil.
Alô, alô, seu chacrinha – velho guerreiro / Alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro / Alô, Alô, seu chacrinha – velho palhaço / Alô, Alô, Terezinha – aquele abraço!
Das mais de 30 mulheres que dançavam na "Discoteca do Chacrinha", "Buzina do Chacrinha" e "Cassino do Chacrinha", apresentados pelo pançudo da minha infância, só Rita Cadillac tem ainda algum espaço na mídia – principalmente em programas populares que falam e mostram “peitos e bundas”. Outras chacretes aparecem no filme com depoimentos e histórias, como Beth Boné, Índia Potira, Vera do Flamengo, Gracinha Copacabana etc. O antes e depois dessas mulheres, cheias de saudades, antagonismos, recordações e carregadas de sentimentos que o passar dos anos traz a todos nós mexe muito com quem assiste. Acho que faz pensar na própria história e no quanto o país mudou de lá pra cá. Os depoimentos do filme são inúmeros: Roberto Carlos, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Dercy Gonçalves, Fábio Jr., Nelson Ned, Wanderléia, Fafá de Belém, Elba Ramalho, Alceu Valença, Agnaldo Timóteo, Beth Carvalho, Biafra, Alcione etc. Sem contar os calouros - como o primeiro a levar o famoso Troféu Abacaxi - e jurados que ficaram famosos, como Elke Maravilha. Este filme é um pedaço da história do Brasil mais do que da tevê. É a história de uma vida contada e muitas outras reveladas.
“Quem vai querer o bacalhau da Maria Bethânia???”
A história do bacalhau jogado a plateia é hilária. Conta, que o bacalhau encalhou nas Casas da Banha, patrocinador na TV Tupi e o Chacrinha deu seu jeito. Virava-se para o auditório: "Vocês querem bacalhau?" A patrocinador voltou a vender bacalhau como nunca. E pensar que hoje o quilo do bacalhau é uma fortuna.
“Tezezinhaaaaaa!” “Ú, ú!...”
No filme os entrevistados dão suas versões de quem é Terezinha e por que raios ele inventou isso. Reza um, que não consta no filme, que em 1946 Chacrinha bradava o nome da marca de uma água sanitária que patrocinava seu programa de rádio: “Clarinhaaaaaa!” Quando terminou o contrato do anunciante, ele criou a “Terezinhaaaaa!”, aproveitando o sucesso do bordão.
Curiosidades do Abelardo
1 - Os frevos de abertura e encerramento do programa foram compostos por Miguel Gustavo, o mesmo de “Pra frente Brasil”, jingle da copa de 70, no México.
2 – Chacrinha chegou a cursar até o terceiro ano de medicina, quando muda para o Rio de Janeiro em 1940, viajando de navio como baterista de uma banda.
3 – Estreou seu primeiro programa na Rádio Clube Niterói, em 1943, “O Rei Momo na Chacrinha”, que ia ao ar das 23h às 2h da manhã. Sozinho no estúdio, tocava um rebu com copos, panelas e o que mais fosse possível ter a mão – dando a entender que estava numa bela farra. Acabou conhecido como “o louco de Niterói” e seu programa foi rebatizado de Cassino do Chacrinha.
4- A picardia nos versos das marchinhas carnavalescas eternizadas em seus programas ainda hoje estão na boca do povão como "Maria Sapatão/sapatão/sapatão// De dia é Maria/de noite é João" ou "Bota a camisinha/bota meu amor/hoje está chuvendo/não vai fazer calor".
O que diria o velho guerreiro da evolução das mídias (primeiro internet, redes sociais, blogs, youtube etc): "Quem não se comunica se trumbica", ora pois!
Eis o trailher do filme:
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