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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O tango, pô, as minas, pá

Nascido no começo do século 20, o tango surgiu nos arrabaldes, na zona mais pobre e perigosa de Buenos Aires. Não era pra “moça de família” e por isso foi dançado entre homens ou tendo como par as prostitutas. Com o passar do tempo a classe média adotou a dança e as mulheres não "pecadoras" puderam participar.
Ainda assim, o papel delas era de submissão, de ser guiada na dança pelo macho.Hoje, esse universo ainda dominado por homens, mas a participação feminina vem ganhando espaço nas últimas décadas - ver uma mulher tocando bandoneón é ainda raro, mas escutar uma ‘mina’ cantá-lo é cada vez mais comum.
‘Mina’ é mulher atraente no lunfardo - dialeto criado em Buenos Aires e que mescla vários idiomas, entre eles o galego (que soa muito parecido ao português). Vem do diminutivo de femmina (italiano) e menina (em galego e português). Sim, hoje falasse em mina no Brasil por influência do lunfardo, que se espalhou também para outros vizinhos.
Na Conexom Latina desta semana apresento três cantoras de tango contemporâneas que merecem ser ouvidas e aplaudidas.

Adriana Varela
Antes de virar cantora profissional (em 1991, com 33 anos), Adriana Varela foi militante do Partido Comunista, esposa, mãe e fonoaudióloga. Um dia resolveu levar a sério a paixão pela música. Foi “adotada” por Polaco Goyeneche, um dos grandes tangueiros, e duas décadas de carreira depois virou uma das mais importantes vozes vivas do tango.
É apontada como uma das responsáveis por fazer nascer nos jovens o gosto por esse tipo de música. A inconfundível voz rouca (resultado dos anos de fumo compulsivo) é sua marca registrada e, também, principal ponto para os críticos, que dizem que ela não canta, mas apenas “conta” ou diz os tangos. Escute e tire tuas conclusões:

Me gustas cuando callas (poema de Pablo Neruda musicado)


Com la frente marchita (uma música de Joaquim Sabina com um arranjo de tango)


Aqui, Adriana Varela canta com Bajofondo Tango Club (um coletivo de músicos do Rio da Prata de quem teremos que falar sobre qualquer hora dessas). A música se chama Perfume e é preciosa.

Dolores Solá
Começou a carreira nos anos 90, cantando tango e pop. Em 1996 fundou junto com mais dos músicos a banda “La Chicana”, ativa e criativa até hoje. O tango predomina no som do grupo, mas há a mistura constante com outros ritmos.

Aqui, Confesión (um tango clássico)


Viaje Astral (vê se descobre qual a música incidental!*)


Sopapa (tango com várias outras influências e uma letra deliciosa)
O livro que você não escreveu,
Já ninguém vai ler
A árvore que você não plantou,
Já nunca ninguém vai subir
E o filho que você não teve,
Porque quis matá-lo
Nos tenemos que ir (tango com uma guitarra bem marcada)


Pra terminar, uma música linda de Gotan Project (de quem falaremos em breve) chamada Sola e cantada por Cristina Villalonga.


*a música incidental é Smell Like Teen Spirit, do Nirvana

Ricardo Viel
é jornalista e mantém a coluna Conexsom Latina neste Nota de Rodapé

Um comentário:

Anônimo disse...

O nome do lugar é Conexion Caribe!

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