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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago partiu sereno e tranquilo

O mundo hoje está mais triste, a humanidade mais desinteressante, o mundo das ideias e dos ideais, mais pobre. Morreu nesta sexta-feira, 18 de junho, o escritor José Saramago, aos 87 anos, “em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu acompanhado da família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila”, informou em nota a Fundação que leva seu nome.
Saramago tinha a saúde debilitada há algum tempo. Em 2007, uma doença respiratória conseguiu o impossível: fazer o ateu convicto quase acreditar num milagre, o da sua recuperação. Pelo menos foi o que ouviu dos médicos. E também impediu o escritor de escrever. À época, Saramago se viu obrigado a interromper a produção da obra “A Viagem do Elefante” por seis meses. Apenas dois dias após a alta médica, retomou o que considerava o livro mais jovial e mais divertido que já escreveu. Saramago contou essa história com o bom humor típico de suas sempre brilhantes palavras durante o lançamento do livro no Brasil, em novembro de 2008.
“Foi escrito em estado de pura felicidade por ter escapado. E mais: saí dessa doença com uma serenidade interior que nunca tinha experimentado. Pilar diz que é um livro cheio de sabedoria... e talvez seja”, disse, emocionado, a uma plateia privilegiada, de pouco mais de 700 pessoas, que ouviu naquele dia, durante quase duas horas, o escritor pensador falar de sua vida, suas histórias, do amor pela mulher, Pilar del Rio.
Eu estava lá e tive certeza de que aquele era um momento da minha vida do qual me orgulharia sempre, sentiria saudades e sobre o qual lembraria com muita dor quando Saramago se fosse. E foi exatamente como me senti hoje.
Saramago é um gênio, um escritor criativo, um contador de histórias como poucos. Mais que tudo isso, José Saramago era um homem muito especial. Escrevia sobre as injustiças do mundo e, sem alarde, trabalhava para ajudar a corrigi-las. O mais recente lance foi a reedição de seu livro “Jangada de Pedra”, cuja venda foi totalmente revertida para o fundo da Cruz Vermelha no Haiti. O que segundo ele só foi possível graças “à pronta generosidade das entidades envolvidas na edição do livro”.
Saramago era assim. E faz cada vez mais falta ao mundo seres da espécie humana que sejam assim: verdadeiros, poéticos, generosos, simples.
Seus dias de sobrevivente, como se autodefinia, acabaram. Faz lembrar daquela noite em que falava para o auditório lotado sobre o fim da viagem do elefante “que fez longa viagem num rigoroso inverno, para ter um triste fim. Uma metáfora que trata da inutilidade da vida, de não conseguirmos fazer da vida mais do que ela é”.
Mas Saramago conseguiu. Fez da vida mais do que ela é.

Claudia Motta é jornalista e escreveu especialmente ao Nota de Rodapé

4 comentários:

Anônimo disse...

Que homenagem linda ao Saramago. Parabéns Cláudia, por ser generosa e verdadeira pra ter tamanha sensibilidade.
bjs,
gisele.

Anselmo disse...

Uma pena alguém tão importante morrer em plena Copa do Mundo. O noticiário dificilmente vai dar o devido destaque. Aliás, vai encontrar uma desculpa fácil para não dar o espaço merecido.

Prestarei minha solene homenagem bebendo o querido morto.

Anselmo disse...

Uma pena alguém tão importante morrer em plena Copa do Mundo. O noticiário dificilmente vai dar o devido destaque. Aliás, vai encontrar uma desculpa fácil para não dar o destaque merecido.

Prestarei minha solene homenagem bebendo o querido morto.

Anônimo disse...

Sim, falta sensibilidade ao mundo. E também a este texto, medíocre.

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