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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Apocalipse é muito mais um livro de “viagem” do que um livro “histórico”

Tanto a literatura apocalíptica judaica como o Livro do Apocalipse de São João Apóstolo pretendem desvendar os mistérios dos tempos finais da história e do início do Reino de Deus. Um dos diferenciais é que, enquanto os apocalípticos judeus discutem a primeira e única vinda do Messias, São João Apóstolo trata do Segundo Advento de Jesus Cristo.
Do mesmo modo, enquanto os apocalípticos judeus tratam do Reino de Deus como se fosse uma teocracia terrena, instaurada pelo Messias, que foi enviado por Deus, mas não é Deus, São João Apóstolo trata de um Reino de Deus no plano das almas, instaurado pelo próprio Deus, nas suas Três Pessoas. Mas tanto judeus como São João expressam que o Messias enfrenta o Inimigo que quer tomar o seu lugar.
Também, no plano imediato, os judeus e São João parecem partir de um tempo histórico determinado, no caso do Apocalipse o tempo da perseguição do imperador romano Nero aos cristãos, perseguição que o Apocalipse chama de “grande tribulação”. Mas, ao contrário da maioria dos apocalípticos judeus, São João Apocalíptico não usa pseudônimo e sim assina com seu nome próprio o texto sobre as visões da revelação que teve, vinda de Jesus.
Por falar nisso, a característica de expressar a mensagem por meio de visões se encontra tanto nos apocalípticos judeus como em São João Apóstolo. Igualmente, está presente nos dois casos o elemento da predição, como, do mesmo modo, tanto a utilização de símbolos arbitrários a serem decodificados, como a utilização de números como símbolos. Assim, no Apocalipse, cinco são os meses da praga de gafanhotos, sendo cinco nos apocalípticos judeus o número das peripécias humanas, sendo que os gafanhotos só são nocivos aos seres humanos, não à natureza. Enquanto são sete tanto as estrelas como os candeeiros portados por Jesus Cristo no Apocalipse, sendo sete o número da perfeição para a literatura apocalíptica judaica.
Figuras de linguagem e situações dramáticas também foram usadas tanto pelos apocalípticos judeus como por São João Apóstolo. Mas o Apocalipse é muito mais um livro de “viagem” do que um livro “histórico”, segundo a classificação de Collins. Confesso que não me sinto suficientemente preparado para ir além dessas observações.

Renato Pompeu é jornalista e escritor, especialmente para o Nota de Rodapé. Conheça o Blog do Renatão

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