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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Os tubarões da Copa mostram os dentes

Pois é, enquanto os brasileiros tiram sarro dos argentinos e o hermanos fazem piadas com a laranjada que o time de Dunga tomou na África, os verdadeiros tubarões mostram os dentes. E a Copa do Mundo, que poderia virar uma “Copa América” mais valorizada, tem apenas um representante sul-americano nas semifinais: justamente o Uruguai, que se classificou para o mundial na bacia das almas e não sabe o que é levantar a taça de campeão desde o famoso “Marcanazo”. Os europeus mostraram força na hora certa e dificilmente a taça vai atravessar o Atlântico.
Antes de me aprofundar nas considerações de hoje, faço um esclarecimento, já que alguns amigos me criticaram por afirmar na última coluna que a Copa começara apenas nas quartas. É lógico que foi força de expressão, já que há pelo menos dois meses respiramos Copa diariamente. Eu apenas enalteci a fase decisiva da competição. Assim como acontece na Libertadores ou na Champions League, onde a primeira fase costuma ter uma série de times inexpressivos e as grandes potências se firmam mesmo no mata-mata, a Copa é assim: a partir das quartas-de-final, separamos os homens dos meninos; os craques dos jogadores medianos. Sempre existe espaço para uma zebra, mas, via de regra, as melhores seleções são reconhecidas nesta fase.
Na África do Sul não foi diferente. Brasil e Argentina, apontados como favoritos, mostraram suas maiores deficiências quando realmente foram testados. Eu apostava que o talento do ataque argentino fosse superar às fraquezas da defesa, mas a Alemanha provou que é preciso jogar muito em todos os setores para ser campeão do mundo. Quanto ao time do Dunga, aconteceu o que todos temiam desde o dia da convocação final para a Copa: Kaká não estava bem fisicamente, o time não tinha reposição, nem para ele e muito menos para Elano, o treinador não soube criar alternativas na formação do time, sempre burocrático e dependente do excelente lateral Maicon, e Felipe Mello foi expulso em um jogo decisivo. Sem contar o desequilíbrio emocional do técnico, que se refletiu nos comandados em campo. Quem está acostumado com as pedaladas e risadas de Robinho, por exemplo, não entendeu o motivo de tanta valentia do atacante no último jogo. Não podemos aproveitar a eliminação do Brasil para execrar o trabalho de Dunga, que até a Copa, foi perfeito, se forem analisados os resultados. Mas o time foi reprovado no grande teste.
Como a Copa continua, vamos falar de quem está brilhando em gramados africanos. E ao contrário do que aconteceu com Brasil e Argentina, que tiveram as estrelas Kaká e Messi sem brilho (voltaram para casa sem marcar um gol sequer), os quatro semifinalistas têm pelo menos um grande nome nesta Copa.
Quando ainda vivíamos a primeira fase, conversei muito com Paulo Ranieri, um amigo que também é colunista no NR, que tentava me convencer a participar do bolão que ele organizou. Não aceitei, mas ouvi uma coisa naquele dia que me deixou em alerta: “Barba, acho que a Alemanha vai ser campeã”. Paulo falou com a convicção de quem morou na Europa nos últimos anos e acompanhou de perto a reformulação do time, vice-campeão europeu em 2008. Se o palpite dele vai se confirmar, só saberemos no domingo, mas a Alemanha realmente mostrou qualidades para conquistar o tetra. Schweinsteiger é o grande nome do time, que ainda tem o artilheiro Klose, que pode superar os 15 gols de Ronaldo em Copas, o habilidoso Podolski, e os jovens talentosos Özil e Müller.
No caminho alemão está a Espanha, sedenta pelo primeiro título mundial e embalada pelos belos gols de David Villa e os passes perfeitos de Xavi e Iniesta. Em 2008, na final da Euro, a Fúria levou a melhor, mas hoje o favoritismo está do outro lado.
Na outra semifinal, o Uruguai, aparece como a fênix que renasceu das cinzas. Depois de quase ser eliminado por Gana no último minuto da prorrogação, o time celeste levou a vaga nos pênaltis. Mas contra a Holanda, os desfalques de Lugano e do atacante Suarez podem complicar o sonho do tri. Forlán, mais uma vez, terá de chamar a responsabilidade e tentar definir o jogo. A Holanda, comandada por Sneijder, tenta chegar a mais uma final e, quem sabe reescrever o desfecho de 1974, quando perdeu para a Alemanha. Depois de eliminar o Brasil, a Laranja vem embalada e deve agredir o adversário (na bola, e não como fez Felipe Mello) desde o começo do jogo. Favoritismos à parte, podemos esperar muita emoção nos jogos decisivos da Copa.

No Aeroporto
Fiquei imaginando como seria o encontro entre Maradona e Dunga no saguão do Aeroporto, à espera dos vôos de volta para a América do Sul. Dunga, ainda nervoso, roendo as unhas e esmurrando a parede, tenta mostrar superioridade ao avistar o Hermano se aproximando:

- Tchê! Mas que vexame, depois de perder pra mim nos últimos quatro anos, não aprendeu que sua defesa é fraca e você não pode atacar um time bem armado como uma vaca louca que toma pau no contra-ataque?

- Que passa, loco? E você que adotou um sistema militar e tirou a alegria do time? O Robinho até parecia um soldado da Coréia do Norte na guerra.

- Ah, mas o Messi não parecia muito solto em campo. Eu senti falta daquelas arrancadas, com dribles curtos que ele costuma fazer no Barça. Como fã do futebol arte, eu queria ver pelo menos um golzinho do menino.

- No mames! Se quisesse ver arte, teria levado o Neymar e o Ganso, que estavam voando baixo no Santos de mi amigo Pelé... Quien és Julio Baptista? E Felipe Melo? E porque deixou o Kaká se queimar, se o rapaz não tinha condições físicas?

- Mas eu não deixei o artilheiro da Champions no banco.

- Pelo menos eu tinha um banco. Nuestros suplentes son mucho mejores que los suyos.

E a conversa ia se alongar a viagem toda se as duas seleções estivessem no mesmo vôo. Mas de repente, Dunga interrompeu El Pibe e apontou para um canto. Os dois começaram gargalhar e esqueceram as rixas. Do outro lado do saguão estava C. Ronaldo (Ronaldo só tem um) penteando o cabelo e se olhando no espelho. O gajo distribuía fotos autografadas e tentava vender para os fãs um vídeo com os melhores momentos dele na Copa. Além do chute na trave contra a Costa do Marfim e do lançamento de chaleira feito contra a Espanha, tudo em diversos ângulos e com todo o slowmotion que existe. A produção ainda mostrava piques de dez metros nos aquecimentos do time e malabarismos com a bola no vestiário, sem contar as caretas do atacante metrossexual que apareceram nos telões dos estádios. Vou concordar com o Casagrande: o C.Ronaldo é ótimo em replays, porque no ao vivo não vale nada. Eu acrescento: firuleiro e pipoqueiro.

Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.

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