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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mas você tem babá?

"Que o senhor não dê trigêmeos aos pobres"
O mês de julho sempre traz sentimentos contraditórios às mães em surto. Lembro-me de passar férias na casa da minha avó, viajar com os meus pais para a praia, para o sítio, ficar em casa vendo sessão da tarde comendo bolacha recheada e tomando leite com chocolate.
É claro que as coisas não são mais assim. Esta mãe em surto que vos escreve e todas as outras NUNCA conseguem tirar férias em julho ou dezembro, junto com a criança. Portanto, quando vai chegando o final do semestre é hora de rebolar: brigar com o pai que não quer dividir, arranjar entre uma avó e outra as quatro semanas, negociar a diária do curso de férias na escola caso dê tudo errado, enfim.
Os sentimentos são contraditórios porque ao mesmo tempo em que a mãe em surto pode tirar férias das obrigações maternas, sente-se culpada por estar longe, tirando férias das obrigações maternas. É claro que os planos de ver as amigas e pegar um cinema no meio da semana não passam de ilusão. Trabalho e mais trabalho tomam os 30 dias de ponta a ponta e você descobre que seria uma workaholic infeliz e não uma baladeira descolada.
Nas minhas férias escolares, ou melhor, do pequeno, rebolei um bocado. Fui dormir no sítio umas noites para matar as saudades, acordei cedo pra voltar ao trabalho e fechar a matéria nos dias seguintes, o trouxe para casa aos finais de semana, dei jeitos mirabolantes de mandá-lo de volta nas segundas-feiras, enfim...
Aí no cabeleireiro granfino, esperando para ser tosada de graça (porque mãe em surto, ainda mais jornalista, não tem dinheiro, mas tem amigos), escutei a moça sem olheiras da direita comentar com a loira bem tratada da esquerda, que Theodoro (porque deve ser escrito com H) “teve até febre porque eu passei 10 dias em Madrid, acredita?” e a dúvida era “Será que emendo uma viagem à New York? Minha amiga me convidou e fiquei bem tentada”. “Ai boba, vai sim, não perde a vida. Logo eles crescem e te esquecem” foi o conselho da loira sem pontas duplas da esquerda.
Querendo ser simpática, pergunto à sem olheiras se ela tem apenas um filho e qual a idade: “Não, tenho trigêmeos! Eles têm três anos”. Trigêmeos? Começava a ter dó da moça, quando parei para pensar que esta informação não condizia com sua pele. “Mas você tem babá?”, perguntei. “Quatro”, respondeu a da pele boa. Inclui na minha prece diária. “Que o senhor não dê trigêmeos aos pobres ou às mães solteiras, amém” e saí menos culpada do salão.

Andrea Dip é jornalista e Mãe em Surto

3 comentários:

Jéssica disse...

Muito bom o texto! Principalmente a parte da "prece diária"!!!
Adoro mãe em surto!!!
bjobjo

Jéssica disse...

Muito bom o texto! Principalmente a parte da "prece diária"!!!
Adoro mãe em surto!!!
bjobjo

Fabi disse...

Quatro babás? Jura? E eu me sentindo culpada por ter uma só... E só de segunda a sexta, enquanto eu trabalho. Sim, que Deus não dê trigêmeos a mães solteiras e que essa mãe não emende uma viagem a Nova York e fique um pouco com os seus filhos.
Déa, vamos escrever um livro? Dá boas histórias, hein? Hahahahha...
Beijos,
Fabi
http://depoisqueeudescobri.wordpress.com

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