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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Voto Dilma. Pra mostrar que nóis num semo tatu

Estava decidido, desde sempre, quando o PSOL pretendia lançar Heloísa Helena, a votar no 50. Quando foi Plínio o candidato, pareceu-me ainda melhor: este senhor não tem ganas e ilusões de vencer. Quer entrar na campanha para propor, para mostrar os problemas alheios e debater a possibilidade de um novo modelo de desenvolvimento.
Até domingo, na conversa de bar com um amigo, afirmei que votaria no PSOL. Parecia-me importante que uma faixa do eleitorado mostrasse que quer um governo mais à esquerda, que discuta abertamente a reforma agrária e a mudança nas estruturas dos meios de comunicação.
Mas, agora, hoje, agorinha pela manhã, mudei. Nada contra, Plínio, mas terei de migrar. Lamentavelmente, fui empurrado à turma do voto útil. Explico. A Folha de S. Paulo traz nesta terça-feira pesquisa de seu próprio instituto, o quase-sempre-errado Datafolha, que mostra que há possibilidade de haver segundo turno. A julgar pelo levantamento, o eleitorado brasileiro é um dos mais malucos do mundo. Dilma caiu em tudo quanto é lugar, vertiginosamente – 3,6 milhões de votos entre os que ganham de dois a cinco salários mínimos. A Folha atribui a queda aos sucessivos “escândalos”. Ao analisarmos o viés mostrado pelo levantamento, vemos que, se tivéssemos mais quinze dias de disputa, Marina Silva chegaria a 49% dos votos, superada apenas por José Serra, com emocionantes 51% - Dilma, desmascarada, iria a zero.
Ô, Folha, nóis num semo tatu. Parece que há momentos da vida política em que é preciso escolher um lado. Não me sinto no direito de me furtar a essa escolha agora. O que vem sendo feito nas últimas semanas, com falsas denúncias, ridicularização de uma candidata e pedidos para que os militares saiam da caserna, é um desrespeito não só à democracia, mas à inteligência das pessoas.
Reproduzo palavras mais serenas e mais insuspeitas. São de Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo e quadro antigo do DEM, que já foi PFL, que já foi Arena. “Não se conforma, a direita, em perder privilégios e constatar que a sociedade, desde a democratização, movimentou-se e avançou para tornar os brasileiros mais iguais, apesar das imensas diferenças ainda existentes. Aqui, como em toda a parte, a direita sempre se mostra irracional, perversa e sem nítidos posicionamentos. Quer uma ordem sem espaços para a vida. Uma lei sem possibilidades iguais para todos.”
Não preciso dizer mais.

Um pouquinho de tanta verdade
A Colômbia, exemplo de democracia para José Serra, acaba de cassar todos os direitos políticos da senadora Piedad Córdoba até 2028. Acusa o Judiciário colombiano, este insuspeito poder que nada tem de ligação com o Estado paramilitar, que a parlamentar tem conexões com as Farc. Bem, parece-me óbvio, já que ela mediou a libertação de dezenas de reféns ao longo dos últimos anos. Aparentemente, o Judiciário colombiano tem outro peso e outra medida, pois não cassou os direitos políticos de Álvaro Uribe, que tem ligações muitíssimo próximas com gente armada, muito mais armada. Há bastante gente na Colômbia interessada em manter a polarização da sociedade. Deve ser esse pessoal que Lembo andou citando.

Steinbruch não sabe a diferença
O presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, mostrou-se assustado com os reajustes salariais obtidos por algumas categorias, superando a casa de 10%. Para ele, é suficiente que se reponha a inflação. Acima disso, alega ele, o Brasil perde competitividade, deixa de atrair investidores. Melhor que tenhamos uma classe trabalhadora ao estilo chinês. Ao que parece, Steinbruch não sabe que existe uma diferença entre viver com R$ 550 e viver com R$ 600. Para ele, que vive na casa dos bilhões, é difícil imaginar o que se pode fazer com cinquentinha a mais. Já que a regra é apenas repor a inflação, senhor Steinbruch, permita-me apresentar uma proposta: toda vez que sua empresa crescer acima do PIB nacional, essa graninha extra será doada para programas sociais. Vamos fazer isso? Em nome da competitividade. Não a dos empresários, mas a da sociedade, que cansou de ser tão desigual.

Não deu
Um repórter de um veículo da velha mídia recebeu missão especial na cobertura do comício de segunda-feira em São Paulo. Precisava encontrar gente que tinha comparecido ao evento mediante pagamento ou que tivesse sido dispensada de repartição pública com a função de ir ao comício. Voltou pra casa sem pauta.

João Peres é jornalista, escreve a coluna Extremo Ocidente

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