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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Senador, não tenho obrigação de me curvar ao poder

O senador eleito Aloysio Nunes (PSDB-SP) afirmou nesta quinta-feira (28) ao jornal Folha de S. Paulo que minha versão sobre o xingamento proferido por ele na última segunda-feira (25) é “mentira de petista”. Após me chamar de “pelego filho da puta”, diz o senador que sou “insolente.”
Vamos por partes. Quanto ao que me toca, o senhor sabe que não é mentira. O que eu lucraria inventando essa história? Como já lhe disse antes, sou jornalista, apenas relato aquilo que vi. Invenções, deixo-as para aqueles que se interessam por elas. Sobre o “petista”, senador, há coisas que a gente precisa provar quando fala. Essa é uma delas. O senhor pode revirar todos os registros do PT que não vai encontrar qualquer ligação entre mim e o partido. Se encontrar, pode escolher o local em que devo lhe pedir desculpas publicamente.
Se não encontrar, faz aquilo que deveria ter feito desde o lamentável episódio: retrata-se, mostrando que, como homem público, sabe reconhecer erros. Um colega seu, o prefeito Gilberto Kassab, já o fez uma vez e, ao que parece, segue vivo. A questão, senador, é que o mundo não está dividido entre tucanos e petistas. Recorrer a simplificações demonizantes, como se tudo que lhe ocorre de ruim na vida fosse culpa do PT, não vai resolver o problema.
Quanto à terceira acusação, a de ser “insolente”, contento-me em analisar o uso histórico desta palavra. Insolente era a característica que se atribuía aos escravos “rebeldes” ou “fugidios”. Depois, como nosso país não apagou certas heranças, passou a ser maneira como as elites chamavam aquele funcionário que tinha a ousadia de ter pensamentos próprios. É aquela empregada que irrita os patrões porque tem a insolência de atender o celular durante o trabalho. É aquele funcionário que enerva o chefe porque tem a insolência de propor que seu salário de miséria seja aumentado.
Então, sob os olhos da elite, sou mesmo insolente. Afinal de contas, não me agacho frente a uma pessoa pelo simples fato de ela ter mais posses ou mais poder do que eu. Muito pelo contrário, olho nos olhos de quem quer seja. Minha espinha, senador, nasceu com essa terrível mania de não se curvar. Sei que há colegas de profissão que não têm problemas em serem subservientes, em terem coleguismos com o poder. O senhor me perdoe, senador, mas não é meu caso, e isso não me faz insolente nem petista.

- A resposta de Aloysio Nunes Ferreira

Diferentemente do que o senhor insinua, sou jornalista sem aspas, jornalista de verdade. Como lhe disse, sou formado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e em algumas das redações para as quais gente de seu partido certamente dispensa grande apreço. Agora, se o senhor ainda não tirou o pé da Casa Grande, lamento. O meu já deixou a Senzala há algum tempo.

João Peres é jornalista, colunista do NR e repórter da Rede Brasil Atual

Reportagem da Folha de S.Paulo de hoje:

Jornalista diz que foi xingado por tucano antes de debate

DE SÃO PAULO

O jornalista João Peres, da "Revista do Brasil", diz ter sido chamado de "pelego filho da puta" pelo senador eleito Aloysio Nunes (PSDB-SP).
A agressão, diz, ocorreu na última segunda-feira, antes de debate dos presidenciáveis na TV Record.
O tucano admite tê-lo chamado de pelego, mas nega o palavrão.
À Folha Peres disse que o tucano teria perguntado para qual veículo ele trabalhava e, depois, teria se negado a dar declarações. "Eu disse: "educado, hein, senador?". Ele respondeu me xingando".
Aloysio Nunes confirma parte da história. "É pelego mesmo. É revista pelega, paga com dinheiro público para fazer campanha. E ele foi insolente. Perguntou se eu não falava com trabalhadores".
Questionado sobre o palavrão, Aloysio disse: "É mentira de petista. Estão querendo me colocar contra a mídia".
A "Revista do Brasil" é ligada ao movimento sindical e foi alvo de representação apresentada pela coligação de José Serra (PSDB), que pediu à Justiça a retirada da revista de circulação, alegando de que estaria atuando em favor de Dilma Rousseff (PT).
Houve decisão favorável à coligação tucana, baseada no argumento de que sindicatos não podem contribuir com candidatos ou partidos.

3 comentários:

Anônimo disse...

desespero de fim de campanha
já viram que a vaca foi pro brejo e é justificável toda essa amargura
pode chorar, pode chorar, já foi....

eliza disse...

ao menos esta campanha está servindo para evidenciar alguns pré conceitos de nossa sociedade...seu texto colabora nesta reflexão. obrigada!

Barbara disse...

é tão curioso isso de quando as pessoas querem me ofender numa discussão política chamam-me de petista. Também não tenho envolvimento direto algum com o Partido dos Trabalhadores e me incomoda essa simplificação, porque coloca todas as opiniões divergentes em dois grandes potes Petistas x Os outros. Um empobrecimento claro do debate político.

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