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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

domingo, 7 de novembro de 2010

Ao contrário do agourado, morte de Néstor não enfraqueceu Cristina

O jornal Página12 desfaz, em suas páginas deste domingo (7), uma das teses criadas pela imprensa comercial argentina – e rapidamente reproduzida pela mídia nativa brasileira – sobre a morte de Néstor Kirchner.
Enquanto aves de agouro deste lado da fronteira apressavam-se em dizer que a presidente Cristina não aguentaria, nos moldes do que alguns querem machisticamente fazer com a presidente eleita do Brasil, do outro lado o povo acorria à mítica Praça de Maio para prestar seu apoio ao governo constitucional. Enquanto muita gente corria ao mercado de ações para comprar papéis do Clarín, apostando que Cristina não teria força para continuar enfrentando o braço-forte da imprensa argentina, milhões de pessoas reavaliavam o legado das gestões Kirchner.
O resultado está registrado pelo Página12: a morte de Néstor, por pior e lamentável que seja, acelerou o processo de recuperação da imagem da presidente. O imenso apoio popular agora se consolida em diferentes pesquisas, revertendo definitivamente a deterioração registrada entre 2008 e o começo de 2009, quando os governos Kirchner peitaram os interesses da elite rural. De acordo com o levantamento feito por Ricardo Rouvier & Asociados, 65% dos argentinos têm imagem positiva do governo, contra 35% que o avaliam como negativo.

Saiba mais:
- Aquele homem, Néstor Kirchner (Rodrigo Menitto)
- Kirchner deixa país órfão e muitas incógnitas (Mariana Camaroti, de Buenos Aires)

Mais que isso, aumentou bastante a vantagem de Cristina sobre os demais concorrentes nas eleições presidenciais do próximo ano. Se antes o cenário estava indefinido, e poderia ser Néstor o candidato, agora a chefe de Estado figura com chances de liquidar a fatura no primeiro turno. Nos dois cenários analisados, tem 45% dos votos totais, bem à frente de Maurício Macri (PRO), atual administrador de Buenos Aires, e de qualquer dos candidatos da União Cívica Radical. A situação pode mudar bastante até 2011, mas já se configura extremamente positiva levando-se em conta que, há pouco mais de um ano, este governo parecia agonizante.
Na outra mão, aqueles que esperavam abreviar este governo, agora, continuam podendo fazê-lo, mas já não contarão com o apoio das massas: 74% apoiam que a presidente possa governar. Ou seja, deixa a mulher trabalhar.

Dignas de nota:

− Júlio Cobos, vice-dissidente, foi indicado por um dos secadores brasileiros como rival de Cristina no próximo ano. O rapaz desconhece que o nome que vem vencendo as préviasda União Cívica Radical é Ricardo Alfonsín, filho de Raul, ex-presidente morto no ano passado. É possível que a rara figura de Cobos saia candidato, mas não se pode descartar a influência da herança alfonsinista sobre a UCR.
− Fernando “Pino” Solanas tem em torno de 6% das intenções de votos. Percentual bastante expressivo para um cineasta de ascendência socialista e que apenas recentemente obteve cargo político, sendo agora deputado.

João Peres é jornalista, colunista do Nota de Rodapé

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