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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A dor moral é maior que a dor física

Estou com um sentimento ruim que não passa. Antes de quarta-feira, 3, era uma dor no peito, que começou a me preocupar por ser crescente e com reflexos físicos aparentes. Odeio ir ao médico e consultórios me dão arrepios. Por insistência da família e amigos resolvi acionar o meu plano de saúde com o qual gasto, mensalmente, há quase um ano, 155 reais; Dix20 da Amil, utilizado duas vezes (sendo essa da história a seguir a segunda).
É por estar indignado que compartilho com vocês essa infeliz experiência, a maior humilhação da minha vida. Temos que refletir e agir, afinal, sou um caso entre centenas, talvez milhares...
No meu primeiro contato com a atendente do plano de saúde fui informado que apenas para dali a duas semanas haveria agenda disponível. Sem alternativa, aceitei. Marquei a consulta na Zona Leste, na Avenida Pires do Rio (perto da minha casa). Para esse dia desmarquei meus compromissos profissionais, queria apenas resolver essa dor. Quando se trabalha com jornalismo você se depara com pessoas e histórias de saúde fatídicas e, mesmo não sendo um hipocondríaco, a sua mente começa a criar ideias nada agradáveis sobre a provável origem do problema.
No esperado dia da consulta, às 14h, estava no meu carro ao lado da minha namorada, hoje meu braço direito nos processos de captação de recursos para projetos culturais. O trânsito estava infernal. Ao sairmos do bairro do Belém, o combinado era ficar no consultório, nesse interim, minha namorada iria para uma reunião na Av. Paulista.
Apenas para confirmar a consulta e o endereço liguei para o médico que me atenderia: José T.C.  Uma atendente de nome Isaura afirmou que o consultório (para o qual eu havia ligado há duas semanas) atendia somente na Avenida Paulista e não na Pires do Rio. Fora esse erro de informação, Isaura zombou do fato de eu precisar de um médico numa região afastada. São Miguel Paulista, segundo ela "é quase no fim de tudo."
São Paulo é uma cidade enorme e pela minha profissão circulo por todas as regiões e conheço de mansões a favelas. Além disso, independentemente dos quilômetros de distância que São Miguel fique do centro, não significa que a população daqui não mereça um atendimento médico de qualidade, seja lá em qual setor.
Tenho orgulho da minha história nesse bairro. Viajei por todo o Brasil, mas amo esse lugar, além do fato de meus amigos e família estarem aqui. Em São Miguel desenvolvi meus primeiros projetos e meus primeiros textos; conheci pessoas incríveis de projeção profissional e intelectual admiráveis, desde artistas e professores de universidades públicas e particulares até escritores, documentaristas, poetas, arquitetos, pesquisadores.
Senti raiva, mas não revidei o preconceito, apenas disse "tchau" e desliguei. Confuso, liguei para o número alternativo e a mesma Izaura atendeu. Debochada, riu, e disse que eu já havia ligado. Resolvi aceitar a realidade e marquei a consulta na Av. Paulista enquanto ela me tratava como se estivesse fazendo um grande favor.
Reservado o espaço na agenda para às 15h 45, desliguei o telefone para não levar uma multa. Liguei em seguida, agora para confirmar o número da minha carteira do plano de saúde. Como não uso o plano com frequencia tinha dúvidas de onde estava o registro que precisava informar.

A dor era outra
A todo momento me chamando de “bem”, Izaura disse que não tinha tempo a perder. Foi quando perguntei se ela estava nervosa. Retrucou dizendo que não tinha obrigação de marcar a minha consulta (que havia sido marcada, repito, há duas semanas) e desligou na minha cara.
Achei que eu fosse explodir. Na minha quarta ligação apenas desabafei. Ressaltei a forma como estava insatisfeito com o atendimento. Foi quando Izaura gritou comigo. Então disse que ela era uma grossa e mal-educada e mais uma vez o telefone foi desligado. A minha dor naquele momento já era outra, estava indignado e me sentindo um lixo. Decidi com minha namorada ir ao consultório. A ideia era falar com o médico sobre o episódio.
O endereço era pomposo: Av. Paulista, 2006, conjunto 1015. Uma bela recepção no hall de entrada, com um atendimento muito melhor do que o que receberíamos a seguir.
Enquanto esperávamos vi indícios de grosseria com mais dois pacientes. O consultório era uma saleta, com espaço claustrofóbico para espera e com algumas pessoas do lado de fora.
Quando Izaura leu o meu nome nos documentos, os olhos saltaram e sua voz alterou de tal forma que parecia que a estávamos ameaçando. O que eu queria era reclamar para o médico, mas fomos insultados por Izaura que, descontrolada, ameaçou chamar a polícia e bater na minha namorada. Não éramos bem-vindos pelo simples fato de estarmos insatisfeitos.
A decepção maior foi quando o médico José T.C. saiu da sala dele, e ao nos dirigir a palavra disse: "Aqui não é um hospital público" e zombou do nosso plano de saúde na frente de todas as outras pessoas.
Fui argumentar e o “doutor” virou as costas e bateu a porta. Izaura sorriu e, num momento de fúria, minha namorada jogou todos os papéis da mesa dela para o alto. Um ato impensado, num impulso que surgiu por uma pressão social, por uma ridicularização na qual fomos, gratuitamente, expostos.

Denunciar sempre
Denunciei o médico para o Plano de Saúde e irei redigir uma carta para a ouvidoria do Conselho Regional de Medicina. Jamais passei por isso, nem durante a produção de documentários ou matérias políticas, que acarretam dificuldades de abordagem. Quando o médico riu do meu plano de saúde o que ele queria dizer? “Cara, faça um plano mais caro e te atenderei melhor. Pois sou muito importante para receber tão pouco”.
A desequilibrada Izaura é fruto de uma liderança pífia e preconceituosa, é o resultado de uma total falta de qualificação profissional. Essa trupe de mal-educados, vide o recente exemplo das baixarias sobre os nordestinos no twitter, representa o que de pior há no sucateamento ético, moral e de atendimento do setor de Saúde Brasileiro. É a falta de respeito com o direito humano a saúde, que é constitucional. No meio de todo esse barraco a minha dor física ficou pequena e problema agora é moral. E pensar que tudo isso poderia ser evitado pela bela e boa educação, coisa que vem de berço e não se aprende na universidade.

Para reclamar:
- Saiba como denunciar (Conselho Federal de Medicina)
- Lista dos Conselhos Estaduais de Medicina por Estado
- Procon - Reclamações sobre Saúde - Planos de Saúde

Daniel Reis é jornalista

4 comentários:

Unknown disse...

Coloca o nome inteiro desse "ser safado", se ele assume atos de preconceito na segurança de seu consultório, nada mais honesto para ele, do que ele responder num meio social como a internet. Pessoas como o "Dr." José T.C. devem se responsabilizar pelos atos, eles salvam vidas, mas não são deuses.
Daniel Reis, se vc quiser aparecer com uma câmera lá, me chama!!! Irei armado de verdade e eduação e um pouco de pimenta. hehehe!

pedro disse...

Acho que você deve pensar seriamente em uma Ação de Indenização por Danos Morais contra esse médico. Não é pelo dinheiro, mas por esta dor na alma que te afligiu. É exatamente esse o termo utilizado pelos juristas para difinir o Dano Moral. Como você disse, o direito à saúde é um bem Constitucional, e o direito a honra também. O que fizeram com você foi um desrespeito de tal monta que meresse uma ação.
Pedro

Jéssica Santos disse...

To chocada com a falta de humanidade, respeito e já que eles nos tratam como clientes e não pacientes com a falta de profissionalismo. Achei que o plano tinha melhorado, até havia comentado o atendimento que eu tive na Unidade da Vila Mariana. Espero que a reclamação para os órgãos competentes surtam efeito, um médico como esse não pode continuar trabalhando.

Camila Telcontar disse...

É uma falta de respeito que os atendentes de todos os lugares fazem. Mas no caso de um estabelecimento médico, onde lidam com a saúde de um ser humano, isso deveria ser requisito básico. Acho que nas escolas de medicina eles tem uma disciplina chamada ética. Deveriam ter uma todo semestre pelo visto.

Acho que tem que reclamar com o conselho sim, divulgar o nome do infeliz para começar a perder clientes pelo menos.
E uma ação por Danos morais como disse o Pedro, acima, também seria bom. Pelo menos pra ver se ele começa a ter consciência.

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