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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Passageira da linha vermelha

Ser uma das 3,4 milhões de pessoas que diariamente embarcam nos trens do metrô de São Paulo tem se revelado uma experiência surpreendente – no bom e no mau sentido. Desde agosto, quando passei a ir para o trabalho por baixo da cidade, descobri que a precariedade do serviço apregoado pelo governo de São Paulo como “o melhor do Brasil, um dos melhores do mundo” é enfrentada pela multidão com uma solidariedade, por vezes “atropelada”, que desmente outro clichê – o da indiferença urbana.
O trecho que me cabe vencer de segunda à sexta-feira é o Barra-Funda-Centro (ida e volta), na mal afamada linha vermelha, a mais lotada de nosso superlotado metrô, onde se espremem diariamente 1,2 milhão de pessoas. Não é, no entanto, o pior percurso: quando espero o metrô para voltar para casa, por volta das 6 e meia da tarde na estação da Praça da Sé, vejo na plataforma oposta a aglomeração ainda maior de meus companheiros de linha vermelha do trecho Centro-Itaquera, esse sim o campeão de superlotação.
Aqui, devo fazer um parêntesis para explicar porque embarco na estação da Sé, sabidamente o pior ponto do metrô paulistano. Trabalho na rua São Bento, a uns 400 metros de uma das entradas da estação Anhagabaú, já na linha vermelha, e a não ser pela preguiça – a estação São Bento, da linha azul, fica a pouco mais de 100 metros do prédio – não haveria por que pegar a linha azul e baldear para a linha vermelha na temível Sé, onde se concentra o movimento do nosso ridículo metrô – as únicas linhas realmente prontas, a vermelha e azul, se encontram abaixo do ponto zero da cidade.
Mas, como avisei, o metrô paulistano sempre surpreende. Depois de algumas tentativas de embarcar na estação do Vale do Anhagabaú, descobri que existe sim algo pior que baldear na Sé: tentar entrar em uma das estações da linha vermelha na hora do rush (das 17h30 às 19h). São 15, 20 minutos de fila apenas para passar a catraca. Em um dia normal. Desisti definitivamente de tentar acessar a estação Anhagabaú no dia 21 de setembro de 2010, um marco na vida dos frequentadores da linha vermelha. Nesse dia, o metrô parou inexplicavelmente às 7h50 e depois de quase uma hora de sofrimento sem nenhum tipo de socorro, a multidão sufocada evadiu-se dos vagões pelos trilhos até a estação Tatuapé. Não participei desse horror – que pode voltar a acontecer a qualquer momento como veremos na próxima coluna – mas 11 horas depois desse episódio as filas para entrar nas estações da linha vermelha ultrapassavam 60 minutos de espera. Esse é o metrô de São Paulo. Vamos contar a verdade sobre ele. Desabafem aqui.

Marina Amaral é jornalista, mora em Perdizes e trabalha na R. São Bento, na Rede Brasil Atual. Estreia hoje no Nota de Rodapé com a coluna Passageira da Linha Vermelha.

5 comentários:

Cylene Dworzak disse...

Marina, como fiel usuária da Linha Vermelha durante 4 anos afirmo que perdi as contas de quantas vezes, neste período, fiquei presa em vagões - com ou sem luz. E qtas horas na plataforma cada vez mais lotada com os trens parados. E por falar em paradas, e as paradas de trem pra retirar objetos das vias? Às vezes demora tanto, mas tanto, que é impossível não pensar que é mais um corpo! A verdade, minha cara amiga, é que o metrô de São Paulo é sim muito bom, comparado à outras capitais pelo mundo - o de Viena, por exemplo, é nojento de sujo. Mas está longe, muito longe de ser suficiente e eficiente.
Beijo procê querida! Saudade!

Reinaldo disse...

Recomendação àqueles que tomam o Metrô na Zona Leste em direção à Sé, pela manhã. Ao se aproximar da estação Brás, nunca (NUNCA!) fiquem na região das portas - rumem para os corredores. É que o pessoal que embarca no Brás, vindo dos horríveis trens da CPTM, fazem-no de forma tão volumosa e violenta que não é nada incomum pessoas serem expelidas do vagão pela porta oposta.

Esta é a "eficácia" do Metrô e da CPTM. Um desrespeito diuturno ao cidadão, que, impotente, desistiu até mesmo de reclamar.

Flavia disse...

Olá Marina, sou PHD em trem e metro da zona leste, moro a 11 anos em Itaquera e sempre trabalhei no centro, já pensei até em escrever um livros sobre minhas aventuras no transporte, e oh que não são poucas. Mas de uns 3 anos para cá a coisa ficou pior, não tem dia nem horário que os trens da CPTM e METRO não estejam cheios e/ou com problemas. Parei de ir de metro, porque a viagem de Itaquera até a Sé, que era feita em 20 ou 25 minutos, passou a ser feita entre 50 a 60 minutos, isso em dias normais, quando chove, é melhor nem contar. Eu moro próximo a estação Dom Bosco da CPTM, antes da implantação do bilhete único, eu conseguia entrar no trem, com destino a Luz. Hoje eu preciso voltar até Guaianases para poder ir para a Luz depois faço outras duas baldiações até chegar a estação trianon masp onde desço. Em Guainazes não é diferente, a grande população que vem da região de Mogi e Suzano, o trem já sai lotado, sem condições para que os demais usuarios das estações de Jose Bonifacio, Dom Bosco e Itaquera, façam uma viagem digna dos R$ 2,65 pagos pelo torturante transporte. Eu que tenho apenas 1,50m de altura, não consiguo entrar, portanto, só voltando. E lhe digo, na linha azul (luz)não é diferente e na linha verde na estação do Paraíso (sugiro mudança de nome para inferno), é tão ruim quanto. A cidade não tem para onde correr. Enquanto tudo se concentrar no centro, será este inferno. Imagino que os responsabeis pelo transporte, com certeza não se utilizam deles.
Meu nome é Flavia de Menezes, sou jornalista de formação e administradora por função. Esse blog é demais.

André Rossi disse...

Bom, eu tomo na zona sul, em um horário filé (11h), então não pego muito sufoco. Destaco o cheiro de esgoto na estação São Bento e as sistemáticas quebras das escadas rolantes. É incrível como sempre pego, tanto na São Bento quanto na Santa Cruz (minha origem), gente fazendo manutenção. De bom, somente a dedicação dos funcionários.

marina amaral disse...

Caros,
Vamos colecionar essas histórias de nosso cotidiano no metrô e pedir para a empresa responder. Prometo.
Marina

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