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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Aeroportos: frases que vamos ouvir nos próximos dias

Galeão Cumbica:
"No aaaaaaaaaaar!"
"Atenção passageiros
com destino a
....
Portadores de ficha da cor
..,
especifiqueeeeeeee!!!
Prepara-se para quinta-feira (23), no mais tardar sexta (24), uma “crise” nos aeroportos brasileiros. A notícia de que haverá greve dos aeroviários coloca setores da grande imprensa de cabelo em pé. Pouco atentos ao caos do metrô de São Paulo ou aos ônibus mais escassos e mais lotados que nos brinda a administração paulistana, os colegas jornalistas insistem em se fazer porta-vozes da classe média – para se aprofundar nesse tema, sugiro leitura de texto escrito no meio deste ano.
O fato é que o noticiário dos próximos dias, a se confirmarem os atrasos nos voos, estará recheado de frases deliciosas sobre impostos e direito de ir e vir. Decidi não ficar de fora do movimento: pedi dispensa do trabalho e, na quinta-feira, darei minha contribuição ao Jornal Nacional. Vou vestir uma camisa pólo simuladamente comprada nas últimas férias em Miami, pedirei ao camelô que me venda a melhor imitação de óculos de sol marca “Classe Alta”, e irei para Congonhas – porque Cumbica é muito longe, um horror, tem de atravessar a zona leste toda, Congonhas é muito mais chique.
Ainda preciso ver se algum parente permite que leve uma criança para tornar a situação mais real. Acompanhado de uma mulher maquiada como se fosse ao baile de gala, com vestido longo e tudo o mais a que se tem direito, entrarei na frente da câmera da Globo disposto a ganhar destaque nas manchetes do JN. Imaginem a escalada da noite de quinta-feira:

William Bonner: Caos nos aeroportos
Fátima Bernardes: Atrasos e cancelamentos transformam em um inferno a vida dos brasileiros

Entra minha fala – sempre entremeando momentos de fúria e de total descontrole, aos prantos. “Eu só quero viajar. Quero o direito de minha família de viajar” - essa é a parte da fúria. “Meu Deus, eu paguei impostos o ano inteiro, trabalhei, e agora não tenho o direito de levar minha família para descansar na Europa?” - essa é a parte do choro, à qual se segue uma cena tatu-bola, que é aquela em que um adulto rola no saguão do aeroporto feito criancinha, chorando muito e clamando por uma solução. Enfim, terei dado minha contribuição ao noticiário da classe média e, de quebra, serei famoso. Um dia incrível.

PS: para boa parte dos que estarão nos aeroportos, será um dia de muita alegria, com o primeiro voo de suas vidas. A eles, a todos, uma boa viagem.

João Peres é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

Um comentário:

Viel disse...

Esse jogralzinho do Bonner e da Fátima é genial. E se o JN fala que a vida dos brasileiros se transformou em um inferno é porque é verdade.

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