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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 17 de março de 2011

Do grego antigo, aimorrois

Faz tempo que não passo por aqui. Quase oito meses desde minha última consulta. E esse negócio de Quick Terapy realmente pegou no país. Até o Lula fez quando deixou a presidência e parece que a Dilma vai na mesma profissional que ele. Dizem que é uma húngara que mora no país há 50 anos, que perdeu a clínica que mantinha na época do plano Collor e que nunca mais atendeu. Agora ela oferece a Quick Terapy para celebridades, políticos e gente graúda. Fez uma franquia que lhe rende bons trocados mensais. Se ela tiver o Eike Bastista de cliente vai se dar bem. Apesar que ele reclamaria de que? Que ganhou mais um bilhão? Enfim...
Tô aqui pra falar de mim, né? Para um homem esse assunto, viu doutor, é tabu. Mas vamos lá, a autoestima está baixa. Estou, sem delongas, com hemorróidas. Pois é, tendo de passar pomada e usar supositório faz uns dois meses. Minhas veias do reto e ânus se voltaram contra mim. O momento de cagar sempre foi dos meus preferidos do dia. O ócio criativo que prega o Domenico de Massi eu exercia nessa hora, quase no mesmo tempo dessa nossa consulta; 15 minutos de pura reflexão.
E agora tenho que sentar com todo cuidado. Usar almofadinha e carregar minhas pomadas na mochila. Sabe, constragedor esse tipo de problema. E ainda não contei pra ninguém. Só o médico e você é que sabem. O outro dr. falou que logo, logo estarei curado. Espero mesmo. Não vejo a hora de poder ler Mafalda sem passar mal e ficar horas sentado vendo televisão ou lendo um bom livro. Nesses dois meses me readaptei: 1) fico mais em pé do que sentado 2) ando na rua desconfiado 3) cortei a pimenta e o picante da comida 4) estou ficando sem dinheiro por conta dos remédios que preciso comprar 5) não flertei com mais ninguém desde então e por aí vai... 6) por conta do tema 5 não transei mais.
E colocar o supositório, então? Porra, sensação horrível. Não dói nada, claro, mas o ato de introduzir aquilo é algo que me amargura, me deprime. Já passou por isso? Ahhh, ainda bem que não, viu dr. E tem mais: estou gastando mais água, a conta subiu 100 reais. Toda vez que uso o banheiro tomo banho. É que estou proibido de usar papel higiênico para não piorar a situação. E sempre usei papel bom, desses macios... E daí que me recuso a usar o famoso bidê. Até porque, no meu caso, o meu bidê é só uma mangueira. E acredite, a água sai com uma potência tão grande que apagaria qualquer pequeno incêndio no meu apartamento. Daí usar em mim tem uma distância muuuuito grande. Já testei de curioso e fechei a janela do banheiro com a força da água. Aquilo é uma arma.
Como lidar com essa situação, hem, dr.? O que? Hã-hã, tá, em cinco minutos a gente podia tomar aquele prometido cafezinho e fazer a fézinha na mega-sena dessa semana. Aliás, te devo dez contos do último jogo que você pagou pra mim.

Fredo Sidarta, poeta, escreve sobre suas sessões de quick therapy (consultas de 15 minutos com o psicólogo) no espaço Cronetas do NR.

Um comentário:

Anônimo disse...

senta na boia!

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