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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Escambo e telegramas do Wikileaks

A julgar pelo conteúdo de telegramas do Departamento de Estado dos EUA, o Brasil poderia ter enorme campo de manobra para barganhar bastante a compra bilionária dos novos jatos para a Força Aérea brasileira. Acontece que a agência noticiosa Reuters se deu ao trabalho de garimpar na montanha de telegramas do wikileaks coisas que pareciam insólitas. Eles toparam com misteriosas negociações entre exportadores militares americanos e governos estrangeiros, intermediados pelo departamento de Estado.
Por exemplo, a Lockheed Martin queria vender aviões C-130 de transporte militar pesado para o Chad, mas o departamento de Estado observou que o país não tinha como pagar a conta e além disso havia mentido sobre o uso dos aviões, que seriam usados para bombardear revoltosos e não para transporte de cargas. Mesmo assim deu sinal verde para a transação para reforçar alianças regionais.
O acordo que mais interessa ao Brasil foi a tentativa da Lockheed Martin vender caças F-16 para os miltares tailandeses. Como aqui, lá os soviéticos e suecos estavam na concorrência, oferecendo caças parecidos em pacotes com diferentes vantagens. A Lockheed descobriu que os militares, sem muitos dólares disponíveis, estavam dispostos a fazer um inusitado escambo, pagando em mercadorias. O departamento de Estado concordou porque os soviéticos iriam ser derrotados na transação e porque a Lockheed iria ter um lucro tremendo. O pagamento iria ser feito com 80 mil toneladas de frango congelado, com grande valor de mercado. A transação só não deu certo porque outra junta militar derrubou a anterior e preferiu vender os frangos no mercado.
Dai o Brasil poderia tentar incluir alguma forma de escambo nas negociações. Talvez cachaça para os russos, mulatas para os franceses, estatais para os americanos e, para os suecos, eu não sei o que eles gostam.

Flávio de Carvalho Serpa é jornalista, especial para o NR

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