.

.
30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 4 de março de 2011

MP3, INPS, Justin Bieber e Içami Tiba

Juro que pensei em perguntar para a psicóloga da escola com quantos anos ouviria o primeiro “ai mãe, que saco”. Porque achei que demoraria pelo menos uns 12 anos, mas veio muito antes. Do alto de seus 6 anos de idade, meu filho fala essa frase pré-adolescente várias vezes ao dia.
"Ai, mãe, que saco"
Mas parece que todas as crianças pós anos 2000 são adolescentes mirins! São preocupadas com roupas, querem ter o cabelo do Justin Bieber, andam com fones de ouvido e games de mão… Aliás meu filho ganhou um MP3 player do pai, me fez baixar as músicas preferidas e eu nem pude opinar. “Podemos colocar um Chico Buarque aí? Um Velvet Undergound?” “Ah não, mãe, que saco”.
Mas um dia ele me pediu: “mãe, pega meu INPS”. “Que?” “Meu INPS, mãe, quero ouvir música”.
Enfim. Em minha defesa, devo dizer que não incentivo essa precocidade, mas ela está presente. Na escola, nos amigos, primos, irmãos… Em vez de culpar a internet, a Era, a publicidade, comecei a achar que a culpa é nossa mesmo. Da minha geração de mães em surto. Aliás, esta aqui faz 29 primaveras no próximo dia 15 - mais um colar de macarrão ou um porta lápis de palitos de sorvete para a coleção. Uma amiga (sem filhos, claro) ficou indignada no dia em que revelei que não, as mães não adoram os colares de macarrão. Elas guardam, agradecem, dão beijos e colocam em exposição, mas é para não frustrar o processo criativo dos filhos, ok? Convivam com isso. Desculpem a mudança de tema.
Justin: parte da mulecada quer
ter o mesmo cabelo que ele
Já reparei que as mães em surto de até 35 anos costumam tratar os filhos de igual para igual. A gente não fala “ai, ai, Joãozinho, que feio”. Diz: “Pô cara, que vacilo!” Ou “ Ah, meu não acredito…” e acaba tratando eles como iguais: às vezes eles como adultos, outras, nós como crianças. Não esqueço o dia em que uma amiga recém separada contou toda triste que o filho de 3 anos não queria tomar banho e após o estresse básico que estas situações causam disse: “Quero morar com o meu pai”. Em vez da mãe pensar como adulta, que aquilo era apenas uma defesa da criança, que sabia que isso iria feri-la, ficou triste, chorou, virou a cara para o menino por alguns instantes, chegou a dizer “poxa, mas sou eu que faço tudo sozinha por você, cuido, pago as contas, sabe?" Não, ele não sabe! Tem três anos!
O fato é que não temos como saber no que isso vai dar. Nem saber se é politicamente correto. Provavelmente o Içami Tiba diria que é errado… Mas cadê os educadores que escrevem livros quando a gente tem que dar banho na criança com uma mão, pagar uma conta com a outra, depois de um dia punk de trabalho e ainda lidar com a culpa de estar aqui com a cabeça lá e lá com a cabeça aqui?
No Facebook: 
Se você gostou do conteúdo do NR curta lá nossa página.
Mas posso dizer com orgulho que todas as mães em surto que acompanho de perto têm feito um bom trabalho. Amam e defendem suas crias como nunca e são sinceras sempre. Nada de mentiras sobre pai que foi viajar e já vem: o papai foi morar na casinha dele porque nosso casamento não deu certo. Mas ele te ama mais do que tudo e a mamãe também. E choram na frente das crianças quando não conseguem segurar, e explicam que às vezes as mamães também ficam tristes e choram e que tudo bem, vai passar.
Para todas as mães em surto, e as que ainda não são mães ou que ainda não surtaram, meu feliz dia internacional da mulher.

PS: Aliás, esta coluna está chique este mês! Vai aparecer em uma matéria especial sobre mulheres guerreiras na Revista do Brasil. Se passar por uma banca, espia lá!

Andrea Dip é jornalista, mãe do David e mantém a coluna Mãe em Surto.

6 comentários:

Anônimo disse...

matéria muito boa e realista,as fraquezas devem ser expostas aos filhos para que os mesmo sejam ensinados pelos pais como lidarem com essas situações!

Parabéns Andrea

Janaina disse...

Oi, Andrea" É a primeira vez que passo aqui e só tenho a elogiar. Como boa mãe em surto que sou, já passei por todos esses dramas (e ainda passo) com meu filhote de 6 anos. E fico feliz em saber que não sou a única e nem sou pior do que ninguém por isso. Obrigada pelo texto! =)

Thiago Beleza disse...

Olha, até curti o texto, mas esqueceram de te avisar que ciudar dos filhos não é exclusividade das mães.. òbviamente isso é uma realidade, mas tratar do assunto com naturalidade não ajuda em nada pra romper com esse paradigma de A MÃE cuidadora e O PAI provedor...

Graças a essa bizarrice, homens que se dedicam aos seus filhos são considerados seres de outro mundo, qdo a atitude deveria ser mais encorajada...

andrea dip disse...

Thiago, não acho que pais que cuidam dos filhos sejam bizarros, admiro muito e sei que existem muitos homens que são ótimos pais!
Mas se você ler os outros textos, vai perceber que esta é uma coluna que fala especificamente sobre mães e filhos! Um beijo e obrigada por comentar!

Alexandra Di Profio disse...

COMO EDUCADORA E TERAPEUTA (E JÁ AVÓ)POSSO AFIRMAR QUE É MUITO LINDO VER PAIS E FILHOS TENDO CONVERSAS FRANCAS, NÃO DE CIMA PARA BAIXO, MAS OLHO NO OLHO. A TROCA É RICA DEMAIS E OS "SURTOS" FAZEM PARTE DO APRENDIZADO E DO CRESCIMENTO. MAS CERTAMENTE AS CRIANÇAS QUE SE RELACIONAM ASSIM COM SEUS PAIS, COM LIBERDADE DE DIZEREM O QUE PENSAM E SENTEM, OS RESPEITARÃO SEMPRE.

Anônimo disse...

vou mandar pra minha filha ler, porque ela tem dois: quase 6 e 2,e ela surta algumas vezes por dia.
infelizmente ainda é raro pai que participa mesmo, é bem raro.

Postar um comentário

Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.

Web Analytics