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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

E a novela continua...

Acredite quem quiser, mas a novela “Amor e Revolução” continua o seu calvário no SBT. A última pesquisa do Ibope (06 de junho) apresentava um índice de audiência de 3%, o mais baixo entre as novelas que estão sendo apresentadas no momento. Segundo o Instituto de pesquisa, para cada 100 televisores ligados no horário, apenas seis estavam sintonizados na novela. E isso é mau, segundo os especialistas no assunto.

Até aí nada de mais, pois sempre haverá um dos folhetins eletrônicos que ocupará a última posição na pesquisa, até mesmo com índices de audiência maiores do que este apresentado por “Amor e Revolução”. O grande problema é que os autores ainda não conseguiram encontrar o norte, o rumo certo para o enrosco em que se meteram. E tenho sérias dúvidas se o encontrarão.

Não me parece que o gênero telenovela, tal qual é feito no Brasil, aceite qualquer tema para ser dramatizado, sobretudo quando se trata de “contar histórias” a partir da realidade. E quando essa realidade envolve questões políticas, opções ideológicas, luta de classes, o confronto visceral entre ditadura e democracia, por exemplo, e ainda traz no seu bojo feridas não de todo cicatrizadas pela sociedade brasileira, torna-se necessário que seus autores conheçam minimamente o assunto que escolheram. E esse, definitivamente, não é o caso.


E não lamento. Ao contrário: quando ainda tenho paciência para ver algum capítulo e as situações e diálogos ridículos e inconsistentes que tentam fazer avançar uma história sem pés nem cabeça, compadeço-me com o desrespeito à memória de homens e mulheres como Carlos Marighella, Mário Alves, Heleny Guariba, Iara Yavelberg, Eduardo Leite (o Bacuri), Joaquim Câmara Ferreira, Carlos Lamarca, Aurora do Nascimento Furtado, Vladimir Herzog, Maria Lucia Petit, Rubens Paiva, Maurício Grabois e tantos outros que perderam a vida para que o Brasil não só recuperasse a democracia que lhe haviam aprisionado com baionetas e canhões, mas que pudesse também ser um país de maior igualdade e justiça social.

Não deixa de ser curioso que um grupo de militares, assim que os primeiros capítulos foram ao ar, manifestassem a intenção de impedir a exibição da novela sob a alegação de que ela dava uma ideia preconceituosa de nossas FFAA. Atitude, quanto a mim ridícula e desnecessária, pois além de afirmarem na prática o sentimento autoritário que caracterizou os seus pares nos anos 60/70, não atentaram para o fato de que a estrutura da novela, digamos desse modo, ridicularizava também a esquerda revolucionária.

A tal ponto, que mais recentemente um grupo de militantes da época organizou um abaixo assinado na internet pedindo que os autores da novela excluíssem dos depoimentos finais as opiniões de defensores do golpe e dos métodos empregados para livrar o Brasil do comunismo, sob o argumento de que o país está para aprovar a Comissão da Verdade justamente para passar a limpo esse período e punir os torturadores.

Concordo com o argumento, mas não concordo com o método, pois seria também uma forma de censura e o que é pior: daria subsídios aos criadores da novela para que, falaciosamente, argumentassem que faziam uma novela “democrática”, dando voz aos dois lados da contenda.

Com essa fraca audiência, a pergunta que se torna necessária é a seguinte: se a novela, de grande realismo – segundo os autores – pretendia mostrar às novas gerações o que foi o Brasil dos anos 60/70 (assunto para o qual não se prepararam, insisto) o que explica audiência tão baixa? Estão as novas gerações desinteressadas do assunto ou perceberam que estão diante de uma tentativa de se vender gato por lebre?

Izaías Almada é autor entre outros do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Editora Boitempo) e colunista do NR.

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