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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Notas sobre Praga


No avião meu pensamento era “Praga é indescritível”. Por n razões, acho que é mesmo. Aterrissamos no aeroporto Ruzyne por volta das 10h da manhã. Ao chegar a República Tcheca o primeiro estranhamento é sua moeda, a Coroa (ou Koruna, em tcheco).


O bilhete do aeroporto ao centro custava 32, saquei então 300 para toda a viagem. Engano ao qual percebi quando passei pela casa de câmbio: uma Libra equivale a 30 coroas. Ou seja, o dinheiro não vale nada, e passei toda a viagem fazendo cálculos difíceis (para minha cabeça de jornalista) a fim de descobrir quando as coisas realmente custavam.

O bilhete incluía ônibus e metrô até a estação aonde deveríamos descer. Nenhum dos dois tem catraca, como alguns outros países por aqui, apenas um pequeno poste para validar o tíquete.

Durante o percurso via ônibus vejo o orvalho pela grama e grades, mas minha esperança de ver neve não se confirmou. Nosso destino, Staromestská, no coração da cidade, de onde passamos pelo café Kafka até a praça central – ali estão a igreja de Nossa Senhora de Tyn e o relógio astronômico. Este está instalado numa torre de onde vê-se toda a cidade, e tive a sorte de subi-la num momento mágico de luz.

Outro ponto famoso é o castelo de Praga, numa encosta de onde é possível admirar a cidade e o rio Vltava. Meus pés quase congelaram com -1oC, todavia faria novamente todo o trajeto. Na verdade tal temperatura não é tão insuportável, apenas no dia seguinte troquei o casaco de dentro por um mais quente, coloquei duas meias e minha bermuda de dormir por baixo da calça.

A hospitalidade dos habitantes locais é inversamente proporcional às belezas da cidade. Aprendi três palavras para ser cordial, ahoj (oi), dekuji (obrigado) e prosím (por favor), que a recepcionista do hostel nos ensinou sem muita vontade.

Mesmo assim o atendimento não muda muito – em quaisquer estabelecimentos fui tratado como se estivesse pedindo um favor dificílimo de ser feito. Mesmo que quisesse apenas comprar um refrigerante. Não há supermercados, mas pequenos mercadinho estilo “de bairro”.

Ao comprar uma bolacha e verificar que me devolveram 100 coroas a menos, tentei polidamente requerer o montante. A mulher não somente olhou dentro da minha carteira para ver se não tinha dado a quantia certa como ao me entregar resmungou algo tipo “cai fora daqui”. Já a garçonete do café no castelo, questionada sobre quando custava um chocolate quente, respondeu-nos em tcheco, falou meia dúzia de coisas, trouxe a conta, disse mais um monte de palavras que não faço ideia e apenas compreendi “pay, pay, pay”.

Dois figuras no entanto foram muito gente-fina. Um, Richard, um angolano que entregava flyers de um restaurante e nos ajudou a encontrar o hostel. Ficou feliz ao ver que retornamos à noite ao seu restaurante para jantar; casado com uma tcheca e com dois filhos (cuja foto nos mostra no celular), fala um pouco de sua vida na República Tcheca.

O outro, Jan, encontramos no bistrô mánes (fiz uma foto em homenagem à manezada da ilha). Ele deve ter uns 60 anos, trabalha ali e em um restaurante, dois empregos numa cidade a qual considera cara. No mapa nos mostra um bom caminho para passear, além de sua casa.

Pergunto sobre um drinque local, ele sugere Becherovka. Seu inglês não é muito bom, entretanto se esforça para nos entender. Pelo que percebo, a bebida é feita com algum arbusto cultivado ao leste da República Tcheca. Saborosa.

Os Tchecos adoram vinho quente – algo muito similar ao nosso quentão. A propósito, a feira da praça central é praticamente uma festa junina, várias barraquinhas, palco, comilanças. Eles fazem um doce que lembra uma massa de croissant enrolada num cilindro metálico que fica assando na brasa, o ceske trdlo.
Também lombo suíno e uma espécie de nhoque sem molho, feito na chapa com cebola e bacon. Bem sem graça. A cerveja é Pilsner Urquell, bastante encorpada e saborosa. Impressionou-me também a quantidade de luvas perdidas pela rua, se juntasse todas teria uns quatro pares.

Dormi confortavelmente no aeroporto esperando o vôo das cinco da matina. E vi as duas policiais mais bonitas da minha vida, tentei tirar uma foto com ambas, sem sucesso. Realmente, Praga é inesquecível.

Pedro Mox, fotógrafo, especial para o NR

4 comentários:

Fernando Evangelista disse...

Caro Pedro,
Já conhecia teu belíssimo trabalho como fotógrafo, mas não conhecia a beleza do teu texto. Parabéns, cara. Fiquei com vontade de passar um tempo em Praga, apesar da má -vontade de alguns locais com os turistas.

Marcelo Migliaccio disse...

É isso ai Pedro, belo texto, belas fotos. Abração, primo.

Brandão disse...

Grande Pedro
mais um belo txto para belas fotos.
Abs.

Sergio Vignes disse...

muito bom pedrinho, deu vontade de visitar, valeu

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