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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Qual classe média, presidenta?

 Geraldo e Dilma em evento na semana passada em SP
A afirmação feita por Dilma Rousseff na última semana em São Paulo é sintetizadora da visão que a presidenta vem expondo ao longo de pouco mais de um ano de mandato.

“Queremos um país com pessoas ricas e prósperas, mas principalmente um país de classe média. E ninguém é classe média se não tiver sua casa. Ninguém”, afirmou ao lado do amigo tucano Geraldo Alckmin durante assinatura de convênio para o programa Minha Casa, Minha Vida 2.

A frase mostra que a presidenta, a exemplo dos caciques do PSDB, confunde cidadania com consumo, conceitos nada parecidos. Não há problema algum na intenção de compra da casa própria, e é algo economicamente estimulado em uma cidade como São Paulo, em que o valor do aluguel pode superar o valor da parcela do financiamento imobiliário.

Mas daí a achar que se trata de um pré-requisito para ingressar na classe média guarda-se uma distância. Ser classe média, no caso brasileiro, deveria significar a garantia financeira de cumprimento das funções básicas (alimentação, vestuário) e o acesso aos serviços públicos fundamentais (saúde, educação, transporte). Dilma, porém, parece nutrir uma visão não muito diferente da patética classe média resumida na música feita em 2006 por Max Gonzaga.
“Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio coletivos
E vou de carro que comprei a prestação”
Em vez de valorizar propostas coletivas de construção da cidadania, Dilma parece preferir iniciativas galgadas na conquista individual, estimulando ao crescimento da massa trancafiada em seus automóveis nas grandes cidades e em condomínios cercados em todas as demais.

Obviamente, não se trata de desprezar realizações do primeiro ano do novo mandato, ainda que poucas e, em geral, de continuidade e melhoria da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

Nesta linha de pensamento, e de novo próxima ao ideário tucano, Dilma prioriza as liberdades individuais às liberdades coletivas, o que explica o veto ao kit contra homofobia produzido pelo Ministério da Educação.

"Não aceito propaganda de opções sexuais. Não podemos intervir na vida privada das pessoas" foi a infeliz afirmação feita à ocasião, submetendo o dever do Estado de combater o preconceito ao “direito” individual de ser homofóbico.

Com um balanço assim, difícil imaginar que Dilma queira avançar na regulação da comunicação. Até hoje evitou posição clara sobre o assunto. Nas poucas vezes em que comentou indiretamente a questão, no entanto, deu a entender que só gosta do controle remoto, abrindo mão do papel do Estado de regular um setor que descumpre quatro artigos da Constituição. Haja equívoco.

João Peres, jornalista, mantém a coluna mensal Extremo Ocidente no NR

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