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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Texto pronto

Gosto de ver novela. Uma por dia está de bom tamanho, então é aquela que passa depois do jantar. Por inércia, vejo a da Globo, que parece que ainda tem a qualidade menos pior, não sei por quanto tempo mais.
O título, o autor e o elenco não importam muito, só não suporto os enredos francamente imbecis. E não acho que novela tem que ensinar coisas altamente edificantes. Tem é que divertir, distrair mesmo. Então eu me jogo na cama, recostada, e fico ali vendo aquelas histórias quase sempre tolas e absurdas, sem pensar em nada. De preferência, acompanhada do meu filho, e a gente se diverte comentando as bobagens e os desempenhos ótimos ou desastrosos, e adorando as cenas de baixaria, sempre as nossas preferidas.

As personagens sempre sabem o que dizer. É óbvio que a qualidade do texto depende da competência do autor, mas não faltam uma boa resposta, uma má-criação rápida e certeira, um elogio preciso, uma declaração de amor caprichada, uma frase espirituosa. E aí eu fico pensando em como seria bom ter um texto pronto à minha espera.

Sim, porque não sei como é com os outros, mas eu sempre demoro pra pensar na melhor frase ou na resposta boa e aí, geralmente a ocasião já passou ou a oportunidade foi perdida. Isso acontece especialmente quando a conversa ou comentário é sobre mim mesma. A pessoa diz alguma coisa que toca num ponto sensível, que merece que eu me defenda ou modifique a perspectiva do que está sendo falado, e eu fico ali, feito uma idiota, dizendo qualquer coisa desimportante, quando devia ter dito isso e aquilo e aquilo outro, que eu só formulo alguns minutos depois, mas aí já não serve pra nada. Ai que ódio!

Acho que é também por isso que leio livros e vejo filmes e novelas. Pra me sentir vingada da minha parvoíce naquelas frases encadeadas, na reflexão instantânea e tão interessante que a personagem faz diante dos meus olhos, na ironia certeira, na capacidade de dizer exatamente o que aquela pessoa que a está ferindo ou maltratando precisa ouvir naquele momento. Dá uma sensação boa de alma lavada e também uma esperança de que quem sabe da próxima vez eu consiga fazer a mesma coisa.

Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo no NR.

4 comentários:

Fernanda Pompeu disse...

Delícia. Lendo você, meu café da manhã fica mais saboroso. Muito bom, Júnia!

Anônimo disse...

CONTINUA BRILHANDO.Sempre pensei que você fosse caladinha em atenção ao ditado : "Falar é prata, calar é ouro". Pois,daqui por diante, deve deitar falação com o mesmo bom humor que põe em suas palavras. É gostoso e divertido o modo como você escreve,dentro de uma linguagem séria e, ao mesmo tempo, clara e divertida.
Beijos da Mummy

coresentrenos disse...

Pronto.
Disse e repito, pronto.
Quantas vezes em pensamento falei, perguntei, respondi, soltei um palavrão ou mesmo declarei minha admiração e amor. Tudo fez e faz parte da minha construção. Inclusive as respostas dos outros e o textos da "outra". Vc disse tudo.
É isso, quero sempre que precisar, ter um texto pronto.
bjo

disse...

Essas "vinganças vicárias" dão sabor à vida da gente, né?

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