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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Coisas que não mudam

Os escritores menores de 30 anos, quando tenho a honra de encontrá-los, me perguntam como era escrever antes do computador. Melhor ainda, perguntam como era corrigir, trocar palavras, deslocar parágrafos sem o Word.

As aspirantes a escritoras, miúdas menores de 20 anos, quando tenho a alegria de encontrá-las, indagam como era escrever sem uma tela para visualizar as palavras. Como era possível pesquisar qualquer informação sem o google.

Nessas ocasiões, me sinto encantada em desenhar a complicada máquina de escrever. Conto como era pôr, travar, retirar o papel. Como era trocar as bobinas das fitas de tinta. E evoco o "branquinho da redação" – liquidozinho que fazia a vez da tecla del.

Agora o pessoal fica mesmo boquiaberto quando explico que não medíamos a extensão do texto por caracteres. Medíamos por toques. Isso mesmo: a tecla da máquina imprimia na lauda uma letra ou sinal, aí contava-se 1, 2, 20 toques.

Para tirar cópias? Ou corríamos até a papelaria da esquina para xerocar, ou usávamos papel carbono na hora mesma de datilografar. Tudo muito tátil, muito físico. Também o envio do texto era pelo correio ou pessoalmente.

Contando dessa forma parece que estou descrevendo uma época situada na Idade Média. Época em que vampiros e demais fantasmas disputavam espaços com as pessoas. No entanto, há menos três décadas, o mundo dos escritores e jornalistas era assim.

O mais curioso é que quem viveu essa história não sabe exatamente como suportou um jeito de escrever tão detalhista e laborioso. Algum leitor ou leitora, nascido depois dos anos 1980, tem ideia do trabalho que dava rescrever um parágrafo?

Mas toda essa conversa é para dizer que algumas coisas do ofício da escrita não mudam nunca. Se mantêm da pena de ganso ao Mac. Por exemplo, o momento dramático de começar um texto, cômico de continuá-lo, épico ao finalizá-lo.

E a sensação terrorífica que desta vez, não importa que seja o milésimo segundo texto que você escreve, o trabalho não acontecerá. Desta vez as palavras não pousarão nos nossos dedos. Antes, era o medo do papel em branco. Hoje, é o da tela vazia. Dá no mesmo.

fernanda pompeu, webcronista do Yahoo e colunista do Nota de Rodapé, escreve às quintas.

2 comentários:

Anônimo disse...

É, Fernanda. São Tomé das Letras que nos ajude, sempre. E vamos que vamos. Júnia

CLinck disse...

É, é sim: a Arte do recheio entre o - New/Novo - e o - Save/Send -, tem que ser preciosa e inspirada como sempre. Desde a primeira pedra entalhada, assim como fazes você... ohhh yehhh!!!

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