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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

princesinha da história

Para muita gente ela é uma cidade dentro de outra. Para os mais fanáticos, um planeta. De fato é um dos lugares mais famosos do Brasil. Mesmo quem nunca a viu, sabe de sua existência. Com vocês: Copacabana!

Você escolhe: cara ou coroa. A face mais conhecida do bairro, sem trocadilho, é a solar. Copacabana da praia, da areia macia, da bossa nova, da água de coco, da calçada com desenho de ondas. Copacabana celebrada por tantas feras da canção popular.

A outra, noturna. Copacabana do sexo rápido e pago, dos cafetões, dos inferninhos, do éter, lança-perfume, cocaína. Dos larápios mirins e marmanjões, da bala perdida. Copacabana das ressacas dos bêbados e do mar.

É o bairro com o maior número de fãs por metro quadrado. Meu pai, hoje mesmo, me contou uma história deliciosa. A de uma bancária que morava no Copacabana Palace. Ela consumia todo o salário mais uma renda extra para morar no cartão-postal.

Não vou alugar seu tempo. Cinema, rádio, tv, jornais, revistas, livros, internet não se cansam de contar Copacabana. Quase todo mundo tem uma historieta com ela. Mesmo que seja ter passado um único réveillon em suas areias.

Vou falar da Copacabana quando todavia não existia Brasília. Quando o Rio de Janeiro, capital federal, era o centro da intriga e da movimentação política. Quando a vizinha Ipanema era praticamente uma aldeia.

Pois anote: 5 de agosto de 1954. Na rua Toneleros, 180, em frente ao prédio em que morava, Carlos Lacerda sofreu um atentado. Saiu ileso, mas o seu segurança major Rubens Vaz levou dois tiros. Morreu na hora.

A sequência do episódio todo mundo conhece. Lacerda acusou o presidente Getúlio Vargas de conivência com os atiradores. Crise total. Dezenove dias depois do atentado da Toneleros, Getúlio saiu da vida para entrar num caixão. Ops! Para entrar na história.

Além de Lacerda, moraram em Copacabana: Benedito Valadares, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Café Filho, Carlos Luz, Tancredo Neves, Magalhães Pinto, Nereu Ramos, Armando Falcão, general Lott – o da espadinha.

O jornalista Claudio Bojunga, na sua magnífica biografia "JK - o artista do impossível", escreve o seguinte: "Nos anos 1950, todas as luzes se voltavam para o palácio do Catete, mas os scripts eram escritos em Copacabana".

Diga-se a verdade, scripts de golpes e contragolpes. Mas ainda bem que o lugar escreveu outras páginas. Ruben Braga fez o seu "Ai de ti, Copacabana!". Nelson Rodrigues pôs o bairro em muitas de suas crônicas. Todas magníficas.

Termino citando o poeta que virou estátua na orla de Copa. O mineiro Carlos Drummond de Andrade. Aquele que pôs a cidade natal – Itabira – pendurada na parede. Aquele que escolheu Copacabana para se inspirar e, generosamente, nos encantar.

fernanda pompeu, webcronista do Yahoo e colunista do Nota de Rodapé, escreve às quintas. Ilustração de Carvall, especial para o texto

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