.

.
30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Papa arrependido?


por Thiago Domenici*

A renúncia do quase ex-papa Bento XVI é mais um desses assuntos mundano-celestiais que me intrigam. Querendo ou não, católicos e simpatizantes, sejam favoráveis a linha conservadora adotada, criam esperança com o anúncio da renúncia e vinda de um novo pontífice por um mundo, sei lá, menos desigual? mais espiritualizado? O que esperam as pessoas de um novo Papa? O que espera o Papa das pessoas?

Não sei se por ranhetice, não acho que a mudança do padre alemão para um latino-americano ou africano influencie atitudes mais nobres e humanas das pessoas. O que está em jogo nessa história é a tentativa de recuperação política da igreja que, desgastada e envolvida em brigas pelo poder e falta de carisma, busca um respiro de renovação.

A Igreja joga com essa renúncia os holofotes para si, num período em que perde fiéis para outras religiões e vive assombrada por escândalos de pedofilia. Entre 1960 e 2010, por exemplo, o Brasil viu a parcela de sua população que se declara católica cair de 93,1% para 64,6%, segundo dados do último senso do IBGE.

Seguindo nesse meu raciocínio, não entendo como uma Igreja que fala em amor ao próximo, fé em Deus, bondade, justiça social se mantém soberba em vestimentas, atitudes e pensamentos como, por exemplo, em relação ao uso da camisinha e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. E as mulheres religiosas na Igreja, que tem papel sempre inferior ao do homem religioso. Por que isso ainda tem de ser assim? Será que somente nos próximos 700 anos veremos uma Papisa?

O Vaticano, um país sem povo, é um império cheio de riquezas e ostentação. É curioso que uma das últimas atitudes de Bento XVI foi escolher o novo presidente do banco do Vaticano, já que o anterior em busca de mais "transparência" foi demitido pelo secretário do Vaticano, o papável italiano Tarcisio Bertone.

A igreja católica que aplaudo, de uma vertente verdadeiramente social, a teologia da libertação, uma espécie de agulha no palheiro, rara mais ainda presente na figura de alguns batalhadores, como Dom Pedro Casaldáliga, que no último sábado fez 85 anos, e que foi soterrada com ajuda do mesmo que agora pede para sair, será apoiada por um novo santo padre?

É interessante que Bento XVI, a figura central do que se tornou a igreja católica nas últimas décadas, peça uma “verdadeira renovação” daqui em diante.  Ele usou essa expressão em cerimônia de despedida com padres de sua diocese em Roma e afirmou que ficará "escondido do mundo" depois de renunciar no fim deste mês. Será, diante de sua nítida fragilidade e da Igreja, um sinal de arrependimento?

*jornalista, Thiago Domenici coordena e edita o Nota de Rodapé

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.

Web Analytics