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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Imbatíveis

por Júnia Puglia   ilustração Fernando Vianna*


Dia Internacional da Mulher. Não me lembro quando foi a primeira vez que ouvi falar dele, mas acho que faz mais de trinta anos.

E faz mais ou menos isso que eu soube que existiam umas mulheres chamadas feministas. No rastro do livro de Betty Friedan, um furacão nos anos setenta, e que até hoje não li, me chegaram notícias de mulheres que começavam a expressar publicamente seu repúdio à tutela masculina e ao tratamento que recebiam como seres frágeis, dependentes, incapazes e tolos.

Na mesma época, uma série de rumorosos assassinatos de mulheres – sim, porque eles sempre aconteceram, mas não tinham nenhuma importância até então – levou para as ruas do Brasil a irresistível campanha “Quem ama não mata”. E a violência que se comete contra as mulheres na vida privada começou a ganhar contornos de problema público.

Tudo por causa das tais feministas. Pelo terrível incômodo que causaram ao questionarem verdades profundamente arraigadas na sociedade, na religião, na vida das pessoas, foram combatidas, ridicularizadas, desprezadas. Delas se dizia que eram infelizes, mal amadas, revoltadas, amarguradas, feias e por aí vai, como se as mulheres oprimidas, agredidas e conformadas fossem todas lindas e felizes.

Mas elas não se importaram com nada disso, ou melhor, relevaram os insultos e continuaram em frente, sabendo que tinham uma tarefa gigantesca a cumprir.

Então, é o seguinte. Se hoje podemos escolher com quem queremos viver, e por quanto tempo, é por causa delas. Se temos o direito de não ser agredidas e espancadas, é por causa delas. Se podemos nos dedicar a qualquer profissão ou tarefa que nos ocorra, é por causa delas. Se podemos decidir se queremos ser mães, quantos filhos queremos ter, e quando, é por causa delas. Se o exercício do prazer e da sexualidade livres é considerado um direito, é por causa delas. Se não somos obrigadas a suportar chefes, patrões, médicos, pais, irmãos e tios que nos consideram objetos disponíveis à sua libidinagem, é por causa delas. Isso pra ficar só no super básico.

De vez em quando, ouço ou leio acusações contra elas, do tipo “onde estavam com a cabeça quando nos obrigaram a sair do nosso papel submisso e dependente tão cômodo e conveniente”. E sempre penso que quem quiser ser assim, e achar que vive melhor desse jeito, que viva. A possibilidade de optar passou a existir também por causa delas.

Feminista não é palavrão. É apenas uma palavra, que define uma turma batalhadora, insistente, que não se contenta com pouco, e leva um monte de gente atrás. Aliás, metade da humanidade.

Às feministas o meu respeito, meu reconhecimento e minha gratidão.

*Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna De um tudo. Texto escrito em 25 de janeiro de 2009. Fernando Vianna, artista visual, especial para o texto

5 comentários:

Carlos Augusto Medeiros disse...

Querida Júnia, estou de pleno acordo. Reforço que sofro particularmente com injustiças desse tipo: covardes e abrigadas pela cultura de países como o nosso. Minha admiração pelas mulheres não se distingue da admiração por outros segmentos da sociedade que se impuseram às custas de muita luta que, de cima de nossos sofás, acostumamo-nos a acompanhar com as mais diversas manifestações. Feliz reconhecimento social, feliz dia da mulher.
Abraços,
Carlos

Anônimo disse...

Parabéns à mulher guerreira da vida que hoje consegue sair das sombras de um passado ainda próximo e lutar por seus direitos.
As amarras da prisão se abriram e, praza aos céus, saibamos viver o dia-a-dia em toda sua plenitude .
Parabéns, Júnia. Sua luta está só no começo. Vá em frente.
Beijos da Mummy Diricm

Anônimo disse...

B R A V O!!!
Fernandófora

Cecilia Cordeiro disse...

Junia, só hoje li seu texto! Como é bom ler seus escritos! Voce aborda as questões com muita profundidade, mas de uma forma leve que torna a leitura fluida e prazeiroza! beijo Cecilia Cordeiro

Anônimo disse...

Junia concordo com VC numa série de cousas.
Adoro este progresso todo que temos hoje e que me faz pensar:
onde iremos chegar??
Mas quero que VC se lembre de mim quando tiver 84 anos como eu
hoje.Sabe porque?
É uma delicia nessa idade a gente relembrar como era nossa vida
naqueles anos atrás.
Tudo tão devagar....
Tão diferente de hoje.....

Pena que não poderei trocar idéias com VC lá pelo ano 2053.....

Chiquita monteiro.

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