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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Apenas nós



por Júnia Puglia  ilustração Fernando Vianna*

 Dizem que os telefones celulares mais inteligentes disponíveis hoje no mercado podem armazenar mais informação que os computadores da Nasa que, em 1969 (há menos de quarenta e cinco anos), foram essenciais para colocar os primeiros seres humanos na Lua. Mesmo que seja apenas mais uma das tantas frases de efeito que circulam nas redes sociais, deve conter alguma verdade. A evolução absurda dos sistemas de processamento e armazenagem de dados das últimas décadas é um fato.

Séculos antes de os astronautas americanos terem pisado na Lua, navegadores de diversas partes do mundo empreenderam bem sucedidas viagens ao desconhecido, apoiados em instrumentos que hoje parecem saídos de filmes de ficção científica ao contrário. Nos dois casos, o que determinou o resultado dos empreendimentos foi a capacidade intelectual humana – um patrimônio absolutamente extraordinário para nós, terráqueos – aliada a uma inquieta e aparentemente inesgotável curiosidade sobre o que está além daquilo que já conhecemos.

Nossos limites coincidem com as possibilidades do planeta que se nos oferece e da vida como a conhecemos. Mas já nos demos conta de que há tantos mundos além do nosso, que em algum deles haverá inteligências equivalentes ou, como gostamos de acreditar, superiores. E quanto mais esticamos as fronteiras do universo conhecido, com voos tripulados, sondas e telescópios, maior ele se apresenta. Inclusive, li há pouco tempo que os primeiros humanos a migrar para outro planeta farão a viagem só de ida, porque seu tempo de vida não comportará a volta. Assustador, não é? (Mas concretiza o sonho da passagem “só de ida” que gostaríamos de presentear ao nosso mala preferido.)

Em suma, é tudo muito vasto e desconhecido e, na escala astronômica, nosso planeta, com tudo dentro, não passa de uma poeirinha cósmica. Aqui nos toca viver. Se fomos capazes de encontrar continentes desconhecidos navegando em cascas de nozes, desembarcar na Lua com o apoio de computadores que hoje são peças de museu, produzir alimentos em quantidade suficiente para todos, encontrar a cura para inúmeras doenças e os meios para melhorar consideravelmente nossas condições de vida, certamente temos capacidade para dividir melhor o que pode estar sobrando para alguns (para uns poucos, sobra muito mesmo, né?), compartilhar o conhecimento de maneira a beneficiar o maior número de pessoas possível e entender e conviver melhor com as diferenças entre nós. Afinal, não temos outro planeta para onde fugir. E não há nós e eles, apenas nós mesmos.


*Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo. Ilustração de Fernando Vianna, artista gráfico e engenheiro, especial para o texto.

2 comentários:

Anônimo disse...

Juniótide,
Amei tudo, como sempre, mas "(Mas concretiza o sonho da passagem “só de ida” que gostaríamos de presentear ao nosso mala preferido.)" impagável, ainda estou rindo. Bom também nos lembrarmos que "o nosso planeta, com tudo dentro, não passa de uma poeirinha cósmica" na escala astronômica, para termos a real dimensão do nosso tamanho. Beijão e obrigada!

Anônimo disse...

Excelente para mostrar a pequenez dos humanos ante a grandeza do cosmos. Mas, na verdade, não me aguça a curiosidade de conhecer outros mundos. Prefiro ficar aqui mesmo, entre os terráqueos.
Beijos da octogenária Mummy Dircim

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