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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Agora é contra o Estado vândalo



por Moriti Neto ilustração Caco Bressane*

A repressão tão violenta da Polícia Militar, ontem, contra os manifestantes que protestam em São Paulo, está entre as ferramentas de uma luta ideológica. O movimento é ameaça política ao poder oficial, seja o governo estadual ou a prefeitura. A agressividade, obviamente, tem o objetivo de quebrar a mobilização.

Nosso modelo de Estado, em qualquer esfera de poder, existe para servir a burguesia, o poder econômico. Portanto, claro que sempre estará ao lado do capital que, no caso da situação hoje vivida na cidade de São Paulo, é representado pelas empresas que fornecem o péssimo serviço de transporte de ônibus, um dos setores mais nebulosos nas relações entre iniciativa privada e poder público.

Outro grande problema do aparelho estatal modelado do jeito que está é a única, de fato, flexibilidade permitida pelo formato: a possibilidade de forte inclinação à direita. Algo que torna viável a grupos de tendência fascista, como é o caso do liderado pelo governador paulista Geraldo Alckmin, acentuar o reacionarismo.

O uso do aparato de guerra visto nesta quinta é apenas um dos instrumentos usados contra quem desafia o poder conservador. A mídia corporativa, principalmente os patrões e articulistas que ecoam opiniões patronais, é outra parte do equipamento político-ideológico. E não porque reportem o discurso de uma classe. Eles pertencem a ela. Só que algo novo parece ter entrado em cena. A violência estatal generalizada e sem justificativa, já que a maioria dos manifestantes queria protesto pacífico, é puro revanchismo que, de maneira descontrolada, atingiu quem atua nos órgãos da grande mídia e até mesmo parcela da população que passava ao largo das reinvindicações.

O governo raivoso administrado por Geraldo Alckmin aproveitou-se, mais uma vez, (lembram-se do caso Pinherinho?) de uma instituição sem esperança de melhora. A Polícia Militar é organização que deseja briga, agressão, truculência, mesmo que o outro lado peça paz. Dessa forma, com a intenção de destruir o movimento politicamente por meio da força e do terror, estimula-se, na PM, o sentimento de vingança contra a mobilização que desafiou o poder oficial.

Só que quando se motiva um animal a ser violento, corre-se o risco de que ele se vire contra aquele que o treina. Foi o que atingiu os veículos de comunicação alinhados ao discurso tucano de lei e ordem, revoltando redações e mesmo parcelas mais comodistas da sociedade.

Agora, a luta tem tudo para crescer. Talvez, seja a oportunidade do povo de São Paulo entender que o protesto é maior do que um movimento contra aumento de passagem de ônibus. É disputa por ocupação de espaços conceituais e concretos, bem retratada na batalha pela avenida Paulista. Aos fascistas a serviço do poder econômico é fundamental não permitir a ocupação do "templo" do capital paulistano.

Isso é mesmo uma guerra. Cabe a quem deseja defender a democracia assumir papeis ativos.

Haddad imperdoável

Papel lamentável o do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, nessa história. Para quem se colocou como “o novo” na campanha eleitoral, foi arrogante ao não negociar com o movimento e não abrir espaços reais de diálogo. Além disso, demorou a condenar a ação da PM (que o prefeito poderia ter negociado para evitar), praticamente incorporando o argumento do governo do estado que busca criminalizar o movimento.

Aliás, muito representativo Haddad estar na Europa com Alckmin – defendendo candidatura a sei lá o quê, não importa no contexto – enquanto o clima esquentava aqui. Imperdoável.

*Moriti Neto, jornalista. Caco Bressane, arquiteto e ilustrador

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