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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Cada um que cuide da sua bituca


por Thiago Domenici*

O dono da banca de jornal localizada na esquina da rua Ministro Godoy com a Turiassú, em Perdizes, mantém o ritual diário da antiga dona. Todos os dias ele disponibiliza um cinzeirão para os fumantes de plantão.

“Aqui jazem bitucas”, como se vê na imagem acima. Eis uma irônia e também uma dura realidade. Diz o jornaleiro que muitas delas, de fato, jazem ali no cinzeirão ao fim do dia. É “uma atração” dos passantes, ele conta. “Fazem fotos e dizem que é legal”. Diariamente, sem folga, ele tem de limpar a área para novas bitucas serem depositadas. A guimba é o fim do cigarro fumado. É um resíduo diminuto, formado de papel, filtro e tabaco e que pesa, em media, meio grama. Meio grama e muitas substâncias tóxicas. Meio grama que aos montes pesam toneladas e poluem a cidade.

Os filtros dos cigarros são tão resistentes à biodegradação que ficam no solo e na água por mais de cinco anos. Esses restos são responsáveis por 25% de todos os resíduos encontrados em limpezas de praias pelo mundo. Aqui em São Paulo são algumas toneladas diárias. Todos os dias vejo centenas delas no chão ou sendo arremessadas a ele. Um péssimo hábito!

Um estudo de anos atrás apontou que duas guimbas de cigarro geram a mesma quantidade de poluição produzida por um litro de esgoto. Outro problema são os acidentes com fogo, por exemplo, queimadas, causadas, em sua maioria, pelo arremesso de bitucas dos veículos em movimento. O problema é tão constante que no ano passado, 90% das multas no Rio de Janeiro por jogar lixo no chão se referiam ao cigarro. No Paraná também já existe multa para os deseducados na bagana.

Um levantamento recente indicou que são cerca de 20 milhões de fumantes no País, além de 70 milhões de fumantes passivos (meu caso). O mesmo levantamento diz que nos últimos seis anos o número de fumantes no país diminuiu 20%. É uma ótima notícia a diminuição de fumantes. Péssimo é perceber que isso não se aplica a quantidade de chicas jogadas na rua.

Penso que além de multa a quem joga o troço no chão, uma campanha bem-humorada e educativa ao estilo “Aqui jazem bitucas” poderia adiantar alguma coisa. Mas a prerrogativa não é só brasileira. Em Paris, segundo cálculos, são jogadas 315 toneladas de pontas de cigarro nas calçadas anualmente. A lei francesa prevê multa de 35 euros – algo como 112 reais. Lá, a meta para esse ano é chegar a 30 mil cinzeiros espalhados pela cidade.

Fuma quem quer, é verdade, mas cada um que cuide da sua bagana, né?

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Thiago Domenici, jornalista, editor e coordenador do NR

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