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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 20 de março de 2014

Quando a palavra seca

por Cidinha da Silva

Tudo perde o sentido quando uma mulher negra, moradora de favela, baleada no pescoço, pende de um porta-malas e tem o corpo arrastado pelas ruas do centro do Rio. Transeuntes e motoristas buzinam, gritam, acenam, se desesperam, choram, lamentam, porém, os policiais que dirigem o carro não ouvem, não vêem, não param. Não param. Não param.

As palavras humanidade, respeito, dignidade, cidadania, vida, direitos, sonhos, justiça, perdem o sentido. A gente perde as forças, a palavra, e míngua, como o texto seca diante de mais um caso de horror racista que não comoverá o mundo e ainda terá a dimensão racial esvaziada.

Perde-se o sono e não se sabe a fórmula do conforto para reencontrá-lo. Tudo perde o sentido. A vida perde a poesia. A condição humana é rebaixada a cada ação policial.

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 escritora, Cidinha da Silva mantém a coluna semanal Dublê de Ogum.

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