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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Entristecida Moda


por Maria Shirts*

Foi uma temporada meio maluca. Fogosa, eu diria. Estou falando da 37ª edição do São Paulo Fashion Week, ou “semana de moda” para os mais despretensiosos, que aconteceu entre os dias 31 de maio e 4 de abril.

Quem me conhece sabe que, de vez em quando, ajudo na cobertura jornalística desse evento para um site de moda. A princípio, acham incondizente com a minha pessoa. Mas eu já dismistifiquei essa e algumas outras premissas sobre o SPFW aqui.

É uma experiência e tanto. Entro em todos os camarins, de todos os desfiles, entrevisto vários profissionais, pergunto a respeito de tendências, questiono o uso de certos produtos...

Essa foi a minha quarta experiência. Costuma sempre ser agradável, divertido e também muito cansativo. Trabalho com jornalistas muito competentes, inteligentes e amigos. Independente disso, me reparei um pouco menos excitada, nessa temporada, com as ebulições deste “mundo fashion”. Tive uma percepção diferente, mais cética, talvez.

Aconteceu no terceiro dia, acho. Estava esperando para entrar no backstage de algum desfile para conversar com o maquiador responsável quando aconteceu o famigerado “cruzamento”. Calma, é menos animalesco do que parece (ou não): as modelos saem do camarim do desfile anterior para adentrar ao próximo. Parece simples, mas é um momento tenso porque elas têm pouquíssimo tempo para serem preparadas, já que tudo gera atrasos. Nessa temporada, então, que programaram 8 desfiles para o mesmo dia, por exemplo, foi mais confuso ainda.

Enquanto eu esperava, notei um homem de uns 30 anos na porta do camarim, um tanto quanto alucinado, berrando: “Cade a Tamara??? E a Luana??? Cade essas meninas???”. Não bastasse, o vi puxando uma das modelos pelo braço com tanta agressividade que pensei que fosse quebrar seu pulso frágil. Então me dei conta de que nunca havia notado essa personagem no evento: o booker.

Em suma, é ele quem cuida da agenda das modelos, que faz o meio de campo entre os contratantes e contratadas. Já havia ouvido falar, através de uma amiga que foi modelo, que eles podem ser muito sádicos. Não são todos, é claro. Não se pode generalizar, mas há muitos desses profissionais que parecem projetar alguma frustração nas meninas das quais “tomam conta”; são impacientes, hostis; exigem que elas emagreçam quando não precisam, mandam pintar o cabelo desnecessariamente, depilar sei lá aonde e já ouvi até em pedirem para raspar o osso do quadril, “porque é muito largo!”. Enfim, não parecem entender de que estão lidando com pessoas e não com um cabide.

Depois que eu presenciei essa cena fiquei bem entristecida. Percebi vários sofrimentos intrínsecos e pouco relatados. Para fechar com chave de ouro, a sala de imprensa do evento pegou fogo no último dia, deixando um bocado de pessoas assustadas, mas nenhum ferido. Mas essa já é outra história….

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 Maria Shirts, internacionalista e pedestrianista, mantém a coluna Transeunte Urbana.

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