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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

domingo, 27 de abril de 2014

Futebol brasileiro e ética

por Cidinha da Silva*

O futebol, que me distrai tanto, anda afastado de meu campo de interesses e possibilidades. Tempos de muito trabalho interno, externo e literário. Restam-me as orelhadas na crônica esportiva, os pitacos dos amigos, principalmente os feridos pela derrota dos times do coração.

É assim na Bahia, onde Mandingo engole, silencioso e recluso, a vitória do combalido Bahia (por ele apelidado de Jahia) sobre o todo-poderoso Vitória. Nome que perdeu o sentido no campeonato estadual, se é que vocês me entendem.

Também em Minas, onde o triste Galo, pela milésima vez perdeu o título para o Cruzeiro. Dizem que com pênalti não dado, portanto, roubado, mas perdeu, é o resultado final. Situação similar ao time campeão carioca, marcado por glórias mil, mas também por um goleiro assassino, homicida da ex-parceira sexual. Agora o time conta com outro goleiro “polêmico” que diante da nota oficial da associação de juízes do estado, dando conta de que seu companheiro de time estava impedido no gol do título, afirma, lampeiro e impune, que, “roubado é mais gostoso”.

Haja escola, professor comprometido, educação em casa, paciência, força ética e moral para combater o contra-exemplo oferecido por um ídolo popular de que roubar, enganar, ludibriar, obter vantagem ilícita é mais saboroso que ser honesto, leal e ético. Saudade da irritação de Seedorf com o cai-cai dos jogadores brasileiros e a tentativa de ludibriar os juízes, bem como de sua certeza de que o respeito às regras do jogo é mais importante do que o gol.

Em casa soube que o Santa Cruz perdeu para o Sport e vi pela TV que o salário mensal de Leandro Damião, do Santos, é maior do que a folha de pagamentos inteira do Ituano, campeão paulista vindo do interior. Esse é o irônico mundo do futebol brasileiro!

Damião, jogador discriminado e em muitos momentos ridicularizado por ser originário da várzea gaúcha, por não ter passado por anos de escolinha de futebol em grandes clubes, quando criança e adolescente, e por não ter a experiência das categorias de base, tornou-se sucesso improvável pelo empenho no trabalho, boas atuações no Internacional e, principalmente na Seleção Brasileira. Seu passe foi valorizado, transformou-se em jogador de elite e hoje, seu salário é maior do que a folha de pagamentos integral do time campeão do certame paulista que, além de derrotar o Santos, venceu os outros três grandes durante a competição, Palmeiras, Corinthians e São Paulo, nessa ordem. Não por mero detalhe, Damião segue sendo um homem simples, pouco afetado pelo glamour de boleiro bem sucedido.

É bom saber que além da validade do que o juiz não vê, enaltecida por Felipe, do Flamengo, o mundo dá voltas e também produz exemplos extremamente positivos, como o de superação, protagonizado por Damião, honrando, assim, a inspiração máxima que estes dois jogadores de futebol representam para a meninada brasileira de mesma origem racial e social.

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 escritora, Cidinha da Silva mantém a coluna semanal Dublê de Ogum.

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