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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O arrivista

1964 + 50
Histórias de pessoas de carne e osso - e também de personagens de papel - que viveram na roda viva da ditadura militar. Novos episódios toda quinta-feira.

(Episódio 2)


por Fernanda Pompeu   ilustração Fernando Carvall

Em 1964 - depois de um passado político e tanto, alcunhado de "o corvo" pelos getulistas, ferrenho anticomunista, apesar de na juventude ter sido um deles - Carlos Lacerda era o governador da Guanabara (leia-se da cidade do Rio de Janeiro, ex-Distrito Federal, status usurpado pela novíssima Brasília de JK). Aliás entre seus vários desafetos - e foram muitos - estava o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, que ensaiava sua volta na futura eleição de outubro de 1965. Ser presidente da República também era o sonho dourado do governador da Guanabara. Só que pelo gosto da opinião pública tudo indicava que Juscelino levaria a melhor.

Carlos era um golpista. Estava na alma dele. Sempre pensando no bem do Brasil, dizia. Assim, ele foi um fanático propagandista do Golpe Militar. Deposto João Goulart, o marechal Castello Branco se sentou no trono do poder. O governador teceu mil e uma loas aos fardados. Confabulava com o Castello. Visitava o Costa e Silva, então ministro da Guerra. Lacerda queria sangue! Dizia que era preciso limpar o país dos contrarrevolucionários. Quando JK teve seus direitos políticos cassados, em público Carlos Lacerda silenciou. Mas nos bastidores, exultou a aniquilação de seu adversário direito. Pelos seus cálculos, não sobraria para mais ninguém. A presidência da República estava no papo. Desde, é claro, que houvesse as urnas!

Lacerda desenvolveu uma política de amor e ódio com Castello. Mordia sempre que percebia uma inclinação militar pela ditadura total. Assoprava quando o marechal garantia que seu governo era nuvem passageira e haveria o escrutínio em 1965. Os militares bobos não eram e passaram a sacar o jogo do governador. O resto da história a gente conhece. Não tiveram eleições para presidente coisa nenhuma. Depois de Castello, vieram os generais Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo. Todos amantes da ditadura, todos beijando a mão do autoritarismo e promovendo a violência contra adversários. Lacerda ainda surpreenderia tentando uma aliança estratégica com Juscelino e Goulart, mas era tarde demais. Finalmente teve seus direitos políticos surripiados com o AI-5, em dezembro de 1968. A partir daí, sua verve e estrela foram se apagando. Morreu nove anos depois. Mas, façamos justiça, Carlinhos, a exemplo de seu mais feroz inimigo Getúlio Vargas, também saiu da vida para entrar na história.

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Fernanda Pompeu é escritora e redatora. Fernando Carvall é o homem da arte.

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