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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Discoteca de músico: Rashid


por Marcos Grinspum Ferraz    Ilustração de Victor Zalma*

Michel Dias Costa, o Rashid, não teve um caminho fácil para chegar aonde chegou. Com pouca grana e estrutura, mas muito vigor criativo, começou ainda na adolescência a participar das batalhas de MC e a escrever seus primeiros versos. Nascido na zona norte de São Paulo em 1988, conquistou espaço aos poucos e é considerado um dos principais nomes da nova geração do rap nacional na atualidade. Porque se a vida não deu facilidades, ela “deu caneta e papel”, como ele canta em verso de “Nada Pra Ninguém”.

Rashid na foto de Rafael Kent
Conheci o rap de Rashid no ano passado, por meio do disco “Confundindo Sábios”. Quanto mais ouvi, mais gostei do estilo e das letras, que para além da crítica social e das narrativas urbanas, explicitam também essa energia de Rashid para seguir fazendo música independente de qualidade, sem se deslumbrar com o sucesso. “Sabe por que eu vim?/ Porque eu quero entregar o melhor/ Nem que eu pague com meu suor/ Se esse é o preço pra sonhar”, diz outro verso do MC.

Em janeiro deste ano entrevistei Rashid para a revista Brasileiros (leia aqui) e o papo rendeu bastante. Agora, depois da estreia com Tim Bernardes da banda O Terno (leia aqui) é a vez do rapper ser o entrevistado da série “Discoteca de Músico”, que a cada mês trará um artista respondendo às mesmas cinco questões, sobre discos e videoclipes que marcaram seus caminhos na música e na vida. Discos e vídeos antigos ou atuais, já que parto aqui da constatação de que música boa não para nunca de ser produzida.

A ideia da série é ter, no fim do processo, uma espécie de discoteca/videoteca virtual feita pelos músicos – de variadas idades e adeptos de diferentes estilos –, voltada para o público que quer conhecer mais os artistas ou mesmo que busca sugestões do que ver e ouvir.

Um disco brasileiro que marcou sua formação musical

“Cartola”, os dois, de 1974 e de 1976. Esses discos são de uma riqueza incrível. Alguns clássicos da música brasileira estão aí. Cartola me inspira muito pela sensibilidade e simplicidade da sua escrita, que é crua e extremamente rica ao mesmo tempo. O sofrimento (de amor principalmente) virava uma coisa muito bonita nas palavras dele.

Um disco gringo que marcou sua formação musical

O “Reasonable Doubt”, do Jay-Z. Ele é um dos caras que mais curto lá de fora, e esse disco é um clássico. É o primeiro disco dele. Tem muita coisa boa aí, desde os times de produtores até o conteúdo das letras, que nessa época falavam muito da vida dele no tráfico.

Um disco lançado nos últimos anos (nesta década) que te marcou profundamente

Brasileiro, “Se Me Chamar, Ô Sorte”, do Wilson das Neves. Estrangeiro, “Good Kid, Mad City”, do Kendrick Lamar. O disco do Wilson das Neves foi umas das melhores coisas que escutei ano passado, tanto liricamente, quanto nos arranjos. Um samba muito elegante e de muito bom gosto. Já o do Kendrick foi praticamente uma unanimidade quando saiu (em 2012). Ele trouxe uma riqueza poética que há tempos o Rap “mainstream” norte-americano não apresentava. Esse cara é muito bom, virei fã!

Um videoclipe que marcou sua formação

O Rappa, “O Que Sobrou do Céu”. A música é forte, e quando você junta a essas imagens, vira uma bomba. O roteiro desse clipe é muito bom, e a locação, os atores, todo mundo foi muito bem na minha opinião! Todas as vezes que assisto, ele causa um impacto. Sou fã dos caras também, sempre curti muito, posso dizer que são parte das minhas referências musicais.



Um videoclipe lançado nos últimos anos (nesta década) que te marcou profundamente

Inquérito, “Meu Super Herói”. Inquérito é um grupo de Rap de Campinas, e os caras são bons demais. O Renan é um ótimo letrista e esse clipe é lindo, cara. Fala sobre a falta que o pai dele faz, sobre as lembranças e tal… As imagens são de um bom gosto incrível, e o moleque que é o personagem principal, mandou muito bem. Foi gravado na Favela do Flamengo, na zona norte de São Paulo, perto da minha casa. A direção é do Levi Vatavuk. Foi o primeiro trampo que vi dele, e pirei!




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Marcos Grinspum Ferraz, jornalista e saxofonista da banda Trupe Chá de Boldo mantém a coluna mensal Verbo Sonoro, sobre cultura, música e afins. llustração de Victor Zalma, especial para a série

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