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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Discoteca de músico: Flora Poppovic


por Marcos Grinspum Ferraz    Ilustração de Victor Zalma*

A convidada deste mês do Discoteca de Músico, Flora Poppovic, é a voz feminina do Pitanga em Pé de Amora, grupo paulistano que reúne cinco jovens músicos muito talentosos e que deve lançar este ano seu segundo disco. Como a banda não tem bateria, é a Flora também quem dá o pulso em boa parte das canções, tocando os instrumentos de percussão que aprendeu a “batucar” desde cedo.

crédito: Camila Passos
Foi justamente essa faceta percussionista da Flora que conheci primeiro, antes de saber que ela tinha também uma bela voz. Pois desde a adolescência até poucos anos atrás, por cerca de uma década, ela foi integrante do Batuntã, outro grupo destacado da cena paulistana e que é bastante focado nos instrumentos de percussão. Hoje ela é também professora de percussão no Instituto Brincante e no Brincantinho (braço infantil do espaço criado por Antonio Nóbrega), atividade que concilia com os ensaios e shows do Pitanga.

Pois bem. Depois de Tim Bernardes, Rashid, Bruna Caram e Gabriel Basile, a Flora é a quinta entrevistada da série “Discoteca de Músico”, que mensalmente traz um artista respondendo às mesmas cinco questões, sobre discos e videoclipes que marcaram seus caminhos na música e na vida. Discos e vídeos antigos ou atuais, já que parto aqui da constatação de que música boa não para nunca de ser produzida.

A ideia da série é ter, no fim do processo, uma espécie de discoteca/videoteca virtual feita pelos músicos – de variadas idades e adeptos de diferentes estilos –, voltada para o público que quer conhecer mais os artistas ou mesmo que busca sugestões do que ver e ouvir.

Um disco brasileiro que marcou sua formação musical

“Antônio Brasileiro”, do Tom Jobim. Bom, minha mãe é daquelas que quando gosta de um disco dá play de novo assim que ele acaba. E esse foi um dos que a gente escutou milhares de vezes no repeat! Eu decorei todas as músicas e queria muito ser a Maria Luiza, filha do Tom que canta com ele em duas faixas. Mais tarde, quando comecei a tocar percussão e conhecer um pouco sobre o universo da cultura popular brasileira, me encantei mais ainda com esse disco que trazia samba, bossa nova, jazz, baião, maracatu, peças instrumentais maravilhosas e até poema musicado do Manuel Bandeira. Hoje eu ainda ouço muito ele, e me sinto numa viagem passando por paisagens diferentes... Esse disco me traz paz.

Um disco gringo que marcou sua formação musical

“Kind of Blue”, do Miles Davis. Eu demorei muito para ouvir discos gringos. Fui conhecer melhor só aos 18 anos, quando fui apresentada ao “Kind of Blue”. E mudou minha vida! Eu estava numa fase de muita música instrumental, ouvindo choro pra caramba, e esse disco caiu como uma bomba! Era sublime! Era calmo e revolto, melancólico e me deixava feliz... Anos depois, quando entrei na Groove Escola de Música para estudar, esse disco era muito usado nas aulas, seja para cantar a linha de baixo, fazer exercícios com baqueta, e a impossível tarefa de cantar os solos em “All Blues”. Me apaixonei ainda mais! Era como se eu estivesse conhecendo de novo o cd, e até hoje ainda sinto que tem muita coisa "escondida" nele pra descobrir! Esse disco é música pura!

Um disco lançado nos últimos anos que te marcou profundamente

“Vem Ver”, Vanessa Moreno e Fi Maróstica, lançado em 2013. Em primeiro lugar, esse disco me marcou por ser extremamente corajoso: é o primeiro disco solo da carreira de dois jovens muito talentosos e é um duo de baixo e voz. Baixo e voz? Sim. E é impressionante como os dois se viram muito bem nessa corda bamba. A Vanessa com suas lindas interpretações nos leva a lugares de extrema ternura e a outros de malandragem pura. Faz coro com muitas vozes... Enfim, faz o que ela quiser! É uma danada! E o Fi é um baixista de fino trato, toca todos os baixos possíveis, batuca pra caramba e ainda enfeita com vozes de fundo em algumas faixas. O CD conta também com percussão, percussão corporal e vocal, e participações de Chico Pinheiro, Rafael Altério, Sergio Santos entre outros. Os arranjos são bonitos, criativos e a maioria das músicas desconhecidas. É um disco inspirador!

Um videoclipe que marcou sua formação

Stomp Out Loud- Kitchen, Stomp. O Stomp sempre foi uma referência pra mim!! A música está completamente integrada ao movimento, e sempre em instrumentos que não são instrumentos. Ele une música, pesquisa de timbres e humor, ou seja: diversão garantida. Por muito tempo o Stomp foi norteador de pesquisa para o Batuntã, grupo que eu fiz parte dos 14 aos 24 anos. Esse DVD inteiro me fascina, mas o vídeo que eu mais gosto é esse da cozinha, filmado todo num plano só, sem cortes, onde as coisas e a música vão acontecendo. Legumes cortados, panelas sujas, chefe mal-humorado, tudo vira som!!!



Um videoclipe lançado nos últimos anos que te marcou profundamente

The Writting's On the Wall, Ok Go. Esse clipe é demais! Muito criativo, muito bem feito. Ele é todo filmado sem cortes, e numa sala gigante cheia de coisas que te enganam e vão mudando conforme a câmera muda. É um jogo de perspectiva. A gente é surpreendido o tempo todo!




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Marcos Grinspum Ferraz, jornalista e saxofonista da banda Trupe Chá de Boldo mantém a coluna mensal Verbo Sonoro, sobre cultura, música e afins. llustração de Victor Zalma, especial para a série

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