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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Vício de linguagem

por Celso Vicenzi*

Se você é do tipo que encara de frente os desafios, que presta atenção em pequenos detalhes, planeja antecipadamente, gosta de fazer planos para o futuro, sem adiar para depois, costuma seguir a grande maioria e não vê razão para preocupar-se, leia novamente a frase, agora com mais atenção, e repare como costumamos ser redundantes no dia a dia, falando ou escrevendo. Raros são aqueles capazes de manter uma comunicação, principalmente informal, sem cometer nenhum deslize com os vícios de linguagem, como as redundâncias, que são repetições inúteis, porque nada acrescentam ao que a palavra já expressa.

Quem encara, só pode fazê-lo de frente. Detalhes são sempre pequenos, todo planejamento é antecipado e ninguém faz planos para o presente ou passado – sempre para o futuro. Da mesma forma, quem adia algo, é para depois. Maioria nunca pode ser pequena, assim como minoria nunca será grande, logo, os reforços (grande, pequena) são dispensáveis.

O que não se deve dispensar é o uso correto da linguagem, que é a roupagem de toda a comunicação oral e escrita. Também não há necessidade de tornar-se obsessivo em relação ao uso culto da língua, salvo se você for um profissional que a utiliza para ganhar o pão de cada dia, como, por exemplo, um professor de português, um escritor, um jornalista.

Por preguiça, por (mau) hábito ou desconhecimento, certo é que não passamos incólumes, vez ou outra, de escorregar em uma redundância. É fácil lembrar das óbvias, como subir para cima, descer para baixo ou recuar para trás.

A redundância é um vício de linguagem, enquanto o pleonasmo – parecido – é uma figura de linguagem, utilizada para reforçar e dar expressividade à oração. O recurso é muito utilizado em letras de músicas, algumas antológicas, como por exemplo, do rei Roberto Carlos (“Detalhes tão pequenos de nós dois...”), ou de Jorge Benjor (“Chove chuva...”). E também entre grandes escritores e poetas. Vinicius de Moraes, em um de seus poemas mais famosos, o Soneto de Fidelidade, escreveu: “E rir meu riso...”.

Mas, na linguagem do dia a dia, melhor tomar cuidado para não piorar mais, reincidir de novo, abusar demais, porque, regra geral, não é de bom tom repetir outra vez o que é desnecessário.

Sei que é difícil, porque até mesmo em jornais, revistas, na tevê e no rádio ocorre cotidianamente. Ou você nunca leu e ouviu que há um consenso geral sobre a descoberta de novos indícios de uma quantia de dinheiro recebida em mãos numa negociata suja em que o principal protagonista é figura por demais conhecida de todos?

É fato verídico em boa parte do Brasil. E agora que nova eleição se aproxima e você vai comparecer em pessoa à urna, mostre que está atento(a). Às redundâncias e ao futuro do país.

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Celso Vicenzi, jornalista, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, com atuação em rádio, TV, jornal, revista e assessoria de imprensa. Prêmio Esso de Ciência e Tecnologia. Autor de “Gol é Orgasmo”, com ilustrações de Paulo Caruso, editora Unisul. Escreve humor no tuíter @celso_vicenzi. “Tantos anos como autodidata me transformaram nisso que hoje sou: um autoignorante!”. Mantém no NR a coluna Letras e Caracteres.

Um comentário:

Wagner Baggio disse...

Lá vão duas colaborações muito recorrentes em bocas e textos:
1) Há três anos ATRÁS aconteceu tal coisa.
2) Tal time tem 35 pontos GANHOS porque tem 55 gols MARCADOS

Credo!!!

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