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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Zerado

por Júnia Puglia    ilustração Fernando Vianna

A tecnologia digital, como todos sabemos, é uma área do conhecimento que permite portentosas realizações e grandes surpresas. Com ela, o tempo sobe a escada de três em três degraus. Desse meu lugar de usuária sofrível, já queimei a mufa tentando entender a misteriosa lógica por trás dos sistemas operacionais e da comunicação informatizada, mas há muito desisti. Não sei se acontece com você, mas muitas vezes acho, ou sinto, que esses badulaques digitais têm vida própria, uma alminha que escolhe e decide, e se diverte às nossas custas.

Isto já sabia a minha colega de muitos anos atrás, quando começou a automatização dos escritórios e ela, secretária com décadas de prática analógica, teve que se adaptar, a duras penas. Quando nada dava certo – o que era um tanto frequente – ela simplesmente concluía: “esse computador não gosta de mim, é por isso que ele não faz o que eu mando” ou “a impressora prefere você, sempre te passa na minha frente”. Quem sou eu para contradizer?

Quem de nós nunca experimentou resolver problemas operacionais dos computadores pelo famoso “método pifão”? Na hora do sufoco, quando é preciso ter a apresentação pronta em cinco minutos, com as correções e os quadrinhos do PowerPoint no lugar certo, a gente tenta, tenta e o infeliz teima em não atender, e ainda manda mensagens desaforadas, geralmente em inglês, que é pra provocar mesmo. Ou então resolve pensar na vida, na morte da bezerra, e bota aquela maldita rodinha pra girar, girar e te levar à loucura. Aí a gente vai lá e dá logo um Ctrl-Alt-Del (nos PCs do escritório) ou um apagadão (no Mac de casa ou no modem GVT), e pronto. É só esperar um pouquinho e reiniciar. Ele quase sempre volta à vida como se nada tivesse acontecido, solícito e obediente, quase sorridente.

Será que não dava pra dar um pifão no mundo? Desligar ou, medida extrema, tirar da tomada, contar sessenta segundos e ligar de novo? É o que sugere um certo Raphael Pavan num post que está rodando no Facebook. Será que tudo voltaria a existir, mas em versão corrigida e melhorada? Que nesse preciso minutinho as misérias todas e seus miseráveis agentes seriam zerados ou, que sabe, enviados para o jazigo eterno de tilts enlouquecedores não identificados? Tentador por demais.

* * * * * *

Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo. Ilustração de Fernando Vianna, artista gráfico e engenheiro, especial para o texto. Emails para esta coluna devem ser enviados a: deumtudocronicas@gmail.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Ah! Se o tempo voltasse ! Se, por encanto, de repente, sumisse toda a parafernália informática que comanda nossos dias ! Parece que até nossos pensamentos são dirigidos por esses monstros sem alma que riem de nossa ignorância tecnológica e atrapalham nosso desempenho !
Mas não adianta suspirar por um pouco de sossego. Essa corrida enlouquecida se chama.......progresso. Pois, então, que tal se esse progresso fosse aplicado, em sua total eficiência, exclusivamente para resolver os problemas do mundo ????
Assunto para NÃO se pensar.
Beijos da
Mummy Dircim

Anônimo disse...

Ju, a sua hipótese de dar um pifão no mundo me encanta. Mas, eu acho que o deixaria fora da tomada um pouquinho mais de tempo. Rsss...
Parabéns pelo texto!
Terê

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