segunda-feira, 30 de novembro de 2009
IPTU: só pelo prazer de criticar
A PGV compreende os padrões de avaliação de imóveis, por metro quadrado, segundo fatores tais como localização, acabamento, antiguidade. A ideia de se criar uma planta de valores surgiu da óbvia incapacidade, por parte das prefeituras, de determinar, caso a caso, o valor venal dos imóveis.
Não é a primeira vez que a PGV causou furor em nossa cidade. No começo deste ano, a Câmara dos Vereadores instaurou uma CPI, presidida pelo vereador Aurélio Miguel (PR), para averiguar possíveis irregularidades na planta.
Na época, o presidente da comissão questionou ao diretor da Divisão de Mapas e Valores da Secretaria de Finanças, Ricardo Neves. “Como o valor do metro quadrado do Shopping Bourbon é diferente do valor do Parque Antártica se estão na mesma quadra? Não dá para entender porque em 2008 se cobrou R$ 684,00 o metro quadrado no Bourbon enquanto no Parque Antártica o valor lançando foi de R$1.017,00”.
Lembro de, naquela ocasião, ter lido muitos artigos colocando sob suspeita a avaliação da Planta Genérica e cobrando imediatas providências do Poder Público
Em São Paulo a última revisão da planta foi feita em 2001, na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy. Desde aquela época, os valores do IPTU sofreram as correções anuais da inflação.
O órgão responsável pela revisão da planta é a Comissão de Valores Imobiliários, conselho composto por 14 membros que, desde 2002 se reúnem a cada 40 dias. Dentre os membros da comissão estão representantes do Poder Público e da Sociedade Civil (inclusive da FIESP).
Para a sociedade, a Planta Genérica de Valores tem relevante importância, pois dá bases à definição do “valor venal” dos imóveis e, em consequência, ao montante devido de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), bem como do ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis) e das indenizações por desapropriações.
Aí é que começou a confusão. Reajustando-se a Planta Genérica, atualizou-se, compulsoriamente, também, o valor do IPTU. Pronto! Foi o estopim da discórdia! Enquanto a pimenta ardia nos olhos dos outros (leia-se Shopping Bourbon) estava tudo certo e o reajuste na Planta era plenamente válido. Agora, quando a “bala ricocheteou”, a história foi outra!
O artigo 33 do Código Tributário Nacional estabeleceu que o a base de cálculo do IPTU seria o valor venal do imóvel. Entretanto, ainda que o legislador tenha trazido à baila o instituto do valor venal, não teve o cuidado de definí-lo.
Em face desta lacuna, a doutrina buscou formas de definir o citado conceito. Houve um consenso de que o valor venal do imóvel seria o preço alcançado em uma operação de compra e venda à vista, em condições normais do mercado imobiliário, admitindo-se a diferença de até 10% para mais ou para menos (Cf. HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro-tributário, 17ª edição, Atlas, 2008, p. 423).
Ocorre que, no mundo do Direito Tributário tais lacunas não podem existir. Ainda que a doutrina tenha se aproximado de uma definição comum, no que tange ao “mundo dos tributos” é a Lei o instrumento apropriado para tal tarefa. É inclusive o que diz o Código Tributário Nacional, que, em seu artigo 97, IV, determina que a fixação de Base de Cálculo de tributos somente poderá ser estabelecida através de Lei.
Em consequência, e se tratando especificamente sobre a base de cálculo do IPTU, o município de São Paulo, por meio da Lei nº 10.235/86 (que aprovou a PGV), trouxe seis tabelas anexas contendo listagem de valores, possibilitando a apuração do valor unitário do metro quadrado de construção e do terreno.
Em outras palavras, a Lei 10.235/86 alcançou o denominador que, para fins da definição de valor venal, aproximou-se do valor de mercado. Determinou, por exemplo, que o valor venal seria apurado pela soma do valor do metro quadrado da região do imóvel com o valor do metro quadrado da construção.
Hipocrisias e choradeiras à parte, todo o proprietário de imóvel sabe que o valor venal corresponde a quantia muito abaixo do valor de mercado, muito inferior à margem de 10%. Em muitos casos, o valor venal equivale a 30% do efetivo valor de mercado. Nada mais justo que ocorra uma atualização para que essa discrepância seja minimizada.
Pode-se verificar que as maiores correções ocorrerão justamente nos bairros que tiveram as mais vultosas valorizações imobiliárias nos últimos anos, tais quais, Anália Franco, Pinheiros, Vila Leopoldina e a Vila Andrade (região da Giovanni Gronchi, Morumbi), além daquelas regiões que sofreram profundas revitalizações (Brás, Largo da Batata etc.).
Ora, não é cabível pretender que o bairro do Anália Franco tenha o valor do seu metro quadrado próximo ao valor do metro quadrado dos bairros de Carrão e da Penha. É justo que haja correção acompanhando a valorização da região.
Cabe lembrar que todo aquele que entender que tenha ocorrido um reajuste acima da valorização imobiliária tem em seu alcance medidas combativas, sejam elas administrativas ou judiciais.
Então, é justo que haja a correção do valor do metro do terreno, vez que, em 8 anos, muitas benfeitorias foram feitas no município de São Paulo. Por outro lado, verificando o texto da nova lei, constata-se que além da atualização sobre o valor do terreno, a municipalidade atualizou, em média, 74% do valor da área construída.
Em outras palavras, segundo a nova lei, todo e qualquer imóvel teve a sua área construída valorizada em 74% (média), independentemente do lugar em que está localizado.
Exemplificando. Uma residência de 3 dormitórios, sala, cozinha, banheiro e garagem (Classificação - 1C) que antes tinha seu metro quadrado construído valendo R$ 350,00, pela nova lei passará a valer R$ 635,00, seja ela erguida no Capão Redondo, seja na Vila Nova Conceição. Não me parece razoável. Não vejo expansão imobiliária que possa justificar tal reajuste.
Enfim, justo ou não, ressalta-se que o reajuste na PGV beneficiará aqueles que, por ventura, tenham seu imóvel desapropriado pela administração, visto que as indenizações também levarão por base o novo valor venal do imóvel.
Cumpre ressaltar, ainda, que muitos tributaristas, alguns deles auto intitulados “especialistas” defendem que o pretendido aumento no valor venal do imóvel, e consequentemente do IPTU, seria uma afronta ao principio da Capacidade Contributiva.
Pura ignorância. Tal princípio constitucional estabelece que, sempre que possível (leia-se sempre que não for impossível), os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte.
Ora, diferenciar o valor do metro quadrado e a consequente tributação de bairros cuja valorização ocorreu de maneira distinta contribui com o respeito ao princípio. Ou seja, é a constatação de que aqueles que compraram um imóvel no Jardim Anália Franco tem mais capacidade de contribuir do que aqueles que compraram seu imóvel na Penha, ambos, atualmente, tributados de maneira bem semelhante.
Destaca-se que o IPTU é um tributo direto, que incide sobre o patrimônio, e é progressivo, por expressa determinação constitucional. Sendo assim, segundo estabelece a Constituição, os imóveis mais valorizados devem ser tributados de modo mais oneroso, a fim de que os mais modestos possam ter a tributação reduzida ou suprimida.
Complementando, como próprio nome diz, o IPTU se enquadra na espécie tributária “Imposto”, ou seja, trata-se de uma obrigação tributária que não está ligada a qualquer atividade estatal específica. Em outras palavras, o valor que os contribuintes pagam a título de imposto são remetidos diretamente para os cofres públicos, servindo para o pagamento das despesas da cidade de uma maneira geral.
No caso concreto, considerando a cidade de São Paulo temos que o valor de imposto arrecadado neste ano servirá para o custeio do orçamento do município. Em 2010, segundo a proposta orçamentária enviada pela Prefeitura à Câmara Municipal em setembro deste ano poderá ultrapassar R$ 28,1 bilhões. Deste valor, as áreas de Educação e Saúde foram as mais beneficiadas, respectivamente com R$ 7,3 bilhões e 5,5 bilhões (31% e 19% das receitas de impostos), cumprindo o que determina a Constituição Federal.
Portanto, analisando todos os argumentos veiculados pela imprensa, temos que frases do tipo “KASSAB vai aumentar o IPTU”, “O IPTU deveria reverter-se em benefícios. Mas na prática, o que vemos é mais impostos e menos serviços”, “As pessoas mais pobres estão sempre pagando mais tributos”, ou “Não há nenhum critério técnico dizendo que as regiões foram valorizadas porque houve uma intervenção do município...”, somente espelham a profunda ignorância daqueles que as propagam, ou, na melhor das hipóteses, a vontade incontrolável de criticar e criar polêmica.
Guilherme Ablas, advogado tributarista, jornalista e sócio do escritório Lins e Silva, Braghette, Bueno & Ablas. Mande suas perguntas e dúvidas para rodapejuridico@notaderodape.com.br
César Benjamin, Lula e a Folha de S. Paulo (II)
Li atentamente o noticiário sobre a acusação do editor César Benjamin ao presidente Lula inserida no artigo “Os filhos do Brasil”, publicado pela “Folha de S. Paulo”, segundo a qual o então sindicalista Lula teria tentado estuprar um jovem companheiro de cela. Conforme o relato de César Benjamin, o próprio Lula teria feito essa revelação estarrecedora numa conversa em um almoço durante uma de suas campanhas a presidente.
As primeiras respostas de assessores próximos do presidente consistiram em afirmar que a denúncia só podia ser fruto da “psicopatia” do denunciante, ou que não passava de puro “lixo”. O publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, que já coordenou o marketing de várias campanhas de Lula e atualmente presta serviços ao governo federal, chegou a declarar que não se lembrava de que César Benjamin tivesse participado do almoço mencionado. Nos dois últimos dias, várias outras pessoas foram ouvidas sobre a denúncia de César Benjamin e as primeiras respostas de assessores e amigos do presidente Lula. De suas declarações, concluí o seguinte:
1) Houve o almoço;
2) César Benjamin participou do almoço;
3) Os demais participantes do almoço foram os indicados por César Benjamin em seu artigo, inclusive o cineasta e publicitário Sílvio Tendler, de cujo nome César Benjamin afirmava em seu artigo não recordar;
4) Houve o relato de Lula, confirmado por Sílvio Tendler, que o interpretou, porém, como uma “brincadeira”, evidentemente machista e de muito mau gosto mesmo como “brincadeira”;
5) O “menino do MEP” mencionado por Lula, segundo a reconstituição de César Benjamin, foi identificado como sendo o ex-metalúrgico e ex-militante sindical João Batista dos Santos, o qual, através de um amigo, teria afirmado: “Isso tudo é um mar de lama. Não vou falar com a imprensa. Quem fez a acusação que a comprove.”
Se a reportagem da revista “Veja” corresponde à verdade, a principal testemunha e suposta vítima da tentativa de estupro não confirmou, portanto, mas também não desmentiu a denúncia de César Benjamin.
A essa altura, portanto, as alternativas se resumem a saber se Lula fez apenas uma piada e uma bravata de fundo sexual, machista e de mau gosto, ou se ocorreu efetivamente uma tentativa de estupro, frustrada pela resistência do “menino do MEP”. Por que, em princípio, a interpretação de Sílvio Tendler vale mais do que a de César Benjamin, segundo a qual o sindicalista Lula estaria relatando um fato ocorrido e não apenas uma história inventada?
Alguns se perguntam por que César Benjamin demorou tanto tempo a divulgar esse episódio e por que resolveu desenterrá-lo justamente agora. Lembro as divergências e os ressentimentos indiscutíveis de César Benjamin com o PT e em especial com Lula, mágoas que devem ter renascido com o lançamento do filme “O filho do Brasil” sobre a trajetória do presidente, filme considerado por vários comentaristas como laudatório e acrítico. O artigo de César Benjamin está claramente vinculado a essa circunstância, até mesmo no título. Cabe, por outro lado, indagar por que o candidato Lula iria inventar uma história comprometedora de tentativa de estupro em plena campanha presidencial e na presença de um publicitário estadunidense?
Já escrevi que não disponho de elementos próprios de informação para confirmar ou desmentir as versões em choque. Mas, para mim, gostem ou não os amigos, o assunto continua grave e insuficientemente esclarecido. Será lamentável e perigoso para o futuro das correntes democráticas e socialistas do Brasil se mais este incidente político-moral for varrido para baixo do tapete.
Duarte Pacheco Pereira é jornalista, foi vice-presidente da UNE em 1964 e dirigente nacional da Ação Popular (AP) de 1965 a 1973, obrigado a viver e atuar clandestinamente durante 11 anos. Leia o primeiro artigo aqui.
Glauco Mattoso: “Decidi parar"
“Decidi parar com a carreira mundanolitteraria” me escreveu o amigo e poeta Glauco Mattoso. “Outra hora lhe explico os motivos. Mas ainda permaneço na revista Caros Amigos como ultimo logar onde estarei collaborando. Quando encerrar la, encerro tudo. O resto ja cancellei ou estou cancellando. Mas do resto estou farto”, revelou o poeta, considerado marginal e maldito, sobre a vontade de parar em 2010.
Na troca de e-mail, gentilmente, Mattoso enviou um soneto para este blogue Rodapé, intitulado Soneto sobre uma Sahida Honrosa, juntamente com uma breve declaração, abaixo.
“Factos negativos levaram Mattoso a antecipar a aposentadoria litteraria planejada para 2011, quando o poeta completa 60 annos, razão pela qual não se apresenta mais em publico e só mantem as columnas que assigna na midia impressa ou virtual emquanto não o dispensarem de taes compromissos. Seus ineditos, porem, continuarão a sahir pelos sellos independentes da Annablume ou de outra editora”
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SONETO SOBRE UMA SAHIDA HONROSA
[Glauco Mattoso]
Tentei diversas vezes, mas prometto
agora a serio, mesmo, e a mim apenas:
vou logo aposentar-me, e nas pequenas
coisinhas rotineiras, só, me metto.
Em publico, mais nada. Algum soneto,
talvez, ja não milhares ou centenas.
Desistam os que esperam ver-me em scenas
pornôs de novo, em cor ou branco e preto.
Completo meus sessenta em vinte e nove
de junho, onze passados dos dois mil,
e encerro. Ninguem disso me demove.
Columnas, só as mantenho emquanto o vil
metal não me offerecem. Si não chove
dinheiro, é que ao poder não fui servil.
Numa entrevista para o blogueiro Alexandre Pilati, quando perguntado se a poesia marginal continua marginal, ou virou mercadoria de ocasião na feira poética do cotidiano, respondeu: “Toda poesia é marginal e sempre estará à margem do consumo e dos costumes. Mas os poetas é que pensam que deixam de ser marginais só porque são um pouquinho mais consumidos. Já eu prefiro ser um malditão consumado ao invés de consumido.”
Glauco Mattoso é poeta, ficcionista, ensaísta e articulista em diversas mídias. Pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva (paulistano de 1951), o nome artístico trocadilha com "glaucomatoso" (portador de glaucoma, doença congênita que lhe acarretou perda progressiva da visão, até a cegueira total em 1995), além de aludir a Gregório de Matos, de quem é herdeiro na sátira política e na crítica de costumes. Saiba mais sobre Glauco em seu site.
Manchetes Rejeitadas # 16
Qual a sua opinião a respeito da troca de farpas entre globo x record? Existe alguém que esteja realmente exercendo a função jornalística de forma isenta? (Kauana Miranda, São Paulo, SP)
Cara Kauana, me lembro de uma instrução que recebi ao começar a trabalhar em jornalismo na Folha da Manhã, hoje Folha de S. Paulo. Para a cobertura da guerra do Vietnã, que interessava os EUA, devíamos usar o noticiário da AFP, agência francesa. Para a cobertura da guerra da Argélia, que interessava a França, devíamos usar o noticiário da UPI, agência americana. Hoje a minha opinião é que, quando queremos saber da Globo, devemos dar atenção à Record; quando queremos saber da Record, devemos dar atenção à Globo. Não existe ninguém fazendo jornalismo com isenção, nunca existiu e jamais vai existir. O ser humano forçosamente toma partido. É bom que isso seja consciente e que seja pública a tomada de posição por parte de cada jornalista. E um dos partidos que o jornalista pode tomar é o partido de procurar ser o mais isento possível. Esses são os melhores jornalistas.
Após algumas leituras em diversos meios de comunicação, entre eles a internet, podemos apreender que, em que pese a pobreza no Brasil tenha registrado queda desde 2006, ainda há 36,2 milhões de brasileiros vivendo com até R$ 125,00 por mês; que vivemos em um país que possui o segundo maior índice de analfabetismo da América do Sul, ignorando aí o analfabetismo funcional. Diante desta explanação, o que apresentaria como sugestão prática e viável para maior número de pessoas com contato à rede que possibilita o acesso a toda a espécie de informação, a internet, e mais, a programas culturais em detrimento da própria alimentação diante de tal cenário?
(Flávia Ribeiro Simões, Osasco, São Paulo)
Prezada Flávia, me parece que você está perguntando se o problema da fome não deve ser resolvido antes dos outros. Claro que sim, na minha opinião. No entanto essa não é a opinião de todo mundo. Muitas pessoas acham que os famintos é que têm culpa pela própria fome, pois deveriam se ter preparado para exercer um emprego que lhes proporcionasse renda para preencherem suas necessidades básicas. Além disso, há os que acham que a fome dos outros não é de sua competência, sim do governo ou das Igrejas, ou das ONGs do setor. E mais: para resolver os problemas de quem tem fome, seria necessário que as pessoas que não passam fome desistissem de gozar de alguns benefícios de que gozam. Nem todos estão dispostos a renunciar a aspectos de seu estilo de vida para que ninguém passe fome. Eu diria que praticamente ninguém está disposto a isso.
O lançamento do filme do Lula em 2010 é uma jogada política para o PT e coligados continuarem governando esse país?
(Leandro Cavalcante Damascena, São Paulo, SP)
Certamente o filme terá um papel na campanha eleitoral, mas, como o Lula não pode ser candidato, não será um papel decisivo, longe disso.
domingo, 29 de novembro de 2009
César Benjamin, Lula e a Folha de S. Paulo
A “Folha de S. Paulo” também precisa esclarecer a decisão de publicar o artigo: apurou com o autor se ele poderia sustentar a acusação? Como escreve com bom senso um dos leitores da “Folha” no “Painel do Leitor”: “Publicar um artigo como o de César Benjamin impõe uma obrigação a um jornal como a Folha: a de sair a campo para apurar os fatos. O articulista nomeou no mínimo quatro pessoas facilmente localizáveis e entrevistáveis. E não deve ser difícil levantar o registro de todas as prisões de Lula e, a partir deles, tentar identificar quem seria o ‘menino do MEP’ que teria dividido a cela com o hoje presidente do país. O fato é que um artigo como o de César Benjamin não pode ficar restrito à rubrica de ‘opinião’.”
Recordo, enfim, mais uma vez, que o texto de César Benjamin não se limita à referência estarrecedora ao comportamento do então sindicalista Lula. Reconstitui também sua prisão ilegal aos 17 anos, o tratamento ignominioso a que foi submetido pelos verdugos da ditadura e o apoio digno e solidário que recebeu de presos comuns com os quais dividiu celas e cadeias. Se a trajetória passada do presidente Lula merece respeito, também merece respeito a trajetória passada de César Benjamin, independentemente das posições teóricas e políticas atuais de ambos, com as quais podemos concordar ou não.
Duarte Pacheco Pereira é jornalista, foi vice-presidente da UNE em 1964 e dirigente nacional da Ação Popular (AP) de 1965 a 1973, obrigado a viver e atuar clandestinamente durante 11 anos. Autorizou este blogue Nota de Rodapé a publicar seu ponto de vista a respeito da acusação de César Benjamin contra o presidente da República em artigo na Folha de S. Paulo.
sábado, 28 de novembro de 2009
Estreia: Latitute Sul # 1
A mais nova treta
Então quer dizer que as relações entre Brasil e Estados Unidos agora não estão nada bem. E isso poucos meses depois de Barack Obama ter dito em alto e bom som que Lula é o cara. Também parece não importar muito que ambos presidentes já tenham se encontrado cinco vezes desde que o primeiro negro da história do país assumiu a Casa Branca. As divergências estratégicas em alguns pontos cruciais da agenda internacional jogou tudo no abismo da perdição. Pelo menos é o que se lê e se ouve por aí. Uma pena, realmente. Dois líderes históricos, despojados, duas vitórias ambulantes da democracia… Estariam de mal?
Brasil e Estados Unidos, pelo menos neste momento, divergem em basicamente cinco temas transcendentais. Isso porque, durante o governo Lula, depois de todo aquele medo que precedeu sua vitória eleitoral, em 2002, o país, com todos os seus infinitos problemas internos, tem se transformado num ator global de respeito. Aquela época em que Brasília e Buenos Aires ficavam disputando entre si para ver quem tinha mais nível de influência na América do Sul ficou para trás. Agora o Itamaraty dialoga com outros peixes, em outros mares, maiores e mais profundos. E bate o pé com firmeza quando o tema é Oriente Médio, Honduras, Rodada de Doha, mudança climática e as bases na Colômbia.
Tem muita gente que gosta dessa nova posição internacional do Brasil, ainda que por motivos diferentes. Há aqueles que comemoram o futuro que finalmente chegou e acreditam que o caminho agora está livre para o desenvolvimento: primeiro mundo, lá vamos nós. Outros acham que a diplomacia brasileira vem defendendo, com voz cada vez mais grossa, alguns valores importantes no concerto das nações. E que isso é positivo num mundo que se pretende multipolar.
O país, por exemplo, é a favor da existência de dois estados consolidados e soberanos na Palestina, que respeitem as fronteiras estabelecidas pelas Nações Unidas antes da guerra de 1967. É pouco para os árabes, claro, porque mesmo naquele então a ONU já havia destinado mais território aos israelitas, que chegavam aos montes motivados pelo sionismo. Um acordo envolvendo os limites fixados na década de sessenta, porém, junto com o fim dos assentamentos na Cisjordânia, é o primeiro passo para a paz. Poucos duvidam disso, entre eles Tel Aviv. Os Estados Unidos vai na rabeira.
O Brasil também se posicionou contra o golpe de estado em Honduras e promete não reconhecer os resultados das eleições que o regime de Roberto Micheletti convocou para este 29 de novembro. Nada mais coerente para um povo que já sofreu com as arbitrariedades dos anos de chumbo. Até porque o argumento dos militares hondurenhos para justificar a conspiração não consegue se sustentar. Dizem, por exemplo, que estão defendendo a democracia e a constituição, quando na verdade derrubaram um governo legítimo e desterraram o presidente sendo que esse tipo de punição não existe nas leis do país. [ver a democracia nas democracias] Agora vão realizar um pleito. As faixas espalhadas nas ruas pelo governo de facto dizem: en las urnas está el futuro de Honduras. E antes, não estava? A importância do voto não foi tão considerada quando era Manuel Zelaya o beneficiado pela vontade popular…
Há poucos dias, Lula fez o que pouca gente no mundo faria: receber Mahmoud Ahmadinejad em visita oficial de estado e, pecado, deixar-se fotografar ao lado do ultra-conservador persa, fundamentalista religioso e homofóbico convicto. Deixou o cabelo de muita gente em pé ao defender o programa nuclear iraniano, desde que o enriquecimento de urânio seja utilizado para fins pacíficos, como acontece no Brasil. Também defendeu o direito dos judeus se organizarem num estado localizado no Oriente Médio. E ponto. Na visão da diplomacia brasileira, dialogar não faz mal a ninguém. Pelo contrário, isolar países acossados pela opinião pública internacional é que é perigoso.
Depois, a Rodada de Doha. Tem a ver com a liberalização do comércio e o fim das barreiras alfandegárias criadas pelos países desenvolvidos para proteger os setores mais frágeis de suas economias. Os Estados Unidos pregam o neoliberalismo geral e irrestrito, mas não abrem mão de salvaguardas quando lhes interessa. Lula já há algum tempo comprou o discurso globalizante da Casa Branca, mas quer o pacote todo, sem as contradições. O mesmo em relação às bases que serão cedidas pela Colômbia para a instalação de soldados e equipamento militar ianque. Obama prometeu mudar as relações de Washington com a América Latina, mas até agora não deu sinais de que realmente quer um diálogo de igual para igual com as democracias tropicais.
Lula e todos os demais presidentes sul-americanos têm razões históricas de sobra para criticar a presença bélica dos Estados Unidos em solo colombiano. Vão ajudar no combate ao narcotráfico, alega-se. Mas não é Álvaro Uribe que vive discursando sobre o debilitamento das FARC e de outros grupos guerrilheiros que perambulam pelas selvas amazônicas? E, mesmo que realmente necessite da ajuda norte-americana, como alguém pode pretender combater com eficácia a indústria da cocaína apenas agindo na produção – e não na demanda?
Mais: o ex-presidente Ernesto Samper, que ocupou o Palácio de Nariño entre 1994 e 1998, diz que a maquinaria de guerra que será instalada pelo Pentágono na Colômbia não vai se limitar apenas ao combate à droga.
“Coloco na mesa os vários antecedentes das bases. Primeiro, que desde janeiro as bases figuravam nos mapas do Pentágono como parte da estratégia de segurança básica dos Estados Unidos. Segundo, que na solicitação do Pentágono para adequar Palanquero claramente se estabelecia que a base também serviria para neutralizar os governos inimigos dos Estados Unidos. E, terceiro, os tipos de equipamentos que as bases terão: os C17, que transportam até 70 toneladas de material bélico; os Orion 3, que são para espionagem rápida e vão para a base de Malambo; os Boeing Galaxy, que são para transporte em massa de passageiros, e os Awacs, que são plataformas eletrônicas móveis. Esses não são equipamentos para combater o narcotráfico e a guerrilha na Colômbia. A partir das bases, começarão a lançar operações de vigilância sobre a região e vão terminar por nos isolar.” [ver mais em opera mundi]
Cabe um parêntesis: Samper deu essa entrevista na semana passada, mas durante seu governo foi acusado de ter aceitado dinheiro do narcotráfico para financiar sua campanha eleitoral. O caso ficou conhecido como Proceso 8.000. [ver mais na wikipedia]
Por fim, a conferência do clima em Copenhague. O Brasil acaba de anunciar suas metas de redução nas emissões de gases causadores do efeito estufa. Vai baixar a produção de CO2, segundo anúncio oficial do governo, em 36 ou 38 por cento em relação aos níveis previstos para 2020. Mais que uma declaração de boas intenções, Lula quer que essa promessa se transforme em lei e já está mexendo seus pauzinhos no Congresso para viabilizá-la. Quando visitou a China, em novembro, Barack Obama disse que não ia se comprometer com nada, e que não assumiria nenhuma responsabilidade legal sobre as decisões de Copenhague. Hu Jintao, premiê chinês, foi na onda. Não é à toa que os dois governam os países que hoje em dia mais abreviam a vida do planeta em nome do crescimento econômico. Pegou tão mal que Washington voltou atrás. Agora propõe um corte de 17 por cento em relação aos níveis de 2005, a serem executados nos próximos dez anos. Claro que não é suficiente. Nenhuma das soluções dentro do sistema é suficiente.
Não é questão de contrapor a diplomacia brasileira e a estadunidense ou fazer uma rápida avaliação de qual contribui para a paz no mundo e qual trabalha pela destruição iminente da Terra, seja por guerras ou hecatombes ambientais. O problema é Barack Obama. Sua figura política leva esperança ao mundo, mas é uma esperança falsa. Basta dizer que o presidente incrementou o número de soldados no Afeganistão um dia depois de ter recebido o Prêmio Nobel da Paz. Prometeu desocupar Guantánamo, mas voltou atrás e disse que vai ser difícil abrir mão da base que mais pisou nas convenções internacionais de direitos humanos ultimamente. Também vai reconhecer as eleições hondurenhas, organizada em meio à morte de pelo menos 26 opositores da ditadura, e não aceita que outros países enriqueçam urânio para produzir a bomba, sendo que os Estados Unidos estocam um arsenal nuclear imenso e, como se não bastasse, foram a única nação que teve coragem de lançar um artefato atômico contra civis.
Portanto, é válido que o Brasil emerja como ator global para resguardar determinadas posições democráticas e marcar diferenças em relação às grandes potências mundiais quando estas não fazem mais do que esconder contradições grotescas por debaixo de discursos pomposos em defesa da liberdade que já não enganam mais ninguém.
Complicado é o governo começar a se utilizar dessa posição de destaque no cenário internacional para se impor aos demais países latino-americanos com ares de nação hegemônica. Nenhum dos vizinhos – seja na bacia do Prata, nos Andes ou no Caribe – está a fim de continuar ocupando um papel subalterno em relação à sua própria história. Não há interesse em mudar de amo, mas de tomar as rédeas do próprio destino. O Brasil, como potência regional ou seja lá o que for, é tão ruim para as nações que a ele se submetem como os Estados Unidos, a Europa ou qualquer outro país. A Petrobras, por exemplo, apesar de ser idolatrada aqui, é vista como qualquer outra companhia transnacional pelos bolivianos, equatorianos ou peruanos, uma corporação que chega, extrai, polui, empobrece e vai embora com mais dinheiro do que deixa. O mesmo acontece com a Odebrecht, Camargo-Corrêa e outras empresas alabadas pelo governo Lula e apoiadas pelo BNDES em suas empreitadas latino-americanos.
A “liderança natural” do Brasil dentro da América do Sul é um papo que cansa os demais presidentes da região. A diplomacia brasileira tem trabalhado muito bem no geral, mas ainda não acordou para o fato de que ninguém aqui precisa de líderes. Buscam-se, isso sim, parceiros. Antes foi a Espanha, depois a Inglaterra, depois os Estados Unidos e, agora, ao que parece, vai ser o Brasil a dar as cartas por aqui. O que é que muda para Equador, Argentina, Venezuela, Bolívia, Peru, Colômbia, Uruguai, Paraguai? Arriscaria a dizer que não muda nada. A mudança, pelo contrário, seria a instauração de uma ordem sul-americana livre de potências hegemônicas. Isso demanda respeito e solidariedade, que não condiz com interesses econômicos expansionistas ou ânsias de liderança perante o mundo.
Talvez o maior sinal de que os países vizinhos não querem entrar debaixo da asa do Brasil tenha sido dado em Manaus, na conferência sobre mudança climática. Lula chamou os presidentes da bacia amazônica para discutir, com a presença de Nicolas Sarkozy, uma proposta unificada para Copenhague. Além do europeu, representante da Guiana Francesa, apenas o mandatário da outra Guiana compareceu.
A ascensão política do Brasil no cenário internacional, se não for bem direcionada pelo Itamaraty, pode entornar o caldo da integração latino-americana e começar a fortalecer, a exemplo do que acontece com os Estados Unidos, uma espécie de sentimento anti-brasileiro que já existe na região.
Tadeu Breda é jornalista e estreia hoje sua coluna neste blogue Rodapé. latitudesul.wordpress.com
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Pretensão e água benta
O Camané faleceu ainda jovem, vítima de infecção hospitalar pós operatória. Homem de muitas virtudes, o Camané era bastante criticado pelo comportamento egoísta que por vezes apresentava. Em particular às refeições, onde era o primeiro a se servir e a escolher os melhores nacos e pedaços dos pratos servidos, sem cerimônias. Certa vez, ele foi criticado e questionado pela mulher de um amigo comum e sua resposta foi simples: disse que fora educado na companhia de outros dez irmãos e que desde cedo teve que aprender a se virar, em particular durante as refeições. Embora simplória e até certo ponto injustificável, ainda que verdadeira, a explicação penso que convenceu pelo menos aos seus amigos mais próximos. E suas outras virtudes superavam essa, digamos, pequena mazela.
Essas lembranças e reflexões vêm a propósito de um fenômeno que acontece no Brasil nos últimos anos, notadamente nos últimos quatro ou cinco. Nos dias que correm, é comum ouvir-se em certas rodas ou grupos sociais as mais variadas críticas ao governo do presidente Lula. Em geral de pessoas bem nutridas, bem vestidas, com todos os dentes na boca, carros do ano, com títulos acadêmicos e ações na Bolsa de Valores, donos de terras griladas em São Paulo ou no Mato Grosso, frequentadores de Paris, Miami e Buenos Aires e que insistem em apontar e debochar do “jequismo” do presidente e sua mulher, da sua falta de preparo, das irregularidades, do oportunismo e da corrupção do seu governo, do assalto aos cofres públicos por aqueles que nunca tiveram nada... E por aí afora.
Esquecem-se, esses praticantes e defensores da moralidade pátria, do extremado egoísmo e da cultura neoliberal de que sentem saudades, que o Brasil, graças, sobretudo aos últimos oito anos de governo do presidente Lula, se transformou na casa dos dez irmãos do Camané. Muitos têm que defender o seu pão de cada dia, outros tantos ganharam – pela primeira vez em 500 anos – a oportunidade de se defenderem à mesa ou fora dela, com empregos, bolsa família, Prouni, crédito mais em conta, luz e vaso sanitário no lugar da fossa. Os juros bancários caíram de 27% ao ano (governo FHC) a 8,5% ao ano no atual governo, o país saldou a sua até então eterna dívida com os credores internacionais e hoje empresta dinheiro ao FMI.
Contudo, a arte de falar mal faz parte da nossa cultura. Disso é prova o cantor Caetano Veloso que em recente entrevista ao Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo disse, entre outras bobagens, que Lula é analfabeto e tem uma linguagem grosseira. Ou da atriz (?) Maitê Proença, a dizer bobagens e desfilar seu preconceito sobre o Portugal do Camané num desses programetes metidos a eruditos e inteligentes. Argumentos falaciosos de parte de uma elite branca, alguns até de sobrenomes estrangeirados, cujos pais e avós foram bem recebidos nessa terra encantadora, frustrados com a grande aceitação e o reconhecimento do atual Brasil no concerto das nações. País que ultrapassou a crise financeira mundial com uma estratégia adequada à superação de inúmeros problemas, sendo o desemprego o fortalecimento do mercado interno os principais deles.
Mas quem, por acaso e paciência, conseguiu ler até à última página o livro ‘Verdade Tropical’ (a que já chamei de ‘Vaidade Tropical’) não se surpreende mais com estes ataques elitistas do filósofo baiano da contemporânea escola sofista do Leblon e dos Jardins e que teve o desplante de dividir a cultura brasileira em antes e depois de Caetano Veloso (leia-se no tal livro a sua explicação sobre o tropicalismo). Quanta arrogância e quanta inveja e frustração ao mesmo tempo!
Fico aqui pensando se quando o Caetano vai dormir, ele não fica ali se imaginando no mesmo panteão de Machado de Assis, Mário de Andrade, Di Cavalcanti, Carlos Gomes, Joaquim Nabuco. Ou a Maitê, sonhando em ser Cacilda Becker, Fernanda Torres, Madame Morineau, Miriam Muniz. Afinal, pretensão e água benta não fazem mal a ninguém. Sinto mais simpatias pela transparência e pela frontalidade do Camané ao falar do seu egoísmo aos seus críticos...
Izaías Almada é colunista do blogue Rodapé e autor, entre outros, do livro ‘Teatro de Arena: uma estética de resistência’, Editora Boitempo
De Nazaré da Mata, BifVrcação
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Em Delhi me surpreendendo a cada segundo
Vencedores da Promoção Cultural Nota de Rodapé "Improvável"
1º colocado, Kauana Miranda, São Paulo, SP com a pergunta: "Qual a sua opinião a respeito da troca de farpas entre globo x record? Existe alguém que esteja realmente exercendo a função jornalística de forma isenta?", receberá 01 par de ingressos para a estreia do espetáculo no dia 27-11-2009 (sexta-feira) no Teatro Anhembi Morumbi às 23h 30.
2º colocado, Flávia Ribeiro Simões, Osasco, São Paulo, com a pergunta, "Após algumas leituras em diversos meios de comunicação, entre eles a internet, podemos apreender que, em que pese a pobreza no Brasil tenha registrado queda desde 2006, ainda há 36,2 milhões de brasileiros vivendo com até R$ 125,00 por mês; que vivemos em um país que possui o segundo maior índice de analfabetismo da América do Sul, ignorando aí o analfabetismo funcional. Diante desta explanação, o que apresentaria como sugestão prática e viável para maior número de pessoas com contato à rede que possibilita o acesso a toda a espécie de informação, a internet, e mais, a programas culturais em detrimento da própria alimentação diante de tal cenário?" receberá, 01 par de ingressos para o espetáculo no dia 28-11-2009 (Sábado) no Teatro Anhembi Morumbi às 23h 30.
3º colocado, Leandro Cavalcante Damascena, São Paulo, SP, com a pergunta: "O lançamento do filme do Lula em 2010 é uma jogada política para o PT e coligados continuarem governando esse país?" receberá, 01 par de ingressos para o espetáculo no dia 29-11-2009 (domingo) no Teatro Anhembi Morumbi às 21h.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Estreia: Mãe em Surto # 1
O que eu tenho visto nessa modernagem é um monte de mulheres surtadas, tentando equilibrar a bolinha no nariz, trabalhando, frilando, furando a academia quando dá, saindo por aí descabelada e quem sabe fazendo um sexo bem sucedido de vez em quando. Mas uma coisa tenho que admitir: a gente se diverte. E cria gerações cada vez mais incríveis.
Chuta daqui, defende dali e no final dá tudo certo. Por isso acho mais razoável e honesto chamar essa coluna de "mãe em surto." Por exemplo: neste exato momento, eu faço uma matéria sobre erotismo para mulheres para uma revista feminina, terminei outras quatro sobre alergia para um site de medicamentos, entrevisto um ninja por msn para o jornal para o qual trabalho e escrevo essa coluna. Ah, tenho que ligar na escola para renegociar o desconto do ano que vem e pegar a homeopatia no caminho de casa... Bem lembrado.
Andrea Dip é jornalista, mãe do Davi, pugilista e colecionadora de quadrinhos eróticos. Os prêmios que ganhou (como jornalista, não como mãe e muito menos como erótica) não serviram para nada, a não ser para receber elogios meia-boca de pessoas chatas com copos na mão. Ou seja: como todo brasileiro, ganha pouco, mas se diverte como pode.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Luiza Erundina ganha apoio em blogue
No anúncio publicado no jornal a ex-prefeita defendia a greve nacional dos transportes, alegando, por exemplo, que os ônibus não deveriam sair da garagem para envitar que ficassem mais deteriorados do que já estavam. Alvo de uma Ação Popular (no mesmo ano de 1989) de um paulistano desgostoso com a atitude, Luiza teve, neste abril de 2009, ou seja, exatos 20 anos depois do ocorrido, todos os seus bens penhorados: o apartamento, o automóvel e 10% do salário que recebe como deputada federal. A ação impetrada pelo cidadão Gamez Nunes pede que Erundina devolva o dinheiro que a Prefeitura utilizou na publicação em que ela se posicionou favoravelmente ao movimento grevista. A deputada que tem a casa como único bem - o que por lei bloqueia a penhorabilidade - abriu mão desta prerrogativa para arcar com pequena parte da dívida.
O que parece piada pronta não é. A política honesta que pagando o pato de muitos desonestos. A Rede Brasil Atual com o repórter e colunista deste blogue, João Peres (Extremo Ocidente), noticiou o ocorrido. Disse Erundina que “jamais” poderá pagar essa dívida (corrigida pela inflação ao longo desses anos todos) e que sofre com preconceito por ser de esquerda. João Peres escreveu belo texto sobre o primeiro jantar de apoio para arrecadar verba – iniciativa dos amigos e que muito emocionou Luiza.
Agora, para dar sequencia, foi criado o Blog Luiza Apoio Você com os dados da conta da campanha e depoimentos dos apoiadores. Você também pode deixar o seu depoimento. Para os que puderem contribuir aí vai a conta: Banco do Brasil - Agência 4884-4 - Conta corrente 2009-5.
"Tem muito canalha lá"
Nunca me esqueço da entrevista na qual participei com Erundina, em que, emocionada, falou do povo e do quão delicada foi ao discorrer sobre o seu ex-partido, o PT. Certa altura da entrevista, realizada em 2007, quando perguntei sobre o congresso me respondeu: "O que a mídia transmite sobre o Congresso não é real. Ou real em parte, por que a mídia só projeta aquilo que é destrutivo para o poder, sobretudo a Câmara. Se há uma instituição na democracia burguesa mais representativa do povo, é a Câmara. Por isso que uma certa mídia faz campanha tão sistemática para destruir o poder, para com isso enfraquecer a democracia. A grande parte dessa mídia não tem compromisso com a democracia, porque não pagou por ela. Não podemos correr riscos, e a forma como uma certa mídia desmoraliza o Poder Legislativo... não obstante todos os canalhas que têm lá. E tem muito canalha lá, de todos os partidos. Mas eu valorizo tudo o que se produz de bom naquele Congresso e se produz muita coisa boa. Acompanhem as comissões temáticas, os seminários que se realizam, as audiências públicas, as discussões de projetos de iniciativa do governo, de iniciativa do próprio Congresso. Agora mesmo temos uma discussão riquíssima na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação Informática, sobre a revisão das normas de outorga e renovação de concessão." Erundina tem meu apoio e falo apenas por mim, não falo nem em nome deste blogue ou dos seus colunistas.
Ferréz: Cronista de um Tempo Ruim
Promoção Rodapé
A partir de agora todos os leitores deste blogue que se cadastrarem no "Boletim Rodapé" (ao lado) concorrem a um total de cinco livros (Cronista de um Tempo Ruim) autografados pelo escritor; eles serão sorteados no dia 5 de dezembro e o resultado divulgado no blogue no dia 6.
domingo, 22 de novembro de 2009
Discurso de Steve Jobs para a turma de formandos de 2005 em Stanford
Parte 1 e 2
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Trabalhadores da Flaskô contam sua história na tevê
Lembrando: hoje, 20/11 (Sexta-Feira feriado), no canal Multishow (TV a cabo), às 23:00 será exibido um programa (Conexões Urbanas) sobre a Flaskô. Horários alternativos: Sábado, 21/11 - 14h15 / Domingo, 22/11 - 8h30 / Segunda, 23/11 - 13h / Terça, 24/11 / 16h / Quarta, 25/11 - 5h30
Histórico
2003. 12 de junho. Após três meses de salários atrasados e na iminência do fechamento da empresa pelos patrões os trabalhadores da Flaskô que fabrica materiais plásticos em Sumaré, na Região Metropolitana de Campinas, ocuparam e assumiram o controle da fábrica. Estes trabalhadores lutam para manter as fábricas em funcionamento e garantir os postos de trabalho. A reivindicação é que o governo assuma o controle destas empresas, através da estatização.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
A seleção precisa de um Fenômeno para brilhar na África
A seleção brasileira, mais uma vez, vai chegar a uma Copa do Mundo como favorita ao título. A amarelinha por si só já impõe respeito aos adversários e a campanha da equipe sob o comando de Dunga anima os torcedores. Depois de ser muito questionado, o capitão do tetra mostrou competência ao promover a reformulação no grupo pós-trauma da Copa da Alemanha-2006.
O time conquistou a Copa América, a Copa das Confederações, já em território sul-africano, e fez uma campanha sólida nas Eliminatórias Sul-Americanas. Apesar dos méritos da equipe de Dunga, há que se ressaltar algumas falhas a serem corrigidas.
O treinador montou uma base boa para a disputa do mundial de 2010, com uma defesa sólida e um esquema que aposta na velocidade, nos avanços dos bons laterais Maicon e Daniel Alves.
Do meio para trás, estamos tranquilos, com uma dúvida ainda para a lateral-esquerda, posição carente de um titular absoluto desde a saída de Roberto Carlos (se ele não tivesse se abaixado para arrumar a meia contra a França, talvez ainda estivesse no grupo...).
O problema para Dunga fechar o grupo está na parte ofensiva do time. O talento de Kaká e o oportunismo do artilheiro Luís Fabiano são as principais armas da seleção, mas acho pouco para conquistar o tão sonhado hexa. Nilmar tem aproveitado as oportunidades e parece ser o parceiro ideal do Fabuloso na frente.
Robinho, que não joga há muito tempo, ou porque está machucado, ou porque está preocupado com a próxima negociação da sua carreira, conta com a confiança do Dunga, mas eu deixaria o ex-menino da Vila assintindo a Copa pela TV.
Ainda sobre o Robinho, vale um comentário: é um jogador que tem muita habilidade, não é gênio e joga muito menos do que pensa. Ultimamente tem se especializado em criar situações adversas para romper contratos e conseguir ser negociado: a próxima vítima é o Manchester City, que deve perder o “pedalador” para o Barcelona. Alexandre Pato, que tem crescido muito no Milan, merece outra chance com a amarelinha. Kaká vai para a terceira Copa e chega com status de estrela principal do time, com méritos, mas é preciso alternativas para não diminuir a já existente dependência do time às arrancadas dele.
O ex-santista Diego, que está comendo a bola na Juventus, é uma boa opção para substituir Kaká, o único armador do time.
Diego Souza foi testado, mas não convenceu, além de não repetir, há tempos, no Palmeiras as boas atuações que o levaram a ser convocado. Ainda no ataque, Dunga deveria pensar com carinho em um nome que já vem sendo citado há algum tempo: Ronaldo. O jogador, mesmo fora de forma durante boa parte da temporada 2009 foi o principal nome do Corinthians e ajudou o time paulista a conquistar o campeonato estadual e a Copa do Brasil, além de ser o principal artilheiro da equipe no ano.
Ele provou, mais uma vez, que, motivado e focado em jogar bola, ele desequilibra. E Ronaldo já declarou que vai fazer o maior esforço da carreira para poder disputar mais um mundial (se não sofrer nenhuma lesão no primeiro semestre, o cara vai comer a bola... além do mais, seria mais um nome forte para dividir a responsabilidade com Kaká.)
Depois de inúmeras contusões nos joelhos, o atacante readaptou seu estilo de jogo ao novo porte físico. A explosão e as arrancadas ainda são armas perigosas do Fenômeno, mas hoje ele sabe que não consegue correr o campo inteiro durante 90 minutos, usa os atalhos do campo para ser mais cerebral e eficiente. A capacidade técnica de Ronaldo é incomparável com qualquer atacante – ele realmente domina todos os fundamentos como poucos, dribla, passa e chuta com as duas pernas. Claro que a camisa 9 será de Luís Fabiano na Copa, mas seria ótimo contar com a experiência de Ronaldo na competição, mesmo que ele fique no banco.
Os recentes testes feitos por Dunga mostram que ainda há espaço para o dentuço, ou alguém acredita que Hulk, chamado recentemente pelo técnico da seleção, é um reserva ideal para uma Copa do Mundo? A seleção precisa de um Fenômeno para brilhar na África.
Outro que merece estar no grupo é o goleiro Marcos, do Palmeiras. O pentacampeão pode ajudar muito o grupo com sua experiência. Seria um bom nome para terceiro goleiro, já que Júlio César vive fase extraordinária e Doni tem a confiança de Dunga (só dele...).
Bom, dia 04 de dezembro a Copa começa de verdade, com o sorteio dos grupos. Encerraremos o ano já sabendo os primeiros adversários na África. Boa sorte, Brasil!
Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Blog Rodapé.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Promoção Cultural Blogue Nota de Rodapé
Leia o regulamento abaixo e escreva para o e-mail promocao@notaderodape.com.br
É simples: envie qualquer pergunta até 1 mil caracteres ao colunista deste blogue, Tietê Campos, escritor e jornalista, para que ele responda em suas próximas colunas.
Rodapé Jurídico # 1
Guilherme Ablas, advogado tributarista, jornalista e sócio do escritório Lins e Silva, Braghette, Bueno & Ablas estreia hoje sua coluna no Blog Rodapé. A novidade é que você, leitor, pode enviar suas sugestões de temas para coluna ou perguntas e dúvidas sobre o mundo jurídico, tão pouco acessível ao povão, que o Guilherme responderá ao serviço na medida do possível neste espaço. Para contato escreva para rodapejuridico@notaderodape.com.br
Curtas Banais # 9
da vontade
vida de frila não é fácil. pra começar, enquanto todo mundo reclama de trabalhar muito, ou eventualmente de estar desempregado, você reclama de ambas as coisas. porque quando o trabalho vem, vem mesmo. às vezes, dois ou mais ao mesmo tempo – e você se desdobrando em trinta. e a seca, quando vem (toc, toc toc), também é dura: dias olhando pro vento, cozinhando, fazendo academia e tentando não pirar. isso sem falar na negociação de grana, sempre estressante: sempre algum cachê pra tentar melhorar, uma argumentação meio constrangedora (imagine ter que negociar seu salário com seu chefe todo mês – pro frila é toda semana, com vários “chefes” diferentes). e aí é uma nota pra enviar, um imposto pra pagar, um cachê atrasado e a sua conta no vermelho.
como se não bastasse, tem o lado “social” da coisa: sempre tendo que fazer uma média, meio com medo se queimar ou de mandar alguém ir praquele lugar (pra quem é bocuda que nem eu isso é foda), ou aguentando gente chata e incompetente… pelo menos no mercado de vídeo-cinema-tevê é bastante assim. mas acho que em qualquer área rola isso.
bom, eu tava meio que nessa aí. dois trabalhos ao mesmo tempo, produção e roteiro. cada coisa numa produtora, claro. correndo pra caramba – tipo de manhã reunião com cliente na zona sul, de tarde visitando locação na zona norte, de salto e blusinha de manga-morcego. aí beleza, gravei minhas duas diárias, terminei o job (o de produção – falta fechar, mas a gente se vira…) e no domingo acordo em casa, aquele solzinho, dez da manhã, o corpo todo dolorido depois da primeira noite de sono completa em quatro dias. tomo meu café e sento no quintal, mentalizando que teria que me concentrar e - sem nem o sagrado domingo de descanso – sentar pra escrever.
de repente, vem a inspiração:
-baby, sabe o que eu queria ser?
-o quê?
-um ovo frito.
-?
-pensa bem: ele tá sempre deitadinho, com aquela geminha mole, balançando… em paz…
um ovo frito. taí.
Sofia Amaral é roteirista e produtora, e tá cansada até pra escrever mais nesse crédito. Ufa!
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Entrevista com o ator de Lula, Filho do Brasil
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Manifesto Porta na Cara
Direito à comunicação
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Rodrigueanos I e II
I
“Quando você olhou para mim e disse, com a segurança de um cardeal francês, que eu não era fiel ao meu noivo, tive vontade de lhe cuspir na cara...”
“E pensa que eu não percebi?... Mas também não podia deixar de dizer aquilo. Não que eu tivesse qualquer prova da sua infidelidade, mas foi uma maneira arriscada de lhe dar uma cantada.”
“Cantada?!... É engraçado... Fiquei com aquilo martelando na minha cabeça, dias, semanas inteiras...”
“E...?”
“O pior é que a raiva me fazia lembrar você o tempo todo. De repente a raiva foi passando, passando e desapareceu... E eu continuei a pensar em você...”
“Menos mal...”
“E agora fico toda excitada só em pensar numa possibilidade...”
“Qual?”
“Quero trair o meu noivo... Com você...”
“Jura?”
“Hoje à noite, você vem ao meu apartamento...”
“E ele?”
“Está viajando... Só volta no domingo. Quero lhe agradecer...”
“Agradecer?”
“Você pode não acreditar, mas agora eu só consigo me excitar quando penso que estou traindo o meu noivo com você. E sabe o que mais? Jamais tive um orgasmo com ele...”
II
Toda primeira sexta-feira do mês, ali pelas nove e meia da manhã, fizesse chuva ou sol, a viúva do escriturário Maranhão visitava sepultura do marido. E lá lhe depositava um cravo, um copo de leite ou mesmo uma rosa amarela, dependendo do seu estado de espírito. Ritual que cumpria com santa religiosidade.
Seios fartos, envoltos em decotes profanos, Solange descobriu, numa dessas manhãs, um gari a masturbar-se por detrás do mausoléu ao lado. Não dei queixa e nem se tomou de falsos pudores ou indignados moralismos. Por fim, ofereceu-se a oportunidade que tanto esperou para vingar-se do marido infiel e devasso.
Toda primeira sexta-feira do mês, ali pelas nove e meia da manhã, com chuva ou sol, a viúva do Maranhão continua a vestir-se como uma dama da noite e a visitar-lhe a sepultura. Só que agora leva na bolsa uma camisinha lubrificada e uma calcinha limpa.
Trai o canalha em cima da lápide fria e com um gari da prefeitura...
Izaías Almada é escritor, dramaturgo e colunista do Blog Rodapé. Contos do autor no livro O VIDENTE DA RUA 46, Ed. Mania de Livro
"Ensaios do que será a humanidade"
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Que culpa tem o Urso Polar se Itaipú parou?
Meu irmão, ao voltar do trabalho de moto, contou que os motoqueiros se reuniam em comboio por maior segurança. Ele mesmo voltou num desses. Na Paulista, contou, a ausência dos faróis "pirou a batatinha" dos motoristas. O trânsito ferveu. Quantos assaltos rolaram nesse intervalo de blecaute em 15 regiões - inclusive no vizinho Paraguai? Imaginei quem estava preso dentro dos trens que pego todo santo dia. E quem mora onde não tem energia elétrica o que deve pensar disso?
Os analistas já devem calcular os prejuízos econômicos deste novo apagão. Quantos milhões ou bilhões virtuais se dissiparam por aí? Realmente importa?
A Usina de Itaipú diz que o problema não começou lá. O Lobão, titular do Ministério de Minas e Energia, diz que "tempestades no Sul" podem causar problemas nos transmissores. Seria um aviso da natureza para iluminar as mentes sobre a necessidade de reduzir o Aquecimento Global de uma vez? A 5ª Conferência do Clima da ONU, que será realizada em dezembro, em Copenhague, vem aí e já tem Urso Polar ilhado em Iceberg boiando no mundão. Que culpa eles têm se Itaipu parou? E o nosso consumo alucinado é símbolo ou necessidade? Tá mais pra primeira opção. Quando a energia voltou, lá pela 3h da madrugada, eu queria manter a vela acessa. Simbolismo meu, mas que bobagem. O progresso é fruto da luta do homem contra a natureza. Estamos ganhando a luta.
Thiago Domenici é jornalista
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Madrugador # 2
Reflexões do cotidiano
Hoje resolvi sair das notícias, análises ou críticas. Vamos falar de assuntos mais light. Sem pretensão alguma, apenas sugiro que vocês reflitam sobre seus costumes. A vida de um madrugador é sacrificante, mas me proporciona refletir sobre algumas coisas que, em geral, acabam sendo deixadas de lado na correria do nosso cotidiano.
Eu vivo em São Paulo, no fuso horário de Tóquio, sem trabalhar para uma multinacional japonesa. O desgaste físico e emocional é grande: depois de passar a noite inteira acordado, com uma série de responsabilidades e cobranças, chegar em casa com o sol quente e tentar dormir não é fácil. Quando não é o calor que atrapalha, é o vizinho que resolveu furar a parede, ou as crianças que brincam no pátio do condomínio... Na verdade, ninguém tem culpa, afinal, o dia foi feito para ser aproveitado. Médicos, policiais, bombeiros, entre outros profissionais que sacrificam o sono em benefícios da sociedade, sabem que a jornada é dura. Mas não pensem que estou reclamando.
Um dia desses, voltando do trabalho resolvi tomar uma água de coco para refrescar a mente. Quantas pessoas podem se dar ao luxo de se sentar em um gramado no parque, às dez e pouco da manhã de uma quarta-feira, sem se preocupar em não perder a hora do trabalho?
Comecei então a reparar à minha volta: pessoas estressadas, com cara de preocupação e irritadas eram comuns. Poucos estavam tão relaxados quanto eu. Cheguei em casa, mais descansado, e fui recepcionado por Malzibeer, não a cerveja, mas meu cachorro, que ficou feliz só de ouvir meus passos no corredor.
Neste momento dei valor à antiga frase: “as pequenas coisas da vida nos proporcionam as maiores alegrias”. Estamos rodeados de notícias ruins, mas podemos, sim, conviver melhor com elas, sem enlouquecer ou ganhar uma úlcera. Experimente dar um simples “bom dia” aos companheiros de trabalho, principalmente àqueles que você não tem muito contato. Não deixe de falar o quanto você ama sua família e amigos. “Perca” alguns minutos respirando, sem correria, sem preocupação. Claro que não vamos mudar o mundo com esses gestos, mas, com certeza, teremos mais momentos prazerosos na vida.
Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Blog Rodapé.
Retrato Falado do Guerrilheiro
A Videoteca Virtual Brasil Nunca Mais é parte integrante do Projeto Memórias Reveladas do Arquivo Nacional e lá você pode ver o filme Retrato Falado do Guerrilheiro, de Silvio Tendler, sobre Marighella, assassinado há 40 anos. Como postei anteriormente neste blogue, uma série de eventos se realizaram semana passada na semana Marighella Vive! “Deputado constituinte em 1946 e um dos principais dirigentes do Partido Comunista. Cassado quando o partido foi posto na ilegadade, Carlos Marighella foi um dos dirigentes da luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Em 66, ainda no PC, propôs o caminho da guerrilha e por isso foi expulso. Fundou a Ação Libertadora Nacional, primeiro movimento armado pós-64 do país. O documentário sobre a vida desta figura polêmica da recente história do Brasil contará a trajetória do professor Marighella, do deputado Marighella, do guerrilheiro Marighella. Mas, acima de tudo, contará a história do homem Marighella. Um filme de Silvio Tendler." Assista o filme aqui.