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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Curtas Banais #5


do condicionamento físico


aí que eu, que nunca gostei de exercícios, resolvi fazer academia. sabe como é que é, depois dos 25 tudo começa a cair, e principalmente porque estava (estou?) a fim de parar de fumar e achei que talvez os exercícios pudessem ajudar. nem é preciso dizer que eu ainda não comecei a tentar largar o cigarro, mas… tô adorando a tal da academia. me sinto ótima depois que saio, cheia de energia, os exercícios são baseados em metas pessoais e eu mesma tento me superar, enfim: aquilo tudo que todo mundo fala e eu nunca acreditei muito. e no momento meu grande objetivo é apenas um: correr na esteira.

eu comecei só andando, há três semanas. beleza, tranquilo, ando rápido, suo, ouço música eletrônica no meu ipod, fico feliz. mas comecei a reparar que absolutamente todos os meus vizinhos de esteira correm. e esse negócio de superar a si próprio é meio viciante: em poucos dias eu já fiquei super a fim de correr também. de conseguir. de me superar. de provar pra mim mesma que posso ser mais do que uma gordinha sedentária. coisas imbecis que só quem faz academia entende. mas eu tinha um grande problema.

não, meu problema não era (ainda) o fôlego. o cigarro. o sedentarismo acumulado em anos a fio. meu problema era o MEDO DE CAIR.

sim. medo de cair. eu sou descoordenada. muito descoordenada. tipo aquela que era sempre a última a ser escolhida na educação física, fosse pra futebol, vôlei ou queimada. e, por mais que eu desejasse, parecia que meus pés se grudavam no chão. eu não tinha coragem  de aumentar a velocidade. já me imaginava estatelada no chão, boca sangrando, as pessoas se segurando pra não rir, eu nunca mais tendo cara pra voltar nessa academia – e nem em nenhuma outra, nunca mais.

maaaas, como tudo nesse mundo fitness é superação pessoal, acabei conseguindo. senhoras e senhores, eu consegui. quase pude ouvir a música do carruagens de fogo tocando ao fundo. emocionante. corri apenas um minuto, já no final dos meus quarenta regulares, mas foi o suficiente para que eu saísse de lá e fosse imediatamente comprar um tênis decente, pra poder correr sem destruir meus joelhos.

dia seguinte, tênis novo. feliz, me sentindo uma verdadeira atleta, alterno minutos de corrida com minutos de caminhada. vou descobrindo os macetes de fôlego e equilíbrio. estou ali, na minha super viagem atlética – talvez uma das primeiras da minha vida –
vermelha, suada, sorridente, quando uma das instrutoras da academia se aproxima com uma cara preocupada.

-    então… deixa eu te perguntar uma coisa… por acaso você fuma?

puta que pariu. devo estar com cara de quem vai ter um enfarte prematuro. puta que pariu que merda, agora que tô curtindo tanto ela vai falar que não posso correr. ou que tô correndo errado. ai, droga droga droga!

-    fumo…
-    ah é?? – sorridente – pô, você tem um isqueiro pra emprestar?

a vida é bela, meus caros. a vida é bela.

Sofia Amaral é roteirista, produtora e um monte de outras coisas, inclusive uma quase atleta.

3 comentários:

Tatiana Estanislau disse...

Estou me divertindo muito seus textos!! Na academia não arrancastes risos - que bom! Em compensação aqui, minha manhã ficou muito mais leve.
Beijão
Tati

Bia disse...

Sofia, partilho o mesmo medo. Só que até hoje não me matriculei na academia. Mas lembro que qdo fui fazer o teste ergométrico fiquei pensando o tempo inteiro: e se eu cair? e se eu cair? quem sabe um dia eu tome coragem e, finalmente, passe a ter uma vida menos sedentária. Seus textos são ótemos.

Jucielle Leal/Formiga-MG disse...

fiz uma aula experimental na academia semana passada e deixei para iniciar, nesta semana, a atividade física. Resultado: não fui. Adiei para o mês que vem...rs.

adorei o texto, Thiago!

abraços!

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