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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Cansei de ser honesto

Cansei de ser honesto. Daqui por diante roubarei, passarei a perna nos outros, seguirei à risca nossa famosa lei de Gérson, “levar vantagem em tudo”. Para me livrar de toda e qualquer acusação, direi apenas: sou jornalista.

Claro, isto é uma grande bobagem – a primeira parte, apenas. Infelizmente. Foi o que pensei ao assistir a retirada dos nomes de Policarpo Júnior, redator-chefe e diretor de Veja em Brasília, e de mais quatro jornalistas da CPI do Cachoeira, no final do ano passado. Policarpo relaciona-se com Cachoeira, segundo o relatório, desde 2004, atuando em favor do grupo do contraventor. Servir também “aos desideratos valorativos e às visões de mundo que movimentavam uma determinada linha editorial”, como explica reportagem de Carta Capital. A CPI pedia o indiciamento de PJr por formação de quadrilha.

Em suma, no mínimo uma séria investigação deveria ser feita, e foi, por parte da comissão. Entretanto seu resultado será nulo.

Em seu site, no texto que relata a retirada dos nomes, Veja trata o relatório como “ataques à imprensa”, “tentativa de atingir sua credibilidade”. No entanto, as dezenas de capas publicadas com denúncias infundadas, falta de provas e textos tendenciosos são plenamente aceitos em sua redação. Suposições transformam-se em fatos, e ninguém se importa com provas. As gravações com conversas entre Policarpo e Cachoeira, bastante contundentes, parecem entretanto não convencer seus editores.

O jornalista Luis Nassif, autor de ampla análise sobre o semanário, resume o “método Veja de fazer jornalismo”: Veja se especializaria em “construir” matérias que assumiam vida quase independente dos fatos que deveriam respaldá-las. Definia-se previamente como “seria” a matéria. Cabia aos repórteres apenas buscar declarações que ajudassem a colocar aquele monte de suposições em pé.

O juiz britânico Brian Levenson
A liberdade de imprensa é, sim, direito assegurado a todo jornalista. Da mesma forma, está escrito no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, muito próximo ao direito à informação: “a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas empresas”. Porém, estranhamente esta parte nunca é citada pela grande mídia que adora reclamar qualquer questionamento como “censura”.

Tal liberdade também precisa ser analisada com critério, levando-se em conta quem comanda a telecomunicação no Brasil. Basicamente, podemos dizer que seis grupos pautam o noticiário em nosso país – aí incluídos jornais, TVs e rádios: Globo, Abril, Folha, Estado, Bandeirantes e Record. Apenas a Abril, dona da Veja, detém 74 veículos, conforme o site Donos da Mídia. Toda a proposta de regulamentação é tratada como tentativa de censura, ainda que emissoras sejam concessões públicas. Enquanto isto, no Reino Unido, o juiz Brian Leveson recomenda a existência de uma lei de imprensa, após os escândalos com o magnata das comunicações Rupert Murdoch.

A grande mídia age defendendo claros interesses políticos e econômicos – todavia travestidos na carapuça da “imparcialidade e objetividade”.

Quando um prédio desaba, o engenheiro responsável é procurado. Se esquecer um bisturi na barriga de alguém, o médico sofrerá consequências. Então por que jornalistas não devem ter responsabilidades, ou pior, não podem ser investigados quando agem com má-fé? A imprensa não está acima do bem e do mal, embora goste de pensar assim, e deve obedecer às mesmas leis que qualquer cidadão. Ao escrever, o jornalista tem o dever de informar sem distorcer informações, como diz o juramento que fazemos todos os egressos desta academia. Torçamos para que assim seja.

Pedro Mox, jornalista e fotógrafo, especial para o NR

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