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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Do analógico ao digital # 1

Acabo de regressar de Portugal, onde estive por dois anos para fazer um mestrado em Ciências da Comunicação. As pesquisas com foco no jornalismo produzido para a Web permitem-me dizer que a área ainda é carente de bons estudos, e o que se vê é um grande número de candidatos a profeta e “futurologistas” baseados em “achismos” infundados. Obviamente, por outro lado, há muitos acadêmicos sérios, honestos e bem-intencionados.

Uma das coisas que mais me incomodam é ouvir no meio científico que “com a chegada da Internet, o jornalismo acabou”. Eu diria que a prática do “fazer jornalismo” ainda existe, mas a forma de fazê-lo vem mudando desde que a Internet se tornou fundamental na vida de todos nós, e para tais mudanças os profissionais devem estar atentos. Há uma enorme diferença entre dizer que o jornalismo acabou ou que está passando por uma grande mudança.

O cidadão, pouco a pouco, começou a ter mais voz ativa no conteúdo propagado na Grande Rede, e a comunicação que outrora foi de “um para muitos” passou a ser de “muitos para muitos”. Além disso, as maneiras de se transmitir notícias sofrem alterações, as atividades nas redações mudam, a linguagem muda, e as ferramentas mudam.
A Internet, como canal aberto, permite o contato imediato entre as partes que se comunicam através de fóruns e chats, por exemplo; permite a criação de blogues e websites de forma rápida e fácil; e abre espaço ao colaboracionismo e à participação do cidadão no conteúdo que é publicado (o envio de uma foto sobre um acidente, a gravação de áudios e vídeos, ou ainda colaboração com relatos textuais e comentários). Recentemente, foi criado o Blog do Planalto  e com ele uma grande polémica: a não abertura de espaço para comentários nos posts. Ao que parece, agora está tudo ok.
Nesse contexto de um jornalismo em mudança, pude perceber nos principais sites de notícias o uso constante de um recurso que começou no impresso: a infografia. Em ambiente digital, ela ficou animada, multimídia e interativa, e não seria exagerado dizer que se trata um gênero jornalístico independente. Este é um exemplo de infografia digital, meu objeto de estudo no Mestrado.
Para concluir esta primeira participação no Nota de Rodapé, gostaria de destacar outro ponto além das infografias e do webjornalismo. Tive a oportunidade de pesquisar não apenas em Portugal, mas também na Inglaterra e na Espanha, e as impressões gerais são as mesmas: chama atenção o valor que tem a educação, e o devido respeito que se dá a um professor nos três países. Certa vez, um grande amigo, professor em duas universidades de São Paulo, esteve em Portugal para um Congresso. Disse que em sua nota fiscal de um restaurante a conta veio em nome do “Professor João”, com respeitoso destaque para a palavra “professor”.

Paulo Rodrigo Ranieri é jornalista, pesquisador da comunicação no contexto digital e membro do grupo de estudos Atopos, ligado à USP. Agora colunista do Blog Rodapé. Mais: http://twitter.com/pauloranieri ou http://jornalismomultimedia.wordpress.com

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