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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Deu no Observatório da Imprensa

CAROS AMIGOS Comentários esparsos a uma bela entrevista

Gabriel Perissé

Perguntas inteligentes e pertinentes presentearam os leitores de Caros Amigos (neste mês de julho que acabou de acabar) com uma bela entrevista de Oscar Niemeyer. O arquiteto, amante da originalidade e da surpresa, e cansado de receber as mesmas perguntas, desta vez elogiou o trabalho.

Ao todo, 90 minutos de entrevista. Marina Amaral, Claudius, Gershon Knispel, Marcelo Salles, Rafic Farah e Thiago Domenici foram os perguntadores.

O respeito pelo entrevistado se manifestou de mil formas. Chamá-lo de "senhor", por exemplo, embora o próprio Niemeyer se refira, num dado momento, ao modo como Prestes, in illo tempore, reagiu a este tratamento cerimonioso: "Lembro que o Prestes foi no meu escritório, quando ele chegou de fora, eu falei: 'Senhor...'. Ele disse: "Senhor é senhor de engenho ou Nosso Senhor'." Mas Niemeyer é senhor, sim: um senhor arquiteto.

Várias perguntas sobre a arte de projetar beleza. Ser arquiteto é brincar de Deus. Arkhitéktón, em grego, é aquele que possui o dom superior de organizar as formas, criar estruturas diferentes, despertar a emoção, produzir motivos para a contemplação. Niemeyer faz um elogio ao concreto armado, às formas que dialogam com a natureza, com o mistério do beija-flor.

Dimensão política
Niemeyer valoriza os amigos. Conversar com os amigos é outra forma de produzir beleza, gerar surpresas e emoções. Levou amigos consigo, na época da construção de Brasília, para poder libertar-se da obsessão. Construir amizades é tão divino quanto edificar monumentos.
Com quase um século de vida, mantém viva a esperança. Quem trabalha sempre tem esperança. E "pra viver tem que trabalhar". Quem projeta e realiza não tem tempo para pessimismos. Seu realismo não lhe permite ilusões. No Brasil, no mundo, aplaudimos o idealista e depois vamos embora, cuidar da vida, e que o idealista se vire sozinho. Por isso o idealista precisa trabalhar.
"E Deus?" - pergunta Rafic Farah, que bem conhece o prazer de ser criativo e criador. Niemeyer, como bom comunista brasileiro, é ateu não-praticante: "Pode ser." Gosta de conversar com os padres, seu avô foi católico.
Marina Amaral enfatiza a dimensão política. Niemeyer esperava mais de Lula, mas concede que o presidente tem mantido a situação dentro de limites aceitáveis. Não atua de maneira tão revolucionária, como tantos desejariam, mas continua sendo um operário que "está aí pensando no povo".

Título da entrevista: "Um anjo comunista". Subtítulo: "Entrevista apaixonada".

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